Ciclista atropelado no Aterrado era benzedor

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O trágico acidente aconteceu no meio da tarde desta segunda, 17, na Avenida Vereador Antônio da Costa Rios no Aterrado em Pouso Alegre. O ciclista, então desconhecido, inexplicavelmente se atrapalhou e caiu da bicicleta debaixo de um ônibus que passava pela avenida. Não houve tempo de frear. As rodas atingiram parte do corpo e a cabeça, fazendo-a explodir. De um segundo para outro o ciclista sem documentos nos bolsos estava morto, estendido na pista quente da avenida. Antes que uma alma bondosa providenciasse um lençol para cobrir o corpo, dezenas de celulares registraram a cena, até certo ponto macabra! Em poucos minutos as fotos do cidadão com a cabeça esmagada, com os miolos espalhados na pista, correram as redes sociais!
No crepúsculo da mesma segunda feira, já identificado por familiares, o corpo do ciclista foi submetido a exame de necropsia no IML de Pouso Alegre, como de praxe, e liberado para a família. Era Sebastião Rodrigues da Silva, 70, morador da ultima casa da Rua Joao Sabino de Azevedo no velho Aterrado.
O corpo do Sr. Sebastião foi velado, em caixão aberto, por algumas horas na funerária Ferracioli e ainda na segunda foi levado para ser velado e sepsultado na cidade de Silvianópolis, sua cidade natal, onde moram seus parentes.
Mas depois de ter a cabeça esmagada, como mostraram as fotos em milhares de celulares, foi velado em caixão aberto!?
Sebastião Rodrigues da Silva era uma daquelas pessoas que seguem à risca o ensinamento cristão: “fazer o bem sem olhar a quem”! Ele era ‘benzedor’! Dezenas, centenas de pessoas já receberam sua benção e tiveram suas dores físicas e ou espirituais aliviadas. E até curadas! Há cerca de quatro anos, Sebastião frequentou o Pronto Atendimento do bairro São Geraldo para tratar de um ferimento na perna. Na ocasião ele recebeu os cuidados da Tecnica de enfermagem Cida… Numa dessas ocasiões Cida se queixou que tinha uma terrível e crônica dor de cabeça que a acometia com frequência. E Sebastião perguntou…
– Voce acredita em benzimento, minha filha?
– Sim. Claro…
– Então eu vou benzê-la!
Desde então, Cida nunca mais “tomou Doril”… Mas “a dor sumiu”!
Sebastião Lumumba de Melo foi jogador de futebol profissional. Jogou no Alfenense, Manhuaçu, e vários outros clubes da Segunda Divisão do futebol mineiro nas décadas de 60 e 70. Paralelamente à profissão de jogador exercia também a função de auxiliar de necropsia. Em 1984 ingressou formalmente na Policia Civil como Auxiliar de necropsia. Há seis anos, com a extinção da sua profissão dos quadros da policia, foi promovido a Detetive. Depois de quase quarenta anos cortando mortos para serem examinados pelos legistas; costurando e muitas vezes emendando e reconstruindo cadáveres para entregá-los apresentáveis aos familiares, Lumumba contraiu uma tosse crônica que nem barris de xarope resolviam. Por isso, também, decidiu pendurar as chuteiras do IML e foi trabalhar na nova profissão na Aisp 110ª como investigador de policia. Um belo dia, estando na companhia da esposa, a enfermeira Cida, no centro da cidade, encontrou Sebastião Rodrigues da Silva, o Benzedor!
– Este é o Sr. Sebastião! Aquele que me benzeu e curou minha enxaqueca, lembra Lumumba?
Apresentados os xarás pegaram de prosa. Logo a tosse deu seus sinais de vida. Em meio à rapida conversa, entre uma tossida e outra, Sebastião Lumumba contou à Sebastião Rodrigues que a tosse antiga, provavelmente contraída abrindo túmulos, pretendia leva-lo para o tumulo! Sebastião Rodrigues, humilde e solicito então repetiu a clássica pergunta;
– Voce acredita em benzimento, meu filho?
– Claro! Ainda mais depois que a Cida parou de ‘chorar’…!
E ali mesmo na beira da rua, encostado numa banca de jornais, o velho benzedor fechou os olhos, conversou’ por alguns instantes com Deus, fez alguns gestos no corpo de Lumumba e, Alacaziu… A tosse sumiu! Agradecido Lumumba disse o tradicional “Deus lhe pague” sem imaginar que um dia poderia ter a chance de pagar, pessoalmente! Se despediu e nunca mais tossiu! E nunca mais se viram…

