Meninos que vi crescer…
Ele foi preso quando tentava pegar 15 barangas se Cannabis Sativa de Linneu, sob a pia do Pronto Atendimento Municipal…
Eram seis da tarde do ultimo domingo, 5 de maio, quando a irritante e ensurdecedora bateção de grades começou no Hotel Recanto das Margaridas no ultimo domingo, 05. Os agentes logo concluíram… Havia alguém passando mal! – ou pelo menos fingindo para chamar a atenção! – Em poucos minutos Fabio Junior dos Reis estava na recepção do PAM preenchendo a ficha de atendimento. Queixava-se de dor nos rins!
Enquanto aguardava sua vez de ser atendido, o artista pediu para ir ao banheiro. Sem problema! Quando ele entrou no reservado o agente Luis Pereira Machado resolveu entrar junto e dar uma geral no box. Surpresa!!! Na parte inferior da pia do banheiro, preso com fita adesiva, havia um pacotinho envolto em plástico. Dentro do pacotinho 15 barangas de maconha…!!! O ‘artista’ disse que nada sabia a respeito da droga. Coincidentemente uma irmã dele trabalha no mesmo nosocômio! Coincidentemente ela o havia visitado no presídio algumas horas antes dele ‘sentir dor nos rins’!!!
Fabio Junior está longe de ser parecido com o homônimo cantor, galã de novelas dos anos 80. Mas ele também tem sua veia artística. Tem pinta… “Pinta” é seu apelido!
Até julho de 2006 adorava brincar de fugir da cadeia. Fugia quando queria! Através de tatu, através do teto, pulava o muro e dobrava a serra do cajuru. Mas não ia longe. Ficava mocosado na casa de amigos presos, na casa de uma namorada qualquer. Na cadeia toda mulher solteira – e até algumas casadas que iam visitar um irmão – arrumava um preso para namorar. Os familiares moravam no bairro Chalé, na entrada de Santa Rita, no outro extremo da cidade. Muito longe para ir à pé. Além do mais fazer o que fazer em casa? Nem adiantava procurá-lo para recaptura! Ele não saia do bairro Recanto das Margaridas… Ficava por ali, na casa de amigos. Só na casa do companheiro de ‘caminhada’ e pseudo-cunhado Vando Sambeiro, nós o recapturamos umas três vezes. Dava um trabalho danado revirar toda aquela imundice de roupas sujas, restos de comida, moveis velhos quebrados, cachorros magrelos, crianças barrigudinhas…! Cansei de subir no muro do vizinho dos fundos para cercar o muquifo. Ganhei até o apelido de “Véio do Muro”, de uma da irmãs do “Vando” ao me ver sentado em cima do muro a espera do fujão.
Numa destas fugas homéricas do Fabio Junior, depois de dois dias de procura sem sucesso, resolvemos desistir da captura:
– Vamos esperar que ele volte por conta própria! Ele sabe o caminho… – pensamos.
Dito e feito. Três dias depois sem ninguém à sua procura, Fabio Junior quase entrou em depressão! Sentia falta dos companheiros de caminhada! Não estava acostumado a ficar tanto tempo assim longe deles. Afinal, o único lugar que ele importava, que ele era respeitado por suas façanhas, por sua frieza ou por sua falta de juizo, era na cadeia. No quarto dia Pinta entrou pela horta, subiu no muro e ficou mais de uma hora sentado no muro jogando conversa fora com os companheiros do lado de dentro da cadeia. De onde estava podia ver longe. Se uma viatura se aproximasse bastava descer e voltar para o mato, ou para o muquifo dos Sambeiros. Essa ousada façanha de subir no muro para jogar conversa fora com os companheiros de grade durou vários dias até que ele ‘caiu’ do muro! Direto nos braços da lei e voltou para o lado de dentro.
Fabio Junior, o Pinta, o artista do Recanto das Margaridas, conhece como poucos os principais artigos do código penal que dão cana. Já assinou 16, 129, 147, 155, 157… Mas ele não teria tanto prestigio entre seus pares se não tivesse assinado um 121. Foi no dia 12 de maio de 2006. No final do banho de sol, os cerca de 40 presos fizeram um julgamento sumario e executaram o preso Gustavo Henrique Beraldo com 59 golpes de faca. Quase uma facada e meia para cada um. Fabio Junior foi o escolhido para assumir o homicídio. Depois de lambuzar-se no sangue do cadáver, ele pegou a lapiana, também banhada de sangue e veio entregá-la a mim…
– Fui eu que matei, seu Chips – disse como se tivesse acabado de chupar um picolé de laranja!
– Mas porque, Pinta?
– Ele queria me matar, eu tomei a faca dele e matei… Legitima defesa!
Cinqüenta e nove facadas!!! Legitima defesa…
Acabamos com a farra do Pinta na cadeia com certa facilidade: demos-lhe o “bonde”! Depois do “latão”, este era o único meio de que a administração dispunha para colocar presos ‘inadaptados’ ao sistema carcerário, onde não havia pajem suficiente pata cuidar, nos eixos. Primeiro uma transferência para Pouso Alegre… Depois para a penitenciara de Tres Corações e, se necessário, para a Nelson Hungria em Contagem.
Mas o bom filho à casa torna!
Fabio “Pinta” Junior está de volta ao Hotel Recanto das Margaridas. Fugir do presídio atualmente é brinquedo de gente grande. Agora são dezenas de agentes carcerários para cuidar do “Presídio Modelo do Sul de Minas” inaugurado com pompas em abril de 1999 – sem a minha presença! Da mesma maneira que não é fácil sair de lá sem o correspondente “alvarau” do Homem da Capa Preta, também não fácil entrar nenhum ‘kit fuga’ ou ‘kit droga’. Por isso Pinta foi buscar na rua, mais precisamente no banheiro do Pronto Socorro do hospital municipal.
Se Fabio Junior realmente tinha alguma dor na região abdominal quando chegou ao nosocômio, não sabemos. Mais quando saiu certamente tinha… Dor de barriga! E o artista, que mesmo dentro da cadeia conseguiu assinar um 121 em 2006, conseguiu assinar mais um 33… Mesmo estando preso. É façanha apenas para artistas de raro talento!!! Alguém com “Pinta”, de Fabio Junior….
kkkk
dahora esse site