Operação “Santa Fé”… Estelionatário viveu mais de vinte anos por conta de padres e freiras

      Se você acha que o golpe aplicado pelo Umseteum Caralavada na secretaria da Catedral Metropolitana de Pouso Alegre, no ano passado foi bem aplicado, é que você ainda não viu o golpe do Sr. Djalma Cremasco e seu filho Willian!!! Perto deles, o golpe do “dizimista da Catedral… um golpe perfeito”, parece brincadeira de criança de jardim de infância… da APAE!!!

     Usando a boa fé de padres e freiras graduadas na hierarquia da igreja católica, pai e filho levavam vida de nababos, se hospedando em hotéis de luxo Brasil afora, bebendo vinhos finos com caviar… Até que aplicaram um golpe de 40 mil reais em um padre octogenário em terras manduanas. Não sabiam que Pouso Alegre é “curva de rio”… é fim da linha para os mais famosos e espertos meliantes do Brasil!

      O golpe, batizado pelos detetives de Pouso Alegre de “Santa Fé”, tinha três fases distintas. A primeira era conhecer tudo sobre a vida pessoal e eclesiástica da vitima escolhida. De um telefone celular, cujo chip trocava como se troca de cueca, o vigarista ligava para a secretaria da diocese e se identificava como secretario da Cúria Metropolitana de Belo Horizonte, ou algo que o valha;

– Boa tarde. Sou o padre Pedro, da Cúria metropolitana. Estamos atualizando os dados do padre diretor da sua igreja. Como é mesmo o nome dele? Ah, sim… Há quanto tempo ele está aí? Pois não… A data de aniversario dele? Ele veio de qual cidade? Ele tem familiares ai na paróquia? Ele costuma pintar os cabelos ou os conserva grisalhos? Tem problemas com obesidade, diabetes, pratica algum tipo de esporte? Pelo jeito é uma pessoa muito caridosa e bem quista pelos fieis, não é mesmo…? Em qual telefone se fala diretamente com ele..?

Ou então…

– Boa tarde. Eu sou o padre Cornélio, de Barbacena… O padre Orfeu ainda é o vigário desta paróquia?

Naturalmente a resposta é negativa.

– E quem é o atual vigário…?  O Simão? Natural de Montes Claros? Não me diga… Há quanto tempo ele está aí?

Em poucos minutos, numa rápida e despretensiosa entrevista, o salafrário sabia até a marca do desodorante que o padre estava usando e o que ele havia comido no jantar passado!!!

A segunda fase do plano consistia em ligar para o padre ‘sabatinado’, chorar as magoas e pedir para falar com ele pessoalmente, sob pena de cometer um desatino. A conversa, embora nem sempre se desse no confessionário, era em tom de confissão, o que impedia o padre de revelá-la a alguém.

Aí, acontecia a parte mais interessante, teatral, digna de se ser encenada nos melhores palcos… Pense em um dos melhores artistas da Globo! Pedro Cardoso, o Agostinho de a Grande família? Fichinha perto dele!!!! Então pense em um personagem de ficção, mau, frio, dissimulado e embusteiro. Carminha de Avenida Brasil? Quase santa se comparada com o 171 da operação Santa Fé.

– Seu padre, já tentei de tudo…  O senhor é minha ultima chance. Só o senhor pode me salvar e salvar minha família. Os negócios não deram certo. Vendi casa, vendi carros, vendi a empresa… Mas só vou receber daqui a uma semana, veja aqui os cheques – exibia um pacote de cheques pré-datados organizados com bilhetinhos ‘bom para tal dia’ em uma pasta – mas preciso pagar a divida amanhã…

Em quase todas as ocasiões ele molhava a mesa do padre ou da freira com suas lagrimas – de crocodilo… – mostrava a foto da esposa com os filhos e chorava sobre a foto já manchada – quem vai cuidar de vocês meus amores?!

Nenhum padre, nenhuma freira, todos já velhinhos e com autonomia em suas paróquias para emprestar ou socorrer seus fieis com dinheiro próprio ou da igreja resistiram às lagrimas, à chantagem emocional do confessor desesperado. Todos – e foram centenas Brasil afora nos últimos 20 anos – emprestaram dinheiro ao Sr. Djalma Cremasco, natural de Bauru-SP, nascido em 24-11-57. Ele tinha 4 CPFs e para dar maior credibilidade à sua prosa e facilitar o transito usava um Fiat Punto branco, adesivado com nome de empresa fictícia…

O estelionatário era tão ousado que em alguns casos, depois de embolsar o dinheiro do padre, ligava, dias depois para sondar o ambiente, perguntando, ainda choroso, como estavam as coisas. Se sentisse segurança, dizia que o dinheiro tomado emprestado não fora suficiente para saldar a divida e pegava novo empréstimo com a mesma vitima…

Em alguns casos, Djalma levava três ou quatro dias para ‘emprestar’ o dim-dim do padre e extrapolava na encenação. Se apresentava ao religioso como um velho conhecido;

– Padre Antonio! O senhor está lembrado de mim? Eu sou o Álvaro, marido da Natalia… Aquele gordinha que senta sempre no segundo banco da igreja nas missas do senhor! Lembra? Para Natalia é Deus no céu e o senhor na terra!!! O senhor fez o nosso casamento, lembra?

