Caiu depois de mais um omelete no meu portão!

        O vandalismo juvenil tem raízes fincadas no Bullying…

       Antes de ler esta omelete sem tempero e malcheirosa, sugiro ao leitor ler a “Carta aberta ao vizinho dos ovos”, postada no dia 18 de maio… https://airtonchips.com/2013/05/18/carta-aberta-ao-vizinho-dos-ovos/

        Bem agora que você já conhece as historia dos ovos, posso ir direto aos finalmente. Depois de ler a sobredita carta meu dileto vizinho e seus amigos arrefeceram o ímpeto de fazer omelete no meu portão no inicio da madrugada. Ficaram quase três meses em jejum!… Até ontem à noite. E voltaram em grande estilo! Agora uma gang inteira! Sete vândalos e seus ovos. Desta vez não se contentaram em pintar de amarelo apenas o portão… Deram uma saraivada de ovos até no meu telhado!

       Batiam as doze badaladas ‘notúrnicas’ quando a gang adolescente chegou. Eu acabara de levar o Daniel para seu quarto e tentava fazer as pazes com Morfeu quando o fogo começou… Fomos sobressaltados pelo pipocar intermitente de objetos no portão de metal e no telhado. Por instantes pensamos que a terceira guerra mundial havia começado! Mas antes que eu saltasse pela janela com meu trabuco – ou escondesse debaixo da cama! – a rajada cessou. Nem a Lassie teve tempo de latir direito! Pelo tropel dos quadrúpedes – desculpe! – vândalos em fuga, deduzimos que o pelotão de ataque devia ter uns dez corajosos ‘soldados’.

       Mas afinal, o sorrateiro e covarde ataque omelético passaria mais uma vez impune? Não! Não desta vez. O ataque dos vândalos fora mal calculado! No momento em maltratavam meu portão o “vigilante da rua” virou casualmente a esquina… O som do seu apito costumeiro quase se misturou com o crepitar dos ovos no metal. Desta vez eu tinha uma testemunha ocular do vandalismo!

       Até que me desfiz do meu pijama de bolinha azul e abri o portão, a rua já havia recuperado seu doce silencio habitual. Até o vigilante que flagrara a cena e pensou que se tratasse de algum estúpido trote universitário ou algo que o valha, já havia dobrado a serra do cajuru cuidando dos seus afazeres, não sem antes observar o trajeto tomado por alguns dos vândalos! Só meu vizinho da frente estava na sacada de sua casa tão assustado quanto eu observando a enxurrada de claras e gemas escorrendo do portão, esperando minha reação. – Ele também foi vitima duas vezes! – A Lassie fez um dos seus mais lautos lanches com a melequeira que escorreu para o pé do portão!

       Um rápido giro de carro pelo bairro e alguns contatos depois fui bater à porta de um dos algozes do meu sono, na rua de trás de minha casa. O vigilante que me acompanhava de moto adiantou…

– Aqui mora um oficial do exercito…!

       Cheguei na frente de parte do grupo de vândalos que havia corrido na direção contraria para despistar o vigilante. Ao vê-lo comigo perceberam que a casa havia caído. O mais alto deles foi logo se entregando…

– Mil perdões minha senhora, foi uma estupidez muito grande da nossa parte… Estamos deveras arrependidos! – disse o rapaz para minha esposa.

– Vocês podem chamar um adulto da casa, por gentileza? – Disse eu ignorando completamente suas desculpas, como se tivesse acabado de comer um prato de jiló! Mas sem perder a compostura!

       Era uma festa surpresa de aniversario. Havia mais de vinte adolescentes, quase todos colegas de um – nobre e famoso – colégio da cidade. De repente começaram chegar outros garotos ressabiados que haviam debandado depois da proeza no meu portão. Depois de um longo hiato, onde se ouvia, através do portão escancarado, cochichos e movimentos de garotos e garotas como baratas tontas andando de um lado a outro da garagem, antevendo uma tempestade, finalmente o ‘adulto’ da casa apareceu acompanhado da esposa. Fora arrancado da cama pelo filho – aniversariante – aos prantos, informando que fizeram uma estupidez e que a policia estava lá fora…

        A iniciativa foi minha, já que eu, embora vitima, era o visitante. Em poucos minutos contei ao oficial do exercito e sua esposa – coincidentemente também oficiala da justiça federal – sobre a omelete que há mais de ano me causa indigestão. Principalmente sobre aquele de minutos atrás, que estava entalado na minha garganta!

