Pedintes de São Gonçalo eram “ceguinhos de araque”…

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Eles ostentavam carteira de peregrino arrastavam a bengala pela zona rural de São Gonçalo do Sapucaí – as pessoas mais simples e puras da roça acreditam mais facilmente nas historias tristes e tem mais piedade, já dizia meu amigo Sigmund Freud – se fingindo de cegos, pedindo donativos para uma instituição de caridade de Paraisopolis, até que alguém abriu os olhos e chamou a policia…

Claudio Martins, 38 anos e André Pinceli Carvalho, 33 foram presos no inicio da tarde de terça quente de carnaval, depois de desfilar pelo bairro Praião. Eles levavam na guaiaca farta papelada de instituições de caridade e de assistência a deficientes visuais e surrados santinhos de Santa Luzia, a padroeira dos cegos. Mas arregalaram os olhos quando viram as pulseiras de prata dos policiais. Levavam também R$ 78 reais e uma baranguinha de maconha…

A moeda de 1 cruzeiro foi deixada no meio das outras para dar autenticidade à tramoia...

A moeda de 1 cruzeiro foi deixada no meio das outras para dar autenticidade à tramoia…

Entre os 78 reais em cédulas vigente, havia uma moeda de um cruzeiro. Ao recebê-la em donativo, o ceguinho deve ter pensado:

Nao se esqueça, se nao tiver a foto dos ceguinhos... é falso

Nao se esqueça, se nao tiver a foto dos ceguinhos… é falso

– ‘Estão nos testando para ver se somos cegos mesmo…’ – E deixou no meio das demais, para não levantar suspeitas. Não adiantou. A prosa dos ceguinhos, se ecoou fundo no coração da gente simples e pura da roca, despertou também a argúcia do homem do campo… Que não dorme com os olhos dos outros. E os devotos de Santa Luzia foram sentar-se ao piano da delegada de plantão de carnaval da regional de Pouso Alegre.

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O modus operandi dos falsos ceguinhos de São Gonçalo do Sapucaí se enquadra no artigo 171 do Código Penal que trata do Estelionato – `Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:  Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis`.

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       Havia o agente ativo – os dois ceguinhos olho-vivo – a materialidade do crime, os folhetos das entidades assistênciais e o dim-dim arrecadado, mas faltou o agente passivo, aquele que caiu no golpe e fez seu gordo ou magro donativo, ou seja, a vitima do golpe da dupla de 171.

Esta vitima achou que seu donativo nao valia a pena ir até a delegacia para depor...

Esta vitima achou que seu donativo nao valia a pena ir até a delegacia para depor…

Por isso a jovem e zelosa delegada Stella Reis colheu a oitiva da dupla de vigaristas Claudio e Andre, ambos moradores da Rua Francisco Sales em Pouso Alegre e os devolveu para a rua, como manda a lei… Sem o dim-dim arrecadado mediante ardil e sem os instrumentos de `trabalho`

Oh, Santa Luzia, abri os olhos dos vossos devotos que querem ganhar dinhero sem pegar no cabo da enchada...!

Oh, Santa Luzia, abri os olhos dos vossos devotos que querem ganhar dinheiro sem pegar no cabo da enchada…!

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