Lisongeado, o velho padre, geralmente solitário, conjecturava feliz…

– … Então eu tenho um amigo que segue meus passos há vinte anos…!!!

No segundo dia, mais uma massagem no ego do padre, mais uma lufada de confetes e o 171 passava às confidencias.

No terceiro dia chegava cabisbaixo, quase chorando, contava dos negócios que deram errado, do dinheiro que tinha para receber…

No quarto dia, ia direto ao assunto! Só tinha o padre Antonio a quem recorrer. Se o bom padre não lhe emprestasse o dinheiro, seria seu fim… e da gordinha Natalia e seus filhos que fizeram a primeira comunhão com ele…!?!? Mas prometia pagar religiosamente o empréstimo na semana seguinte, assim que compensasse um dos cheques da ‘empresa’… E ainda daria o troco para a igreja!

A confiança adquirida em três ou quatro dias de confissões e chorumelas era tamanha, que um dos padres, de bengalinha, com dificuldade para preencher os cheques, pediu a ele que os preenchesse e os assinou em branco…

Algumas vitimas ligavam para o banco na presença do estelionatário autorizando o pagamento do cheque que estava emitindo, citando o valor do cheque e o seu nome! Tirar doce de criança cega era muito mais difícil. Os padres e freiras que caíram no golpe, envergonhados com a própria ingenuidade, jamais recorriam à justiça.

Djalma Cremasco está nesta rendosa profissão desde os anos 80. Nos últimos anos, ensinou e inseriu no mitier o filho Willian de Carvalho Cremasco, nascido em abril de 81.

Há dois meses o estelionatário passou por Pouso Alegre, hospedou-se nos melhores hotéis, comeu e bebeu do bom e do melhor e levou R$ 40 mil reais do Monsenhor Damásio  nome fictício, para preservar o verdadeiro e bondoso religioso de 84 anos. Daqui Djalma seguiu para Três Corações, Varginha, São Lourenço, Juiz de Fora, Barbacena… Desta vez levou no rastro três detetives da delegacia regional de Pouso Alegre que já estavam na sua sombra.

A carreira de um dos maiores astros da encenação criminosa que já pisou terras manduanas foi interrompida graças a indignação de uma gerente de banco. Ao se dar conta que o Monsenhor havia sido ludibriado, ela ligou para ele se colocando a disposição para ajudar na investigação…

– Não, minha filha, não vale a pena se desgastar com isso. Vamos deixar nas mãos de Deus – Respondeu o sábio velhinho quase chorando.

Mas a gerente não de seu por vencida. O salafrário não podia ficar impune. Enganar um bom cristão daquele jeito!!! Ela tinha que fazer alguma coisa… Ligou para o sobrinho do Monsenhor. Foi ele, o sobrinho que procurou a delegacia de Policia de Pouso Alegre e desencadeou a investigação que levou à prisão do criminoso.

Que ironia!!!  Um dos maiores criminosos do país, que tem como arma, a lábia, o 171, mordeu a própria lingua, experimentou do próprio veneno, caiu na lábia do investigador. Depois de pesquisar bancos de dados pessoais de todo país, finalmente o detetive conseguiu a fotografia do estelionatário junto ao DETRAN do Paraná. O Monsenhor a reconheceu.

– Senhor Djalma, existe um B.O. de acidente de transito contra o senhor na minha delegacia. Preciso que o senhor venha até aqui esclarecer isso… – disse o detetive.

Acostumado a viajar tanto e se envolver em tanta maracutaia, o estelionatário não se lembrava de tal acidente, mas como o policial sabia seu nome, seus dados e seu telefone, melhor atender. A partir daí a policia mineira não desgrudou mais os olhos do meliante. No dia 10 de julho ultimo, Djalma descobriu que foi um erro entrar no Estado de Minas.

Seguindo orientação dos detetives manduanos, o detetive Eduardo Rampazzo, ex Pouso Alegre apresentou as pulseiras de prata ao finório, na fila do banco na cidade de Lavras, tentando descontar um cheque de R$ 5 mil reais de uma freira de 85 anos.

Djalma, o estelionatário que há mais de vinte anos roda o Brasil se confessando com freiras e padres idosos e graduados, levando o dinheiro deles ou dos fiéis, tinha contra eles vários mandados de prisão preventiva. Aliás, foi o que garantiu que ele ficasse atrás das grades, pois o flagrante de estelionato, coisa rara de acontecer com estelionatários, seu advogado quebrou em menos de 24 horas.

A pena para este tipo de crime é pequena, de 1 a 5 anos de cana e existem pouquíssimos estelionatários na cadeia, mas, se somarem as centenas de penas, pode ser que o finório que viveu os últimos vinte anos por conta de padres e freiras, passe os próximos vinte por conta do contribuinte. Tudo porque veio aplicar o golpe em terras manduanas e uma gerente de banco ficou indignada com sua covardia…

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