Os peões e o promotor de Silvianópolis

Se fosse hoje a camareira teria sido processada

Tanque, cartão de visita e de diversão de Santana.

Durante as obras do asfaltamento da estrada que liga o município de Silvianópolis ao vizinho município de Turvolandia, no final da década de 1980, os funcionários da empreiteira ficaram hospedados na Pousada do Tanque, uma das duas pensões da cidade, – a outra estava em reforma – bem perto do famoso Tanque da velha Santana do Sapucaí.

Naquele mesmo ano um jovem promotor de justiça, afrodescendente, foi designado para trabalhar no fórum local. Enquanto não se mudava para a Comarca, o promotor também se instalou na pensão, única disponível. E se arrependeu!

Sem opções de lazer na velha e pequenina Santana do Sapucaí, e habituado aos estudos, depois do expediente no fórum, o promotor gastava seu tempo debruçado sobre os livros em busca de mais conhecimentos. Mas só depois que os peões dormiam…!

Já os peões, depois de um dia inteiro de trabalho pesado, procuravam relaxar nos braços de Severina do Popote e jogar conversa fora na pensão até a hora de dormir. Quando se levantavam de manhazinha, ninguém mais dormia na pensão, tamanha era a balburdia que faziam na hora do café da manhã.

O jovem, introspecto e sisudo promotor, que só pegaria no expediente no fórum depois do meio dia, não se levantava, mas  ficava rolando na cama até que os peões saíssem para o trabalho, Só então voltava para os braços de Morfeu para completar o sono. Por conta disso o mui digno RMP, que chegara já pensava na possibilidade de uma transferência para outra Comarca, antes mesmo de criar raízes na velha Santana.

Igreja Matriz de Santana

Um fato hilário veio corroborar sua decisão…!

Numa bela manha veio trabalhar na pensão uma nova camareira. Apesar de experiente, ela não conhecia todos os hospedes. Depois de servir o café da manhã para a peonada e lavar os ‘trem’ do café, Jurema foi arrumar os quartos. De repente deu de cara com o promotor enrolado nos seus lençóis, nos braços de Morfeu. Simples como ela só, e querendo ajudar o hospede, sacudiu os lençóis, bateu no ombro do promotor e foi dizendo:

– Acorda negão!!! A sua turma já foi p’ra estrada faz tempo!!!

… Ele acordou mesmo!

Aquele foi seu terceiro e último dia de trabalho em Silvianópolis. O fórum ficou várias semanas sem um mui digno RMP, até que um novo fosse designado para substituir o promotor que fora confundido com os peões da obra da estrada de Turvolândia!

Tempos bons aqueles em que o cidadão tinha liberdade de expressão! Tempos em que “Negão” era apenas uma forma carinhosa de chamar uma pessoa querida ou conhecida. Se fosse hoje, a espevitada camareira seria chamada na chincha e levada às barras dos tribunais por crime de racismo!

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