Toda vez que entrava na padaria do Jordão, durante a campanha politica, Quincas , como todo bom – e falso – candidato à prefeito – cumprimentava um por um os presentes, chamando-os pelo nome – embora as vezes chamasse Pedro de Paulo, Antônio de Antenor e Francisco de Francisley… E distribuía largos sorrisos! Enquanto isso um papagaio maroto, como todos os papagaios, andava para lá e para cá no poleiro perto da porta, observando a falsidade do politico…!
Passadas as eleições vencidas por Quincas, seis semana depois ele assumiu a prefeitura. Como a padaria do Jordão era ali perto do ‘palácio publico’, toda manhã o novo alcaide parava na padaria para o desjejum. Mas quanta diferença no comportamento! Entrava mudo, pedia um pingado e um pão de queijo, comia fingindo olhar para a TV, pagava com moedinhas que trazia já separadas na algibeira – antes das eleições pagava com nota ‘grande’ e não fazia questão do troco! – e saia calado! – tenho a impressão que conheço alguém assim! – Quando passava pela porta o maroto papagaio soltava um palavrão;
– Fiadaputa…!!!
Quincas percebia que era com ele, mas nada dizia, achando que aquilo fosse uma malcriação do louro, até que um dia se ‘queimou’! Depois de mais um sonoro “fiadaputa”, resolveu reclamar com Jordão… Pelo telefone, é claro!
– Ô, Jordão, você precisa dar um jeito nesse seu papagaio! Todo dia é mesma coisa… Primeiro ele fica me olhando com cara de deboche, depois, quando eu saio da padaria ele me xinga de fiadaputa! Isso não pode continuar! Afinal eu sou autoridade máxima nessa cidade…!
– Ahn… Sabe Quincas! É que o louro tem uma certa razão… Ele estava acostumado a vê-lo sorrindo e cumprimentando as pessoas, agora, depois que as eleições passaram você entra na padaria e não sorri e nem cumprimenta mais ninguém…! – obtemperou Jordão.
– Ah… Então é isso!? Já sei como resolver…
No dia seguinte o prefeito entrou na padaria do Jordao, abriu um sorriso de um palmo e meio, fingiu um pouco mais do que durante a campanha politica e foi cumprimento todo mundo. Depois do ‘pingado’ com pão de queijo, deu uma olhadinha discreta para o louro que andava inquieto no poleiro de um lado a outro e saiu sorrindo satisfeito. Quando deu os primeiros passos na rua ouviu lá atrás um sonoro;
– Aprendeeeeeu, né … ‘Fiádapuuuuuta’!!!