Estava eu em Camanducaia no sabado, quando tomei conhecimento atraves do Portal da PM, do encontro do cadaver desconhecido numa vala de esgoto no bairro Jardim Olimpico, em Pouso Alegre. O B.O. falava em possivel homicidio por esgorjamento, pois o corpo de tres ou quatro dias de morte, apresentava um corte no pescoço. À distancia, sem ver o corpo e sem contatos com a pericia ou IML, tive o cuidado de noticiar o fato com uma indagação: “Aconteceu o oitavo homicidio em Pouso Alegre”?
Durante toda a semana bati à porta do gabinete do delegado Gilson Baldassari e do IML buscanco esclarecer a morte do ‘morto’. Afinal, quem é ele? Quem o matou? E porque?
Nenhuma resposta.
Ninguem sabia nada. Não se sabia sequer o seu nome. E ele foi enterrado em ‘cova rasa’ na ala social do cemiterio Parque Jardim do Céu, como indigente, numa urna precaria cedida pela funeraria de plantão que o resgatou do córrego.
Foi justamente ali que começei minha investigação. E foi uma das mais faceis que fiz em toda carreira policial. Coincidentemente o morto era conhecido de um dos funcionarios da funeraria. Em poucos minutos eu estava conversando com sua amargurada mae numa casinha simples cercada de casebres, cachorros, mangueiras e abacateiros numa curva da rua Antonio Mariosa no velho Aterrado. Dalvina Lopes dos Santos contou-me que o filho Edmilsom Lopes, conhecido por Buguinho, tinha 38 anos e desde a juventude se tornara alcoolatra. Ha anos estava entregue aos encantos e tormentos de Severina do Popote e vivia perambulando pelas ruas no bairro e imediaçoes. As vezes ficava dias sem voltar para casa. Tanto que ela chegou a construir um cubiculo de madeira para ele no quintal… assim ninguem perturbava um ao outro…. Mas era seu filho amado. Se Dalvina desistiu de curar o filho do alcoolismo, não desistiu de dar-lhe as exequias.
Buguinho fora visto em casa pela ultima vez vestindo uma bermuda preta e duas camisetas, uma preta e outra azul e costumava levar na algibeira uma laranja. Por isso, ao saber que o corpo encontrado na vala tinha estas caracteristicas, inclusive a laranja e uma latinha vazia de cerveja nos bolsos, Dalvina nao teve dúvidas. Sem ver, teve certeza que era seu filho. Na segunda feira após o fato ela procurou a delegacia de policia, o IML e a funeraria em busca de informações. Ela só queria duas providencias: Que fosse esclarecido quem o matou, se fosse o caso e sepultar os restos do filho em urna e local digno, usufruindo do plano funerario que possui.
Agora pasmem, meus queridos leitores…em todos os lugares em que a humilde senhora esteve em busca de informações sobre a morte e o corpo do filho, ela foi tratada, digamos… com pouco caso e empurrada para outros orgãos, segunda ela e a filha mais velha me contaram… – maldito status social!!! Se fosse um ‘graúdo’, um politico talvez, seus parentes cansariam de tomar cafezinhos e receber abraços e condolencias…! – … E o defunto continuou num caixão rustico e precario em cova rasa no Jardim do Ceu – do céu? – sem saber em qual estatistica figurar!!! E ficaria eternamente, pois Dalvina disse que, pelo tratamento que recebeu por onde andou, achava que o caso ja estava encerrado e teve medo de voltar aos mesmos lugares.
Mas quem matou Buguinho?
A famigerada, sensual e ‘tonteante’ Severina do Popote… Quando bebia além da conta, Buguinho ficava com as pernas bambas… quando conseguia se abster, tinha convulsoes e desmaios. Numa desta ocasiões, perambulando pelo Jardim Olimpico, pode ter caido acidentalmente na vala que dasagua no rio Sapucaí Mirim e morreu. Segundo o IML ele morreu afogado. O ferimento encontrado no pescoço, era superficial, causado por um objeto qualquer no momento da queda na vala entulhada de lixo.
Com o esclarecimento deste blog, Dalvina poderá enterrar dignamente seu filho… com duas semanas de atrazo.
E para quem gosta de estatística… Pouso Alegre vai batendo o recorde negativo de homicidios nos ultimos anos. Até agora apenas 7 manduanos bateram à porta de São Pedro em 2011.