A casinha de cangalha, construída depois que ficou órfã pela segunda vez, tem um cômodo só dividido ao meio por uma parede de tabua e duas janelas. Na parte da frente ficam um dolente fogão de lenha, um banquinho de madeira, uma mesinha e uma prateleira. Atrás da parede de madeira está a canastra onde guarda seus trapinhos – deve ter mais de vinte anos que não compra uma blusa nova – e o catre onde dorme rezando intermináveis terços e as vezes divide com uma ou outra galinha chita que entra pela janela para botar. ‘Dorme’ com as galinhas e levanta-se com os primeiros acordes do galo que precede a aurora.
Certa noite adormeceu rezando o terço. Acordou muito tempo depois, com a noite ainda escura e ficou confusa…
– Nossa senhora! Dormi demais…. O dia vai amanhecer. Cruz credo – falou consigo mesmo.
Abriu a portinha da cozinha, viu que ainda era noite, mas estava tudo claro. Não reparou na posição da lua cheia plácida no céu…
– Vou dar uma coça no galo carijó dourado. Preguiçoso! O danado errou a hora hoje de novo… – pensou.
Já havia dormido o suficiente. Colocou uma blusinha nas costas, pegou o radinho, ligou e foi catar lenha na beira da restinga do seu terreno. As duas vaquinhas amarelas e um bezerro castanho desmamado estavam deitados na sombra da velha gabirobeira e fingiram não ouvi-la quando ela passou e os chamou pelos nomes. Sentindo a brisa fresca soprando parte dos seus cabelos cor de cinza, ia ouvindo uma musica dolente no radio de pilha e juntando sem pressa os gravetos de óleo copaíba na beira da restinga. O vestidinho claro, a blusinha de lã surradinha, no mesmo tom e um pano chita amarrado na cabeça, lhe conferiam uma figura impar sob a luz prateada da lua. Lá de cima o astro cálido olhava e tentava entender o que aquela figura octogenária e solitária estava fazendo ali àquela hora da madrugada. De vez em quando a figura às vezes ereta, às vezes curvada sumia na sombra de um galho das frondosas arvores.
– Aconteceu uma coisa estranha, meu fio – conta ela – Eu catava os gravetinhos aqui e ali e ia fazendo um montinho… Quando eu ia juntar os montinhos, não tava mais lá… Aí eu olhava pra frente, tava tudo num monte só…!
– Ué, mas quem estava te ajudando, Maria?
Para continuar a ler essa historia, acesse ‘[email protected]’
Adorei essa história!!! quanta coragem essa senhora demonstrou,quanta sabedoria fiquei emocionada!
Bom dia, Elaine…
Maria é o exemplo de como viver com tão pouco e ser feliz, desde que se valorize o que se tem!
Tenha um bom fim de semana.
Abraços
Bom dia, Elaine…
Maria é o exemplo de como viver com tão pouco e ser feliz, desde que se valorize o que se tem!
Tenha um bom fim de semana.
Abraços