Toda pessoa tem um mês do ano que se tornou marcante. Desde que tomei conhecimento da minha existência até o final da década de 1970, meu mês era dezembro. Primeiro descobri que nasci em dezembro. Depois soube que minha mãezinha também havia nascido no mesmo mês. Não demorou muito descobri que minha irmã mais velha também era do meio de dezembro. Mais tarde nasceu minha irmã caçula… Também em dezembro! Para fechar os fatos marcantes, casei-me pela primeira vez no final de dezembro!
Julho também é um mês inesquecível. Meus dois filhos com letra ‘d’, Diego e Daniel nasceram neste mês. Para completar, meu sogro se chama Julio! A grafia é diferente, mas a pronuncia é a mesma!
A partir dos anos 80 o mês de abril entrou firme na minha vida. Primeiro foi a chegada do meu filho Marcelo, em 81. De quebra, há dois anos, me deu a primeira nora… Também nascida em abril! Mais tarde casei com Tatiana… Nascida a 13 de abril! Dona Fatima, a babá do Daniel, está com ele desde o terceiro mês de vida, também nasceu em abril. Até parece piada… No dia primeiro! Meu primeiro sobrinho do primeiro casamento, o ‘Pesseu’, quero dizer o Mateus Almeida, nasceu no dia 16 de abril. Meu amigo Carlos Augusto, o Scooby, também é de abril… Dia 16.
Há dois anos conheci casualmente mais uma pessoa nascida em abril. Aliás no dia 16 de abril. E não é uma pessoa comum. Trata-se da senhora Luzia Francisca Marinho. Ela é alegre, simpática, agradável, vivaz, fala mansa, lucida e cheia de vida. Literalmente cheia de vida… Tem 103 anos! Conheci Luzia no asilo N.S.Auxiliadora na Vila São Vicente de Paula em Pouso Alegre na véspera do seu 101º aniversario. No dia seguinte voltei ao asilo para a festança! Uma bela festa com salgadinhos, bolo de aniversario, gente alegre e sorridente, flores, fotografias e musica ao vivo. O presente foi a aniversariante quem deu… Dançou alegremente com os convidados! Ah, se eu chegasse a essa idade com a vivacidade, alegria e disposição de dona Luzia!
Em 1980, quando eu passava na calçada de terra da Rua Com. Jose Garcia com minha caixinha de picolés do ‘seu’ Ferreira, ou pelo pasto permeado de bambuzeiros atrás da vila, Luzia já morava lá, numa das casinhas amarelas, com um pé de couve no fundo do quintal e um pé de roseira, outro de dália e uma moita de manacá na frente da casinha!
Luzia Francisca viu muita coisa acontecer. Nasceu na roça, mudou-se para a cidade, casou-se, enviuvou-se cedo e ainda jovem foi morar com a mãe na Vila São Vicente. Assistiu certamente a maior transformação da humanidade. Desde o velho carro de boi lá no Canta Galo, passando pela viagem do homem à lua até chegar ao inútil e natimorto “pau de selfie”! Viu duas guerras mundiais! Viu Getúlio Vargas provocar uma guerra civil; viu a seleção canarinho levantar 5 troféus; viu o PAFC nascer quando ela ainda era bebê, crescer e morrer muito antes delas nos anos 90! Viu o exercito colocar o Brasil nos eixos e exagerar no trato com as pessoas; viu o “partido dos barbudos” – o primeiro petista de Pouso Alegre foi Claudio Pereira, de índole bem mais pura dos que a dos atuais – chegar ao poder nas três esferas administrativas: municipal, estadual e federal! E dilapidar o patrimônio publico! E o mais impressionante: Luzia conseguiu manter a serenidade, o bom humor e a lucidez e sobreviver! E chegar aos 103 anos de existência de bem com a vida. Mora sozinha no seu singelo, limpinho e aconchegante quartinho dentro do asilo. A garra dessa criatura simples é uma lição de vida, especialmente para quem acha que a vida é feita de dois verbos: “ter & poder”!
Conhecer dona Luzia e ter sua amizade fez do mês de abril ainda mais especial! Vida longa minha amiga Luzia… Vida eterna, neste e no outro astral!