Com tantos contos bem contados para tirar os ‘contos’ de incautas senhoras cidade afora, compulsei o ‘pai dos burros’ em busca do conto que me explicasse o “Conto do Vigário”. Aurélio, porém, não me disse muita coisa além do que eu já sabia. Na verdade disse menos. Vigário ou padre, lá pelos idos de vovó criança – bons tempos – sem gozar dos meios de comunicação de hoje, levava sua mensagem à seus fieis – ou ateus – na marra, na garganta, falando até quase ficar rouco para convencê-los a comprar um pedacinho do ceu! Quando o vigário conseguia seu objetivo, dizia-se que a pessoa que foi dobrada, que foi convencida, ‘aceitou’! ‘caiu’ no ‘conto do vigário’…! Logo, quando alguém usava a palavra para convencer o interlocutor de determinado ponto de vista, dizia-se que ela estava aplicando o conto do vigário…
Injustamente a expressão ganhou tom pejorativo e passou a ser usada para se referir ao guampudo que tira vantagem de alguém através da palavra, convencendo-o a fazer um negocio que não faria com pouca prosa!
O mais famoso dos contos é o bilhete premiado. Mas tem também o do cheque achado, o da moeda, que foi lançado outro dia e até aquele que a Helena tentou me aplicar tempos atrás…, o da entrevista premiada: A telefonista com voz adocicada de musa de inverno liga para você e diz que aquela entrevista que você deu para uma revista especializada em educação anos atrás, foi premiada e você ganhou uma belíssima coleção de livros, totalmente de graça! Só terá que pagar o frete de Joinville para sua casa, cerca de 220 reais…!
Outro dia eu ganhei um Citroen C4 Pallas, zero bala. Eu só tinha que ligar de um telefone fixo e ouvir a orientação… de uma penitenciaria estadual qualquer!
Tem também o Conto da Cadeira de Rodas no qual você não ganha nada, mas faz uma caridade, uma boa ação! È o caso da Márcia CristinaBalestra, moradora do velho Aterrado em Pouso Alegre. Tempos atrás ela saiu pela cidade de Santa Rita do Sapucaí arrecadando dinheiro para comprar uma cadeira de rodas para sua irmã Maria Aparecida, coitada, 184 quilos e sem as pernas! Quem encabeçou a lista foi o bondoso padre Joáo, com R$ 100. Quem recusa ajudar se o próprio padre ajudou com R$100! Muita gente caridosa ajudou Márcia, porém sua obesa e aleijada irmã Maria Aparecida, pesa cerca de 70 quilos e tem as pernas tão boas quanto as minhas que sou atleta e jogo futebol três vezes por semana!
Enfim, os vigaristas de plantão pessoas que tiram até chifre de cabeça de cavalo na lábia têm sempre um conto novo para tirar seus “contos de réis”.
O ultimo lançamento do Conto do Vigário, nem o meu saudoso amigo Inspetor Ângelo, que chegou à Pouso Alegre no tempo em que o também saudoso Moacir Bocudo se fantasiava de Zorro na Rua da Zona, ouviu falar. È o “conto do benzedor”…! Não, não e o caso do casal de Alterosa, que entregou o dinheiro da venda da casa para a benzedeira tirar o mau olhado que atrapalhava o relacionamento deles, não. Neste caso pelo menos o casal tinha um motivo para benzer o dinheiro… O romance estava afundando! No caso dos velhinhos do bairro Belo Horizonte, o dim-dim estava quietinho na poupança rendendo uma merreca, menos que a inflação, mas já estava abençoado, ate o benzedor bater na sua porta!
A aposentada Dolores Almeida Viana, 82 anos bem vividos, estava quieta no seu canto cuidando do marido Sebastião, de 90 anos, no bairro Belo Horizonte, quando ali chegou um simpático cidadão moreno, alto, meia idade, bem barbeado, usando um jaleco branco e ofereceu seus serviços. O sujeito amável e fala mansa disse que era “benzedor de dinheiro” e documentos contra furtos, roubos, incêndios e principalmente contra `vigarices`! Como a cidade está infestada de ratos, gatunos e vigaristas, ele propôs benzer seu dinheiro e seus documentos para que ela não fosse roubada e nem caísse num conto de vigário!
Dolores e Sebastião disseram que o dinheiro que tinham já estava bem guardado e protegido num banco! No entanto, com meia duzia de ‘171’, o benzedor os convenceu a sacar o dim-dim para ser benzido por ele, para ficar mais seguro! Foi embora e prometeu voltar na quinta feira para a cerimonia!
Vovô Sebastião ficou muito triste, pois foi ao Itaú e não conseguiu sacar suas economias. Vovó Dolores teve mais sorte! Foi à caixa, sacou toda a economia de 80 anos e foi para casa com seis pacotinhos de mil reais.
As três da tarde o simpático benzedor usando o jaleco branco, parecendo enfermeiro ou funcionário da extinta Vigor, chegou e fez seu milagre. Diante dos olhos de Vovó Dolores, ele fez sua oração silenciosa, desembrulhou os pacotinhos, respingou água benta, tornou a embrulha-los e mandou que ela mantivesse o embrulho guardado em segredo sem toca-lo durante 7 dias!
Na sexta feira a anciã abriu a sacolinha para conferir e realmente o milagre do benzedor tinha acontecido! Os pacotinhos de notas de 50 reais haviam se transformado… Em pedacinhos de papel picado!
O bondoso benzedor de fala mansa e educada, que havia prometido voltar na semana seguinte para trazer mais água benta, há uma semana havia dobrado a serra do cajuru… Com os R$ 6 mil reais da boa velhinha!
E se você meu estimado leitor, acha que somente vovós indefesas caem no conto do vigário, abra o olho! E controle sua ganancia! Conheço uma respeitável e vivida dondoca que vive de agiotagem, que caiu como uma patinha! Não satisfeita em entregar os dois mil que guardava debaixo do colchão, ela foi ao banco e fez um empréstimo bancário de R$ 28 mil para entregar de mãos beijadas a um trio de vigaristas!
O casal Dolores & Sebastiao caiu no conto do benzedor por causa da santa ingenuidade… A ‘esperta’ agiota e tantos outros incautos caem no Conto do Vigário por causa do olho grande…!