Jeff… O Homem do Chapéu Furado

CAPÍTULO  VI

Àquela hora do dia havia poucas pessoas no saloon.

– Olá James… Me vê uma cerveja.

– Onde estavam aqueles homens xerife?

– A norte daqui, numa pedreira. Havia um esconderijo…

– Pedreira a norte? Deixe-me lembrar quem foi que falou sobre uma pedreira neste lugar. Ah, sim… foi Hobson, no dia em que foi morto pelas costas aqui no saloon.

Ao ouvir o comentário Jeff Rogers estremeceu. Procurando disfarçar o mal-estar, perguntou:

– Há quanto tempo você está na cidade?

– Há pouco mais de seis anos.

– Quem foi esse tal de Hobson que você falou? Quem era esse tal de “Caveira”?

– Mike “caveira” foi um bandido violento e sanguinário. Ele tinha esse nome por ser muito parecido com uma caveira. Dizem que ele veio do Texas aterrorizando todos que encontrava. Ele veio aqui em Carson, matou o filho do dono do estábulo e seu tio, em seguida assaltou o banco e matou três caixas e o auxiliar do xerife e fugiu. Rock Hobson era o xerife na cidade há pouco tempo e muito respeitado por todos. O xerife perseguiu Caveira e seu bando e antes que eles conseguissem sair da região, trouxe todos de volta.  Quatro vieram amarrados nos cavalos… mortos! Os outros, inclusive Mike Caveira, passaram uns dias no ‘hotel’ do xerife até serem levados para a penitenciaria. Durante o tempo em que Rock Hobson exerceu o cargo de xerife aqui, esta cidadezinha manteve-se ‘limpa’ dos bandidos.

– Como foi que o xerife Hobson morreu?

– Ultimamente uma onda de assaltos a diligências, assassinatos e terror assolava a região. Ele estava investigando sobre isso. Um dia ele saiu de manhã e só retornou ao cair da noite… Passou por aqui e ficou até mais tarde. Foi aí nesse ínterim que ele me disse…

– Disse o que? – quis saber Jeff, mal contendo a emoção.

– “James, acho que descobri todos os abutres da região num só ninho! Eles cometem os crimes e vão se esconder numa pedreira não muito longe daqui. Por isso sabem de tudo que interessa na região e surgem de repente e desaparecem após o crime. Amanhã voltarei ao esconderijo da pedreira com uma patrulha”. Essas foram suas palavras. – Narrou James.

Jeff continuou calado, esperando ouvir mais. James continuou:

– Nessa mesma noite alguns bêbados, ou fingindo de bêbados, começaram uma briga no saloon. Hobson tentou contê-los, mas não conseguiu evitar a balburdia. Em pouco tempo a briga se generalizou. O velho xerife, apesar de cansado, levava vantagem até que, partindo daquela janela, alguém descarregou um colt nas suas costas.

– Quem atirou?

– O assassino nunca foi encontrado. Mas qual é seu interesse em saber tudo isso? – interpelou o garçom.

– Por nada, nada… Mas meu… quero dizer, o xerife Hobson precisa ser justiçado – acudiu Jeff.

– Você dizia meu…?

– É…  – Embaraçou-se Jeff antes de corrigir. Seria meu superior se vivesse agora, não?

– Ah sim, claro.

– Agora me vê um whisky duplo.

– Está na mão – disse James segundos depois.

Mais tarde.

Jeff, numa cadeira de balanço, tirava um leve cochilo na varanda da delegacia quando foi despertado por uma suave voz feminina.

– Olá xerife.

– Oh, hein… Olá, boa tarde. Você deve ser a filha do banqueiro. É linda. O xerife Morrison merece uma surra por não tê-la me apresentado.

– Oh… Além de um terrível delegado você é muito galante com as palavras.

– Ora, quem não for galante diante de tal beleza, merece a forca!

– Continua galanteando! Você é mesmo terrível. Está uma bela tarde para um passeio. Pena que eu esteja sozinha e você não pode deixar seu posto – disse a jovem com sensualidade.

– Não seja por isso. Agora temos carcereiro – retrucou Jeff, subindo na charrete e tomando as rédeas das mãos da bela jovem. Aonde você quer ir? – perguntou.

– A leste daqui tem um pequeno bosque. Que tal?

– Ok. Por mim está ótimo. Você deve ter um namorado certamente. Ele não se importa que eu te faça companhia?

– Ele não precisa saber. E nós estamos brigados – respondeu Doris desabrochando um sorriso dengoso.

Pouco depois chegaram ao lugar mencionado pela jovem.

– É um lugar muito romântico – disse Jeff, prendendo as rédeas do cavalo em um arbusto.

– Há quem diga isso. Especialmente Richard, meu … ex-noivo. Ele costumava me trazer aqui de vez em quando.

Jeff, embora estivesse intrigado com o convite de Doris, pois sabia que ela era namorada de Richard, ao ouvir seu nome teve um sobressalto. O que ela estaria pretendendo? Mas já era tarde. De trás de um arbusto ouviu-se uma voz.

