Essa fez lembrar o velho Milton “Ocrinho”…
Os saudosos anos oitenta ainda engatinhavam. Todos os meliantes da cidade tinham uma foto de frente e outra de perfil coladas numa ficha feita de cartolina amarela no arquivo da Inspetora de Detetives da 13ª DRSP de Pouso Alegre. M.M.L. era um desses. Seus grossos óculos “fundo de garrafa” brancos lhe conferiram o apelido de “Ocrinho”…! Era qualquer coisa, menos perigoso. Tinha um modo peculiar de visitar seus clientes. Era sorrateiro! Entrava nas casas de bairros classe media-alta como se estivesse entrando em sua casa e escolhia pacientemente os objetos que queria furtar. Quando surpreendido pelo morador na sala ou no quarto, tinha uma desculpa calma e serena na ponta da língua…
– Ei, quem é você? O que está fazendo aqui…!?!? Pergunta assustada a dona de casa ou empregada, levando a mão à boca, com os olhos saltando das orbitas.
– Eu sou o Pedrinho, amigo do seu filho Carlinhos… Cadê ele? – Perguntava “Ocrinho” ajeitando o óculos nos rosto para enxergar melhor a cara de susto da vitima.
– Que Carlinhos…? Aqui não mora nenhum Carlinhos, não..!!
– Ah. Desculpe… Entrei na casa errada! Tchau…
E era tchau mesmo, pois até que a dona de casa se refazia do susto e ligava para a policia Milton “Ocrinho” já havia ‘desembaçado’ dali…!
“Ocrinho” quebrou, quero dizer, morreu jovem. Antes dos 30! Salvo engano, uma das primeiras vitimas de AIDS nos idos de 80.
Alessandro Anastácio, 32 anos, apesar da cor e não usar óculos, fez lembrar o ‘modus operandi’ do “Ocrinho” ontem pela manhã…
Eram pouco mais de oito horas quando ele chegou na Policlínica do São Geraldo e foi entrando, foi entrando, foi entrando… Até chegar ao deposito de material de limpeza! Quando a faxineira Maria Tereza entrou no deposito, Alessandro estava com uma vassoura e um rodo na mão!
– Hei, o que você está fazendo aqui…!? Quis saber ela com ciúmes de suas ferramentas de trabalho.
– Eu vim pegar essa vassoura para minha mãe… – Tentou disfarçar Alessandro. E saiu de fininho.
Depois de fazer caretas para o abusado, Maria Tereza resolveu dar uma olhada na sua bolsa que costuma deixar no deposito…! Estava tudo lá. Menos seus R$ 152 reais!
A policia foi chamada e saiu imediatamente na sombra do Alessandro “Ocrinho”. Ele recebeu as pulseiras de prata na Avenida “Diquinha”, que margeia o velho Mandu. Dos cento e cinqüenta e dois reais furtados da faxineira, R$ 124 ainda estavam na sua algibeira.
Velho conhecido da policia e do código penal, Alessandro “Ocrinho” Anastácio sentou ao piano na Aisp 110, assinou o 155 e mudou-se para o Hotel do Juquinha.
… E matou a saudade do “Ocrinho”!!