Vidas sem rumo destruídas pelas drogas…. Mas que podem dar rumo a outras vidas
Desde que comecei publicar a serie “Meninos que vi crescer” no jornal Sul Mineiro em 2009, já foram quase trinta historias de final triste, envolvendo garotos que ao longo da trajetória de vida profissional vi, literalmente, crescer biologicamente… e definhar socialmente. Em poucas delas não convivi com o desafortunado e sua família.
Na historia de “Monteiro e seus quase 40 ladrões do Bagdá”, não vi o robusto comerciante e chefe de cozinha crescer, mas perdi muito sono, quase perdi a matricula no curso de Direito e corri muito perigo na estrada e nas quebradas da noite para investigá-lo e colocá-lo atrás das grades.
Em “A verdadeira historia do Beco do Crime”, voltei muitos anos ao passado entrevistando dezenas de pessoas que conviveram com o casal de jovens, pois também não conheci Jesus & Jacira, o casal “Romeu & Julieta”. Mas o romance Sheksperiano que terminou de forma macambúzia na travessa Joaquim Bernardes, nasceu e foi totalmente vivenciado na rua onde passaria, anos depois, os melhores momentos de minha infância.
Fernando da Gata é outro meliante que não vi crescer mas senti na pele o medo que ele inspirava nas pessoas e fiz seu velório na delegacia de Pouso Alegre.
O Mistério do Coisa Ruim da Borda, que considero uma de minhas melhores historias, posso até ter presenciado, em outro corpo, mas não me lembro de ter estado lá. Para desvendar o mistério e escrever a historia, entrevistei dezenas de pessoas que viram o capeta há quase sessenta anos e visitei o local das diabruras e peraltices do “Chiquinho”. Aliás, em alguns momentos pude perceber a presença dele no velho casarão carcomido pelo tempo naquele alto de serra de Tocos do Mogi. Em todas as outras historias já publicadas e outras que ainda não passei para o papel, os personagens são reais, são meninos que vi crescer ao meu redor. Crescer e se perder nas sendas do crime. Exceto Valeria.
A historia de Valeria, ouvi de sua tia Eugenia em Camanducaia. Ao ler o Blog do Airton Chips e ver a maneira descontraída e respeitosa de minhas narrativas, a enfermeira que ainda guardada o luto da sobrinha, contou-me sua historia pedindo que a transcrevesse. Contou-me apenas uma vez e ainda foi interrompida por um paciente que precisava de seus cuidados e um por amigo comum, que eu não via há mais de vinte anos. Esqueci de salvar o rascunho no notebook, mas curiosamente não esqueci a essência da historia. Pensei durante uma semana se valia a pena escrever sobre uma pessoa que eu não conheci.
Os comentários e manifestações de apreço, tais como o de Jessica, prima de Valeria, “Se todos os casos como o de Valeria fossem divulgados as pessoas teriam mais informações sobre a triste realidade de como as drogas podem destruir uma família… Nós sabemos como isso é difícil, pois vimos a Valeria se acabar e sem poder fazer absolutamente nada…”, mostram que valeu a pena. A historia da garotinha que conheceu as drogas e entrou no mundo do crime pelas mãos do próprio pai alcoólatra aos nove anos de idade, infelizmente, é semelhante à de centenas de pessoas que se perdem ainda na infância ou adolescência, por falta de alguém para guiar-lhes pelo caminho do bem. Contar suas desventuras tem por objetivo alertar os jovens, seus pais e amigos para os malefícios da sedutora droga, mola propulsora da quase totalidade dos crimes que hoje levam milhares de jovens iludidos para os malcheirosos e funestos hotéis do contribuinte. E lembrar que neste momento, um amigo nosso, um parente, um vizinho, um filho… está precisando de uma mão firme, corajosa e amiga para orientá-lo. Se não a estendermos ele cairá no abismo….