       Enquanto esperava a chegada da policia militar – que não chegou até agora, pois tinha assuntos mais importantes para tratar numa noite de sexta feira de agosto cheia de festas na cidade – alguns pais foram chegando. Ao tomar conhecimento dos fatos a exclamação que mais ouvimos no inicio da madrugada foi;

– Obrigado pelo presente que você me deu no Dia dos Pais! –Diziam com vergonha e com sarcasmo cada pai.

– Não foi isso que eu ensinei a vocês… – Esbravejava uma mãe.

         “Juca”, meu vizinho quase frontal, o mestre cuca criador do exótico prato ‘omelete no portão’, não participou da festa desta sexta, 09. Mas “Tonho”, seu quase inseparável ‘garçon’, que durante, mais de ano serviu-me omelete no portão na calada da noite, estava na festa de aniversario do colega de escola “Zeca”… Foi dele a idéia – de galinha – de ressuscitar o banho de ovos no meu portão. Pouco antes da meia noite incitou o anfitrião e demais convivas…

– Aí galera, sabem aquela garota careta metida a roqueira que estuda na nossa escola! Vamos jogar uns ovos na casa dela ali na outra rua!?

– Isso pode dar bode, Tonho… E se o pai dela pega a gente?

– Que nada! É só jogar e sair correndo… Eu, o Juca e outros colegas – cérebro de galinha choca – fazemos isso direto há um tempão… Nunca deu nada! Você tem ovos na geladeira, Zeca ?

       Tinha muitos ovos brancos – felizmente frescos! E lá foi a gang para uma ‘festinha’ particular no meu portão. Inclusive uma garota, que no final apurei, é filha de uma ex-colega de faculdade. Aliás, no frigir dos ovos, excetuando o filho do casal de oficiais que está morando em Pouso Alegre há 8 meses, ela colega de trabalho de minha nora, quase todos os integrantes da gang da omelete são filhos de amigos ou conhecidos meus. Um é filho da professora da minha filha, “Tonho” é filho da professora da escolinha do Daniel, outro é filho de um amigo do face…

– Mas por que justo a minha casa? É algo pessoal comigo, com minha esposa ou com minha filha?

– Ela é estranha! Ela chamou nossa bandinha de lixo! – Deixou escapar “Tonho”, aquele mesmo que junto com o “Juca” inaugurou o restaurante de omeletes no portão no ano passado.

– Ah, então é bullying? Entendi…!

        E falando no Juca, a quem enderecei a “Carta aberta ao vizinho dos ovos”, seus pais receberão uma cartinha da DP nos próximos dias. Afinal, ele e Tonho, garoto normal, que acha que quem não gosta de funk, pagode e outros ritmos como eles, é anormal, tem uma continha a ajustar com a lei.

        Os pais e mães que foram chamados à casa do aniversariante, aproveitaram para visitar meu portão no inicio da madrugada. Parte da omelete a Lassie já havia devorado mas as marcas e o cheiro anda estavam lá. Alguns pais sugeriram que os próprios filhos tirassem a mesa e lavassem os pratos…

       Identificar os vândalos que vinham quebrando ovos no meu portão só porque acham que minha filha é diferente, foi apenas um passo na culinária social… O próximo será temperar a omelete! E ver como ela será digerida pelos pais dos garotos. No inicio desta madrugada deu para perceber que eles não gostaram do ‘prato’ preparado pelos filhos! Todos eles de berço. O que chama a uma reflexão…

        Anos trás quando apresentava o programa Direto da Policia na radio Difusora, eu costumava fazer uma pergunta em tom educativo no final do programa:

– “Onde está seu filho agora?”

      Diante do episodio dos ovos, inspirado na articulista e escritora Lya Luft, observadora e critica do comportamento social e suas mudanças – p’ra pior, infelizmente –  acho que devo reformular a pergunta para:

– “O que está fazendo seu filho, agora???