Além de ‘justiceiro’, o marido dela foi um ‘bom malandro’!
Semana passada, durante minha estadia em Pouso Alegre, estive visitando a sra. Creusa Vilas-Boas. Ela é uma daquelas ávidas leitoras de tudo que eu escrevo. “Eu sigo você, Chips, desde os tempos do Plantão Policial na Rádio Clube (inicio dos anos 80), disse ela”. Creusa foi uma das primeiras a comprar – e ler – o livro “Quem matou o suicida”. Faltava o autografo, por isso eu fui visita-la!
A visita teve um motivo especial. Creusa é viúva do sr. Moacyr Honorato dos Reis, conhecido pela alcunha de “Moacir Bocudo”, barbeiro, aventureiro e escritor autodidata – como ele mesmo se definiu – e ainda por cima… ‘justiceiro’ nas horas vagas!
Nunca fui próximo de Moacyr Bocudo, mas convivi com ele, fugi dele e ele de mim durante muitos anos! – Controverso, ele era amigo próximo de alguns policiais e persona ‘non grata’ para outros. Apesar disso, nunca tive nenhum atrito com ele e sempre nos respeitamos. Passei a respeitá-lo ainda mais quando ele publicou seu livro “Memórias de um Bom Malandro”, em 1996.
Prefaciado pelo saudoso Urias de Andrade, que, mal comparando, diz “Tal qual Jean Jaques Rousseau, Moacyr também se propôs colocar diante de seus semelhantes a verdade por inteira da natureza do homem que ele é…”. E diz adiante: “Moacyr soube tirar proveito do curso – e do decurso – que fez na universidade da vida…”.
Sem viajar nos livros escolares além do quarto ano primário, Moacyr viajou muito, nos dois sentidos. No literal geograficamente e no figurativo, nas narrativas de suas aventuras… rsrsrs! Mas adquiriu muita vivência e cultura – e, talvez por isso mesmo não teve tempo de estudar. E deixou uma obra bem interessante.
Apesar da pobreza de vocabulário, Moacir Bocudo conseguiu pintar muito bem os traços e costumes da época! Quando ele chegou à juventude, Pouso Alegre tinha cerca de vinte mil habitantes. Como registro histórico de uma bucólica e romântica época, “Memórias de um Bom Malandro” é de um valor inestimável!
Memórias de um bom malandro não foi o único feito histórico de Moacyr Bocudo… Ele incorporou também um famoso e lendário herói! Nada menos do que o justiceiro mascarado conhecido pela alcunha de “Zorro”! segundo ele próprio admite e confessa, vinte anos depois que o ‘Sargento Garcia’ e seus soldados pararam de caçá-lo ali nas bandas do “Quatro Cantos”!
Nos anos 70 um mascarado misterioso cortou na guasca muitos maridos infiéis que frequentavam a Zona Boêmia da David Campista, em Pouso Alegre. Na época, a pedido de alguns figurões da sociedade que costumavam frequentar a zona do baixo meretrício e chegavam em casa com o lombo ardendo, a policia civil passou a dar plantão na Zona para prendê-lo. Mas, como todo malandro que conhece a policia, Zorro, então na pele de ‘Dom Diego’, conhecia os policiais e portanto, saiu de cena.
A sra. Creusa pode se gabar de ter sido casada com o Zorro e com um “bom malandro”!
Muitos anos e muitas aventuras depois, passada a caçada ao ‘justiceiro mascarado’ da rua David Campista – que poderia render-lhe diversos processos por lesões corporais – Moacyr reivindicou o título de “Zorro da Zona Boemia”.
Segundo minhas investigações, há controvérsias!
Infelizmente nosso controverso herói nos deixou em 2007, antes de sentar-se ao meu piano e tentar me convencer da veracidade da sua confissão pública.
Zorro ou não, Moacyr Bocudo resgata um trecho valoroso da nossa história através do seu livro “Memórias de um Bom Malandro”.
Ah, a costumeira foto da sra. Creusa com meu livro autografado?
Fico devendo!… Ela, ao contrário do saudoso marido, é avessa às fotografias. Mas o carinho com o qual ela me recebeu em sua casa – muito próximo do palco das aventuras aqui citadas – ficou emoldurado na minha memória e no meu coração.
Ahh eu queria saber onde ela mora pra entrevista-la…. Pois em meu livro (que irei públicar em breve) estou comentando alguns trechos de Moacyr!!!!
Bom dia meu querido Joel… Me chame no privado que que lhe passarei o endereço da Sra. Creusa.
Abraços.
Onde encontro este livro meu pai Luiz alberto mais conhecido como detetive Bigode, falou muito deste livro, ele havia ganhado um em sua homenagem, mais se perdeu com o tempo, queria muito ler!
Bom dia Luiz Alberto “Bigode”!
Talvez você encontre o livro “Memórias de um bom malandro” na Biblioteca Municipal. Caso não encontre, entre em contato comigo. Tenho um exemplar e terei prazer em emprestá-lo a você.
Abraços.