O fato aconteceu às três e meia da tarde desta quarta quente, 09 de setembro, numa mata a oeste da Lagoa da Banana no velho Aterrado.
Ao fazer patrulhamento pelas imediações o sargento Henrique e seus soldados Adenisio e Everton perceberam dois jovens com pinta de somongó entrando na mata. Desconfiados das pretensões da dupla, o trio encostou a Arca de Noé, entrou cada um numa direção e armaram a arapuca. Quinze minutos depois depararam com um deles ajoelhado ao chão cavoucando igual tatu… Com as mãos!
O tesouro que o garoto desenterrava eram 400 barangas de farinha do capeta embaladas nas tais capsulas ‘ependorf’, pouco mais de meio quilo de cocaína, prontinha para ser vendida a dez reais cada uma. Além das capsulas cheias, no buraco do tatu havia mais um saco com cerca de duas mil capsulas vazias.
Ao ver o cano frio da .40 dos policiais apontando para sua cabeça, o jovem Ramon Fonseca Machado não reagiu e nem tentou tapar o sol com a peneira. No momento da prisão o celular de Ramon recebeu mensagens do tipo:
“E aê Diou, você já pegou… Tá demorando muito”. “E aê, mano, vai rapidão, pega pa nóis”,
o que faze crer que ele era apenas o “mula” que fora buscar a droga no mato. No entanto, Ramon assumiu a paternidade da farinha e não entregou o ‘patrão’.
Já ao piano do delegado de plantão, depois de alguns minutos no confessionário com seu advogado, Ramon jurou de pés juntos que a farinha não lhe pertence e disse ainda que nem estava perto da droga quando ele foi encontrada pelos policiais.
– Eu fui lá pegar o cavalo para o meu tio – disse ele tropeçando nas palavras.
Só não conseguiu explicar muito bem porque estava com as mãos sujas de terra parecendo um tatu!
Ramon Fonseca Machado não é um “Menino que vi crescer”… Ele é mais do que isso! Ramon foi gestado na minha casa no bairro das Saude há 20 anos. Foi lá que ele engatinhou, fez xixi no chão, fez as primeiras birras, deu os primeiros passos e aprendeu falar ‘mamã’ e ‘titio’… – o pai era ausente. Eu fui a primeira figura, digamos paterna, que lhe fez bilu-tetéia, deu carrinhos e bolas de presente além das que ele usava dos meu filhos pre-adolescentes! Fui eu quem puxou suas orelhinhas e o colocou para pensar no banquinho atrás da porta quando fazia suas birras próprias da idade! Sua mãe W, que eu conhecia desde mocinha, tinha duas garotinhas em fraldas quando começou trabalhar na minha casa. Logo Ramon surgiu em seu ventre. Depois que nasceu continuar a atravessar a cidade nos seus braços a caminho do trabalho. Cresceu miúdo, mas firme e forte na companhia da mãe e do padrasto A., também meu amigo do futebol. Apesar da vida humilde e sem conforto numa casinha sempre em construção no velho Aterrado, até ontem à tarde Ramon nunca tinha feito W. chorar! – E olhe que ela chorou bastante! Desde o final da tarde de ontem até às sete e meia da manhã de hoje, quando me ligou pedindo orientação!
Ramon, 19 anos, subiu no final da noite para o Hotel do Juquinha. É seu primeiro 33. Como é primário, tem residência fixa, trabalho, ainda que de servente, e menos de 21 anos, deve pegar pena mínima reduzida de um terço. Dependendo do seu comportamento prisional poderá progredir para ao Regime semiaberto depois de cumprir um terço da pena. Ou seja; poderá voltar para casa em menos de dois anos.
Eis aí um “Menino que vi – nascer e – crescer”, cuja historia espero escrever um capitulo só!