– Não se mova xerife!

Simultaneamente à voz ameaçadora, surgiram seis pistoleiros mascarados, de armas em punho.

– Parece que desta vez lhe cortaram as asas, não é mesmo xerife? Nada melhor do que uma linda mulher para atrair um trouxa a uma cilada, não acha?  Desarme-o! disse o que parecia ser o líder do grupo.

Jeff, que no íntimo já esperava por algo parecido, deixou que o encapuzado falasse, a fim de ganhar tempo. De repente, num movimento tão rápido quanto um piscar de olhos, fez de Doris seu escudo enquanto sacava seu colt:

– Muito bem rapazes. Afastem-se se não querem ver os miolos desta linda cabecinha explodir em pedacinhos!

– Ora xerife… não creio que você, um correto defensor da lei, faça mesmo isso. Seria assassinato à sangue frio.

– A ela poder ser. Mas vocês estão na minha frente de armas em punho… o que me diz?

– Continuo duvidando – desafiou o sarcástico pistoleiro.

Os dedos firmes do jovem agente da lei apertaram o gatilho. O projétil  atingiu o revolver na mão do desafiante fazendo-o urrar de dor. A segunda acertou-lhe o cinturão arrancando-o da cintura.

– Então hienas? Ainda duvidam?

– Você venceu desta vez forasteiro. Mas ainda me pagará… com juros.- Falou o pistoleiro.

– Já que é assim, para que o juro cresça um pouco mais, joguem suas armas no chão e desapareçam… A pé! – gritou Jeff.

Imediatamente, mordendo os lábios de raiva, os pistoleiros deixaram os cinturões caírem ao chão e se afastaram praguejando.

– Eu disse todos! – gritou Jeff, disparando seu colt na direção de uma pequena moita de arbusto da qual saiu um sétimo pistoleiro gritando e segurando a bolsa escrotal, inutilizada.

Jeff pôs-se a rir enquanto observava os frustrados bandidos desaparecerem numa curva da trilha, esquecendo-se de Doris. Quando se virou:

– Bravo Jeff, bravo! Muito inteligente… Você os fez de tolos, ridículos… como fez com o Richard. Mas comigo será diferente. Como você é um bravo, eu vou lhe dar a chance de fazer seu último pedido – disse a jovem filha do banqueiro, apontando uma pistola para o destemido delegado.

– Ora, último pedido é para quem está à beira da morte… – gracejou Jeff tranquilo.

– E o que você acha que vai lhe acontecer daqui alguns segundos?

– No máximo terei que dar algumas palmadas nesse seu belo traseiro… – disse Jeff aparentando ignorar a pequena pistola que a moça apontava para ele, e desafiou:

– Apesar de ter bastante veneno, você não seria capaz de alvejar nem a parede de um celeiro.

– Além de tudo, você é também bastante presunçoso, Jeff – disse Doris corada mais de medo do que de coragem.

Jeff estava atento aos mínimos movimentos da moça, um olho no dedo delicado dela e outro nos seus olhos, no crispar do seu belo rosto suado. Quando ela finalmente conseguiu apertar de todo o gatilho da arma, ele já não estava no mesmo lugar. Dera um passo à direita o suficiente para fugir do alvo de Doris. Em seguida avançou decidido em sua direção e tomou a pistola da sua mão.

– Reconheço que me enganei quanto à sua pontaria. Quase faz mais um buraco no meu chapéu.

– O que vai fazer comigo? Vai me fazer passar por um vexame na cidade, me pondo atrás das grades?

Ora garota, acalme-se. Não costumo levar mulheres bonitas à sério. Faça de conta que estivemos ensaiando uma peça teatral, ok. Suba. Tem gente demais nesse pic-nic! Vamos embora.

Chegando à cidade Jeff relatou ao chefe a emboscada na qual quase caíra.

– O que você acha disso tudo Morrison? Qual o motivo dessa armadilha armada por uma mulher, filha do maior banqueiro da região.

– Eu acho que ela fez isso para vingar o vexame sofrido pelo noivo…

– Mas onde ela encontrou tantos bandidos, ela, uma moça?

– Ora, na cidade e nos arredores há muitos bandidos que fariam qualquer coisa por um punhado de dólares.

– Pode ser. Mas não me convence. Acho que esse negócio de vingança, ridículo e tudo o mais é apenas um pretexto. Eles querem mesmo é me liquidar antes que eu coloque todos eles atrás das grades.

– Eles quem?

– Todos os bandoleiros que rondam Carson City. Acho que todos eles trabalham para o mesmo patrão: George e Brad.

– É possível. O que pretende fazer?

– No momento o que eu quero é molhar a garganta no saloon do James. Vamos?

 

*** A aventura de Jeff, o homem do chapéu furado em Carson City, continua na próxima quinta-feira, 20.

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