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Recentemente o IML de Pouso Alegre recebeu duas novas medicas legista. Desde então foram feitos alguns ajustes e inovações no órgão para melhor atender a população. Sebastião Lumumba, há seis anos afastado das necropsias e exumações, pela sua longa experiência, foi chamado de volta. Era só um convite. Ele não era obrigado a aceitar. No entanto, após avaliar as mudanças no órgão, decidiu aceitar o convite, sem contudo deixar suas atividades de investigador. Aliás, no IML se investiga tanto quanto em qualquer outro setor de investigação da policia. Os corpos inertes e muitas vezes dilacerados falam… E tem muitos segredos para contar! Qualquer policial que se interesse e disponha a ouvi-los, desvendará muitos segredos que, de outra forma, serão levados para o tumulo!
No final da tarde da ultima segunda Lumumba foi chamado para mais uma necropsia no IML. Deixou seus afazeres na Aisp 110ª e foi para seu antigo mitier. Não sabia quem era a vitima da vez. Sabia apenas que era um senhor vitima de atropelamento, totalmente desfigurado pelas rodas de um ônibus no Aterrado. O estado do corpo era lastimável. Irreconhecível! Um leigo não daria conta de reconstruí-lo! Mas Lumumba já fizera isso dezenas, centenas de vezes sem jamais ter ideia de a quem pertencia o corpo, como agora. Fazia por respeito aos mortos, por consideração aos familiares, por amor à profissão muito embora a obrigação seja apenas refazer os cortes necessários para exames. Fazia pelo prazer de ser útil…!
Terminada a necropsia no atropelado Lumumba usou todo seu talento para reconstruir o corpo. Limpou, lavou, enxugou, emendou, costurou, e quando finalmente olhou de frente para o morto, reconheceu… Era o xará Sebastião Rodrigues, o benzedor! Aquele mesmo que havia curado a enxaqueca de sua esposa Cida e meses depois, na beira da rua perto de uma banca de jornal havia benzido e curado sua tosse crônica! Se não tivesse usado toda sua experiência em reconstruir corpos dilacerados sobre a mesa do IML, não teria sequer reconhecido o bondoso benzedor! Emocionado finalizou seus trabalhos e entregou o corpo do amigo à funerária. Aquela imagem que circulara pela internet causando espanto e repulsa nos curiosos, não existe mais. Familiares e amigos que acompanharam o velório do bondoso benzedor puderam ver, além de sua fisionomia cândida, apenas uma discreta cicatriz na testa.
Quanto ao auxiliar de necropsia? Bem, Lumumba deve ser descendente de Rowan… Por isso é um profissional capaz de levar uma “Mensagem à Garcia”!

 

1 thoughts on “Ciclista atropelado no Aterrado era benzedor

  1. Boa tarde, Aírton.
    Recentemente recebi um pedido de adicionar um conterrâneo e amigo de juventude em meu face.Éramos amigos constante.
    Jogávamos a nossa “pelada” no campinho de nossa casa, onde tínhamos com frequência a presença dele conosco.
    Depois fui estudar em Juiz de Fora, mas sempre indo à minha cidade natal. Formei em JF e a vida me levou para Piracicaba, SP, onde constituí família. Mais tarde fui para Brasília, por pouco tempo e agora em Passos, MG.
    Tentei entrar em contato com ele, mas não foi possível.
    Á procura dele, me deparei com o nome dele através do Google, li a sua reportagem.
    Se tiver a oportunidade de encontrá-lo, diga que gostaria de falar com ele. Como tomamos rumos diferentes de pois da nossa cidade natal Manhuaçu, nunca mas nos encontramos.
    Fiquei muito feliz em aceitá-lo pelo face.
    Trata-se de Sebastião Lumumba (que naquele tempo, chamávamos carinhosamente de criolo).
    Grande pessoa e grande craque de futebol. Se tiver oportunidade leve o meu abraço a ele.
    Marcos

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