– Oi tia Beth… Sua benção! E o tio como vai? Mamãe mandou um abraço pra vocês.
– Quem está falando…?
– É o Pedrinho, da Lica… De Belo Horizonte. Tudo bem? Olha tia, tô no maior perreio… Eu tava indo fazer uma visitinha pra senhora, mas o meu carro quebrou na estrada no alto da serra, perto de Itaguara. O mecânico disse que é a rebimboca da parafuseta… Ele cobra três mil e quinhentos reais para consertar! Mas eu só tenho setecentos e pouco no bolso… Será que a senhora não pode me emprestar três mil reais? Eu estava mesmo indo na sua casa. Quando chegar aí eu faço a transferência para a senhora! Anota aí o numero da conta do mecânico. Assim a senhora deposita direto na conta dele!
E a caridosa ‘titia’ do Pedrinho vai ao banco, saca suas economias e deposita na conta do mecânico de Itaguara. Mais tarde o sobrinho liga agradecendo o empréstimo, dizendo que vai chegar de manhazinha. Ou então tenta mais um golpe dizendo que o mecânico achou outro defeito e ele precisa de mais dois mil reais! Dona Tuca, a simpática titia, nem se dá o trabalho de procurar na memoria a imagem do sobrinho Pedrinho… que ela nem sabia que existia!
O golpe é tão velho quanto a media de idade das pessoas que caem nele. Geralmente pessoas septuagenárias. A policia não sabe ainda como o vigarista descobre que a vitima tem um sobrinho ou netinho com o nome mencionado. Por que não é possível que a titia ou vovozinha seja tão lerda que não saiba que não tem um sobrinho ou netinho com tal nome! Ou será que é…!?
Bem… lerdinha, espertinha, boazinha ou simplesmente distraidinha, – isso para não dizer, tolinha mesmo! – o fato é que a titia Zuca caiu no “conto do sobrinho & o carro quebrado”…
Estava ela quieta no seu canto arrumando a cozinha do café da manhã em sua casinha singela no Jardim Noronha em Pouso Alegre quando o telefone tocou. Era o sobrinho Mucio da Silva de Oliveira. Ele estava no Km 790 da MG 179, próximo de Alfenas, com o carro quebrado. O mecânico já havia dado o diagnosticado e o prognostico: Com três mil reais o carrão ficaria novinho em folha. O deposito poderia ser feito direto na conta do ‘mecânico’ Rafael L. Batista.
Preocupada com o pobre Pedrinho na estrada, com esse frio! dona Zuca mandou o marido fazer o deposito na conta do mecanico. Gumercindo, 76, saiu de casa imediatamente, andou alguns quarteirões até a casa lotérica da Silviano Brandão, sacou mil reais da sua poupança e depositou na conta do vigarista. De lá seguiu até a caixa Econômica Federal da Pça. Senador Eduardo Amaral para sacar e depositar o restante. Aí foi salvo pelo funcionário da caixa, bisbilhoteiro… Ao perguntar a ele para quem iria o deposito, Gumercindo contou a historia do sobrinho da esposa e o carro quebrado! O caixa então deu um sorrisinho sarcástico dizendo por dentro…
– Não acredito que eles caíram nesse golpe! – e abriu seus olhos…!
Gumercindo desistiu do deposito, voltou pra casa e contou a ‘descoberta’ à esposa. Só então ela se deu conta de que nem tem sobrinho com nome de Mucio! E mandou Gumercindo de volta ao quartel para registrar o golpe!
Contando assim a estória do “sobrinho & o carro quebrado” parece engraçadinha, não é?
Parece… Mas não é!
Dinheiro, especialmente nos dias de hoje, custa suor e às vezes até lagrimas!
É difícil ganha-lo… Não se pode entrega-lo de mão beijada a nenhum tipo de sobrinho… Muito menos a sobrinhos que não existem!
Conte essa estória – verdadeira, acontecida no meio da manha desta segunda, 01 de junho em Pouso Alegre – a seus amigos e parentes. Especialmente aos septuagenários… Eles são as vitimas prediletas dos “sobrinhos & o carro quebrado”!