Este é o tipo de meliante que chamamos no meio policial de “apetitoso”. Roubou uma moto 125, tentou roubar uma caminhonete e foi para outra cidade tentar roubar uma moto mais potente… com um revolver de plástico.
Quando o motoboy D.S. chegou para entregar um lanche na rua Abrilino Vieira Rios, no Jardim Olímpico em Pouso Alegre, às dez e meia da noite de quinta, o cliente o esperava no portão. Ao invez de puxar a carteira, o soturno cliente vestindo calça escura e blusa de moleton, puxou o capuz na cara e sacou um trezoitão. O endereço era só para atrair a vitima. Escudado no trabuco, o assaltante tomou a pochete com R$ 180 reais e documentos, o capacete, a motocicleta Honda Fan e de quebra levou também o x-bacon para fazer uma boquinha na viagem. E misturou-se ao burburinho da fresca noite.
Antes de pegar a estrada, o meliante parou ao lado de uma caminhonete Mitsubishi L200 que manobrava na porta de casa no bairro São Carlos, apontou o trabuco e exigiu o dim-dim. Não levou porque o motorista I.S. já estava com o motor ligado e arrancou com a possante deixando o assaltante na poeira.
Uma hora mais tarde o mesmo assaltante apetitoso encostou a motoca roubada numa outra Honda Twister na Rua da Pedra em Santa Ritado Sapucaí, mostrou o mesmo revolver e pediu a moto mais potente. Diante da ameaça, o pintor R.P. 25 anos, que levava um garupeiro, desceu para entregar a moto e neste momento percebeu que a trezoitão era… de plástico. Que desaforo!!! Encorajado o pintor tentou dominar o assaltante da arma de brinquedo e quase se deu mal. Ele tinha uma carta na manga, na verdade uma faca na cinta e rolaram na poeira da Rua da Pedra, no inicio da madrugada. Vizinhos que perceberam o guaiú chamaram os homens da lei e o assaltante de motoqueiros foi parar na DP onde disse chamar-se Leonardo Alves. Na delegacia de plantão de Pouso Alegre onde é velho conhecido, constatou-se que o meliante era na verdade Emerson Luiz Barbosa, o Dequinha, 28 anos, atualmente foragido do Hotel do Juquinha, onde cumpria pena por estupro…E para lá voltou para mais uma temporada.
Emerson Dequinha tem historia pra contar.. ou pelo eu tenho dele. Órfão de pai assassinado ainda na infância, aos 13 anos ele apaixonou-se pela erva marvada. Para os braços da pedra bege fedorenta foi um pulinho. Para sustentar o vicio, fez o que todo nóia faz; entrou no mundo dos furtos e roubos. No inicio de uma fresca madrugada de setembro de 2000 vizinhos da marcenaria do Fernando no Jardim Olímpico, perceberam uma estranha movimentação e chamaram os homens da lei. Dequinha então com 17 anos foi pilhado com a boca na botija no interior da marcenaria e levado para a DP. Depois de assinar um Procedimento Especial de Menores, como não consegui contactar nenhum conselheiro tutelar, pequei a viatura e levei o meliante até sua casa na travessa Cordeiro Olimpio no Velho Aterrado e o entreguei à sua mãe. Tão Logo virei a esquina da casa do Cirilo Bola Sete, Dequinha saiu de casa, atravessou todo o Aterrado à pé e voltou à marcenaria do Fernando. Quando a policia o prendeu horas antes, ele já havia enchido um daqueles coletores de lixo laranja com ferramentas da marcenaria e deixado do lado de fora e ninguem se deu ao luxo de olhar no carrinho. Ao voltar ao local do crime, já no final da madrugada, o único trabalho foi empurrar o carrinho cheio de ferramentas até as imediações da sua casa. Antes do sol se levantar Dequinha já havia trocado plainas, enchós, sipios, serrotes e motosseras por meia dúzia de pedras beges fedorentas com o traficante Zelão. E para completar sua façanha, jurou de pés juntos que havia vendido as ferramentas para o comerciante Pierre Jambasse. Me lembro de ver o desespero e as lagrimas no rosto do velho comerciante, que, por ter o feio habito de intrujar objetos furtados, acabou sendo processado por receptação.
Dois anos depois desta façanha, Emerson Dequinha, já com uma capivara quilométrica, ao passar pela Rua João de Barros no Foch II, encostou um trabuco na costela da jovem D.S.L. 20 anos, que voltava da escola, arrastou-a para aquele terreno baldio que separa o Foch do Aterrado e ali estuprou a estudante durante meia hora, com o revolver encostado na sua cabeça. Será que não era de plástico? Se era ou não, Dequinha está pagando pelo crime até hoje…
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que reportagem mais interessante, parabéns pelo modo de passar uma reportagem através de histórias.
Pois é, Mariza… EmersonLuiz Barbosa, o Dequinha e tanbtos outros “meninos que vi crescer’, ao longo de 27 anos de trabalho policial, me possibilita escrever desta forma. Na serie acima citada, que pretendo publicar uma apor semana, vamos esbarrar em muitas historias assim.
Abraços…