Eram onze da manha desta segunda, quando o diarista Z.M. 54 anos, foi abordado na Duque d Caxias, próximo ao mercado municipal. O sujeito branco, meia idade, estatura mediana, decente e humildemente vestido, usando chapéu de palha, parou na sua frente e perguntou com sotaque meio caipira:
– O sinhor pode me informar onde fica a caxa conomica federar…?
Estavam muito perto dela, mas o jeito acanhado e simplório da pergunta e do caipira, fez o diarista parar no passeio e virar o corpo para indicar o prédio da Caixa E. Federal, logo depois da esquina do mercado. Foi o tempo suficiente para mais alguém querer ajudar o moço… De repente, do nada, um cidadão de quarenta e poucos anos, ligeiramente obeso, moreno claro, usando calça social e camisa azul clara de manga comprida abotoada nos punhos, parecendo um pastor evangélico, com pinta de bom samaritano se intrometeu na prosa…
– O senhor está procurando a Caixa Econômica Federal? Eu estou indo para lá. Posso ajudá-lo?
-…Intão! Eu to com um biete aqui… – Olhou ressabiado para os lados, como se estivesse sendo vigiado e completou:
– … É da quina, parece que é 930 mir… A mocinha da casa lotérica falô que eu tenho que abrir conta na caxa e depositá quatro mir pra podê sacá o premio…
O sujeito com pinta de evangélico ou contador logo se interessou em ajudá-lo e foi puxando-o para um lado da rua, de menor movimento.
-… Mais este moço já tava ajudano eu… – Se referindo ao diarista que indicara o prédio da Caixa.
Mais que depressa, Finório, o obeso bem trajado, puxou o diarista também para seu lado e quis saber mais detalhes do bilhete premiado.
– Pois intão – disse o simplório de chapéu de palha – Eu tenho que abrir uma conta na caxa e depositá os 4 mir. Mais eu não tenho esta quantia. Eu vinha matutando cumigo, “se o gerente num dexava eu sacá o dinheiro sem fazê o deposito… Eu dava um gorgeta p’ele”.
– Nada disso! Não se pode confiar nesses gerentes de bancos! Dá uma gorjeta pra mim e para o amigo aqui – disse o gordo de cara rosada batendo nas costas do diarista.
-Nós vamos arrumar para você os quatro mil. Quanto você pode nos dar de gorjeta …?
– Bão, o premio é 930 mir… Eu dô 20 mir para cada um, tá bão…?
– Para mim está ótimo. Eu só tenho que ir ao banco sacar os dois mil… E você amigo? Você tem este dinheiro com você? – emendou o finório perguntando ao diarista Z.M. qual era seu banco.
A esta altura do engodo, quero dizer, do campeonato, os olhos do diarista só viam cifras, já pensando no que poderia fazer com os R$ 20 mil caídos de pára-quedas em seu colo… Teria que trabalhar mais de vinte meses para ganhar isso.
– Vamos comigo então ao banco. Eu também tenho conta no mesmo banco seu – Atropelou Finório, puxando o diarista e Simplório para o interior do seu carro preto que estava a poucos metros dali.
Desceram ao banco no final da Dr. Lisboa. Enquanto o diarista esperava na fila para sacar seus dois mil reais, Finório foi ao caixa eletrônico. Entraram no carro de Finório, juntaram os R$ 4 mil e entregaram ao moço do chapéu de palha e rumaram para CEF.
Quando passavam próximos a uma farmácia na Praça Senador Jose Bento, Simplório, o homem do chapéu de palha, disse que estava passando mal e pediu para o diarista, que estava no banco da frente descer e comprar um remédio para ele. Quando colocou o pé na porta da farmácia, Z.M. resolveu olhar para trás… Ainda teve tempo de ver o sedam preto atravessando o sinal fechado e sumindo atrás da curva da Catedral, levando Simplório & Finório e seus R$ 2 mil reais.
Nem de criança dormindo se toma a chupeta fácil assim…
Este golpe existe desde que minha avó andava de bicicleta lá na estradinha poeirenta dos Coutinhos. Acontecem quase todo em cidades do porte de Pouso Alegre. Apenas alguns casos vem à tona, pois a maioria dos Z.M. que caem no golpe, morrem de vergonha de pedir providencias para a policia e quando pedem, narram o engodo pela metade, dificultando ainda mais o trabalho policial. Nunca vai acabar, pois sempre haverá alguém querendo ganhar uns trocados sem fazer força…