A noticia da morte banal do meliante Adriano Carlos do Carmo, vulgo “Já Morreu”, na ultima quinta, 17, surgiu dentro do Fórum Orvietto Butti. Nasceu na boca de um advogado e me foi trazida pelo meu ‘editor’ chefe. Partindo de quem partiu e onde partiu, não havia porque questionar. Além do que, não havia tempo, pois em poucas horas o jornal iria para o prelo.
Tão logo a noticia circulou, recebi um email comentando que “Já Morreu” estava vivinho do Carmo, vivendo a vida que pediu à Deus, nas confortáveis e limpas dependências do prédio do Regime Fechado da APAC.
Não esperei a segunda feira para checar. Fui ontem mesmo confirmar a ressurreição do ‘menino que vi crescer’ nas quebradas do mercado, nas pracinhas da rodoviária, debaixo da ponte, nas imediações da Catedral, brincando de se afogar no Rio Mandu, no velho hotel da Silvestre Ferraz…
Era dia de visitas. Manha de sol tímido. Pequenos grupos de recuperandos sentados no pátio interno. Uns abraçavam a mãe, outros a namorada, outros conversavam com amigos. Alguns, sem parentes ou amigos, buscavam a companhia do silencio ou de um livro. Não parecia presídio.
Sentado atrás de uma mesa, cercado de livros, na entrada do auditorio/biblioteca, Já Morreu desenhava pacientemente uma carta à sua “mina”. Está apaixonado! De camiseta vermelha, semblante alegre, puro, cercado de livros religiosos, parecia muito mais um seminarista do que um preso cumprindo pena por trafico. Sem tirar o papel da mao Já Morreu falou um pouco da ‘caminhada’. Diz que tem oito irmãos. Apenas um segue seu caminho torto, mas tem alguns do outro lado da lei, na policia paulista. A mãe se foi há dez anos. O pai, não conheceu. Tristezas?
-Ih… teve tantas!
Alegrias?
– Não lembro de nenhuma! Tenho 33 anos… desde moleque vivo na rua, debaixo da ponte…
– Na APAC ‘ta bom. Quando sair quero arrumar um emprego…
Apesar da manha alegre e ensolarada – e movimentada na APAC – Adriano Já Morreu estava reticente. Também, para quem ‘morrera’ na quinta feira….!?!?!
Excetuando o 121 da adolescência, o 33 avião de três anos atrás e o furto do cálice de ouro da catedral ano passado, os delitos de Adriano são pés de couve. Breve ele deixará a vida regrada e mansa da APAC e voltará para o lar-amargo-lar debaixo da ponte.
Será que sua nova paixão – a musa da carta para quem ele escrevia – lhe dará um novo rumo na vida? Ou ele voltará a ser noticia policial?
O que mais me chamou a atenção nesta foto, foi os cartazes, com dizeres muito bonitos, porém certamente as pessoas tão humildes que frequentam o local, não devem entender o significado.
kkkkkkk eu e meu esposo morremos de rir da carta pra mina kkkkkkk