O nóia curioso, o formiguinha e as estórias da madrugada…

Chuvinha fina abençoada caindo mansa às duas da manha de segunda… Um sujeito caminha com pinta de somongó pela praça Senador Eduardo Amaral, provavelmente voltando de uma ‘boca de fumo’ do Aterrado!

Os policiais resolvem parar… Talvez o moço precise de ajuda!

Na sua algibeira uma gorda baranga de crack…

João Paulo Ferreira, 27 anos, morador do Nova Pouso Alegre, conta sua estoria. Aliás, duas, com detalhes, ambas simplesinhas e difíceis de acreditar.

– Ôh, ‘seu’ policia, eu não sou traficante não! Nem nóia. É a primeira vez que eu comprei crack! Comprei de curiosidade, para experimentar!

– De quem?

– Comprei de um cara moreno, de bermuda clara, touca preta e camisa do Corinthians, na esquina da Sapucaí…! – Semana passada fui procurar um amigo lá perto e me perdi. Primeira vez que João Paulo vai ao Aterrado, de madrugada e já sabe onde fica a Sapucaí!!!

A chuvinha continuava caindo mansa e lenta na madrugada fria. A cidade dormia o sono dos justos para recomeçar a segunda semana do ano… Sem nada mais interessante para fazer na madrugada deserta, os policiais resolveram então checar a estória de João Paulo. Desceram com ele na barca, entraram pelas veredas soturnas do velho Aterrado. Na esquina da ruela Juruá avistaram o moço com touca preta e camisa do Corinthians…

– É aquele cara ali, ó… Foi dele que eu comprei minha primeira pedra de crack para experimentar – a primeira pedra a gente nunca esquece – apontou João Paulo, o ‘curioso’…

O formiguinha boêmio era Eduardo Bezerra de Lima, 25 anos, morador da Rua Sebastiana da Silva. Estava limpo.

– Tem espinho no colchão, maluco? Porque não está dormindo? O que você está fazendo na rua a esta hora? – Perguntaram os policiais.

– Tô indo ao boteco comprar uma pinga, seu guarda! – respondeu ele sem convencer – Mais uma estória da madrugada, difícil de acreditar…!

Resolveram varrer a rua sombria onde estava Eduardo. Em um buraco no muro de blocos encontraram 4 pinos de farinha do capeta. Eduardo Bezerra continuou jurando de pés juntos que não vendera droga para João Paulo e que os ‘pinos’ não eram dele.

Os homens da lei já haviam acreditado em estórias demais na madrugada fria de segunda feira. Resolveram duvidar de Eduardo e o levaram para a DP.

O delegado de plantão também duvidou. E como somente deixaria o plantão às oito da manhã e não tinha nada mais interessante para fazer, resolveu fritar os contadores de estorias da madrugada na lei 11.343.

João Paulo, o moço que foi pela primeira ao velho Aterrado no inicio de uma madrugada fria comprar sua primeira pedra para matar a curiosidade, assinou o 28. Eduardo Bezerra, que levantou-se às duas da manha debaixo de chuva fina – coitado – para comprar uma pinga no boteco, assinou o 33 … E mudou-se para o Hotel do Juquinha.

As madrugadas de chuva fina escondem estorias que até Deus duvida…!!!

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