Uma caminhada para ficar na historia…

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      Eram oito e quarenta e cinco da noite de quarta, 18, quando vinte oito pés começaram se mover para a longa viagem! Seriam milhares, milhões de passos até chegar ao destino a cento e cinquenta quilômetros dali. Catorze corações batendo forte, emocionados! A maioria já antevendo a chegada três dias depois… Outros, sem saber até onde suas pernas os levariam…… E la fomos nós. Caminhando, cantando, rezando, brincando, contando historias… Contando estrelas. Flertando com o sorriso da lua que veio nos espiar de madrugada. Quando os primeiros clarões gelados do novo dia começaram iluminar o céu, estávamos chegando a Paraisópolis. Já não eram mais catorze pares de pés levantando a poeira da estrada: Bruno havia ‘pedido água’. Cristiano também.

– Não tô aguentando… Dói tudo! Meus pés estão cheios de bolhas – disse ele, para fazer quase toda a viagem no conforto do Montana!

Cristiano também:

– Vou dar só uma ‘descansadinha’… É já que eu desço do carro – Dissera ele antes do Itaim. E não desceu mais!

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Foi a aurora mais gelada que vi surgir desde 1977, quando vi tantas surgirem nas guaritas do exercito. Depois de uma parada de meia hora no rancho da igrejinha na baixada foi preciso usar todo o estoque de luvas, toucas ninjas e cachecóis para não gelar as mãos, nariz e orelhas…

Este ano não precisamos desencalhar carros na estrada. Não choveu, embora a chuva tenha rondado a serra na chegada de Sapucaí Mirim. A neblina foi tão densa em Santo Antônio do Pinhal que fez lama na chegada da estação Lefreve e espantou os turistas. A estação quase perdida no ‘fog’ ficou só pra nós. Na “Pousada Champetre” em Piracuama demos boas gargalhadas. Mas nem todos chegaram lá com as próprias pernas. Japão e Tiago Cobra foram se juntar à Bruno e Cristiano no conforto das caminhonetes. As bolhas e tendinites não permitiam que eles colocassem os pés no chão. Na reta final da caminhada, parcialmente refeitos dos calos, tendinites e dores musculares, todos puseram os pés na estrada, literalmente, até Bruninho! Em Moreira Cesar, com a orelha ardendo por causa do ‘aluguel’ dos companheiros saiu do casulo e resolveu caminhar. A única baixa total este ano foi a desistência do silencioso Anderson, em Paraisópolis, segundo ele, por causa da filha. Ao ouvir sua voz da menina entre lagrimas:

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– Volta logo papai…! – ele não resistiu, fechou a mala e embarcou no Gardenia, de volta para casa.

A cada ano a romaria tem uma característica marcante. Em 2012 a chuva fina nos durante quase toda a viagem, criando um clima surreal, quase magico durante as madrugadas. Indescritível a sensação de sair do conforto de uma aconchegante pousada no meio da noite e iniciar uma caminhada debaixo de chuva fina! No ano passado o que mais marcou foi a solidariedade… Se não passássemos pela Serra do Itaim no meio da madrugada, aquele casal teria passado a noite atolado na lama e no gelo ali! Este ano, além de pequenos detalhes, ninguém vai esquecer a performance do Cristiano. Depois de receber no ano passado a placa pela 10ª caminhada, ele resolveu ir ‘passear’ de carro com os amigos este ano. Antes do Itaim ele se acomodou no conforto da Hilux e foi dormir. Toda vez que o alcançávamos na estrada ele reclamava para o Nilton…

– Se você não trocar essa caminhonete por uma mais nova e mais confortável, eu não venho mais! – Dizia ele serio. Nos últimos quilômetros desceu e caminhou até a Basílica.

– Minha esposa está me esperando lá… Se eu estiver limpinho e perfumado, ela vai duvidar que eu fui andando!

Antes porém, ao falar com a mãe ao telefone…

– Não mãe, este ano a caminhada está muito boa! Não tive calo e nem dor nas pernas…

Pousada Champetre: Um dos momentos mais alegres da caminhada...

Pousada Champetre: Um dos momentos mais alegres da caminhada…

O bom humor e a superação foram marcantes em 2014! Eram cinco marinheiros de primeira viagem: Luciano Reis, Diego Matos, Tiago Cobra, Bruno e Japão. Os três últimos, apesar de uma pequena carona, fizeram quase toda a viagem à pé. Diego precisou trocar sete pares de tênis, mas não pediu agua. Luciano “Ruivo” usou ‘microporos’ como meias mas não tirou os pés do chão…!

Se tivéssemos que eleger o momento mais alegre da viagem, eu escolheria aquele no trevo de Roseira, a nove quilômetros do destino; 15 romeiros espalhados no chão na beira da estrada, contando piadas e comendo o ‘rei dos lanches’: “pão com mortadela” e guaraná Tubaina! Foi o momento oportuno para conferir alguns títulos aos colegas de peregrinação!

Alguns destes títulos foram facilmente atribuídos aos ‘agraciados’:

*O mais “zuado”: Este foi para o Bruno, que mal aqueceu os músculos pulou para dentro da Montana e só desceu perto de Roseira, no fim da caminhada, mas teve que aguentar a gozação dos companheiros.

*O “turista”: Cristiano. Desta vez ele foi passear de carro e divertir os amigos!

*Troféu “superação”: Este tem que ser dividido em partes iguais entre Luciano, Tiago Cobra e Japão. O veterano Tiago Antônio merece ao menos a base deste troféu!

* Pior café: Todos os feitos pela dupla “Guilherme & João Gustavo”!

Faltam 25 quilômetros: É assim que dorme...!

Faltam 25 quilômetros: É assim que se dorme…!

E tem ainda o troféu “ranzinza” para ‘premiar’ o peregrino que cria caso e reclama de tudo;

O troféu “apressadinho” ou “bem disposto”; que mal recomeça a caminhada já assume a dianteira e some na primeira curva!

O troféu “solidariedade” certamente seria do Rick! Embora seja um dos mais bem preparados fisicamente, ele sempre fica para trás… Para apoiar o peregrino que precisa de ajuda!

Toda privação, todo sacrifício, toda brincadeira, todo bom humor; toda amizade que se estreita nestas noites e dias de convívio; toda beleza que vemos ao longo da jornada, enriquecem o peregrino, o homem… Mas nada se compara à emoção de pousar os olhos marejados na Imagem Santa na Basílica e dizer:

– Eu cheguei, Mãe…!

… E ouvir a resposta silenciosa entre sorrisos:

– Eu sabia que você chegaria, filho…! Eu te levantei varias vezes pelo caminho…

E deixar as lagrimas correrem!

 

Acabamos de chegar...

Acabamos de chegar…

Esta foi a 4ª “Romaria Santo Antônio Maria Claret & Amigos”, organizada por Tiago Antonio Batista e Marcelo Matos. Quiçá possamos participar de outras quarenta “Caminhadas com fé”!

Os motivos mais comuns que levam milhares de pessoas a deixar o conforto de casa para andar dias e noites enfrentando intempéries, com destino à Aparecida ou outros Santuários são: agradecer ou pedir uma graça! Mas tem também os curiosos que querem descobrir a sensação de uma longa caminhada ou simplesmente testar a capacidade física; tem aqueles que querem ter alguma historia pra contar; tem os “maria-vai-com-as-outras” que tentam ir porque o vizinho vai…! Mas não são todos que chegam! Alguns ficam pelo caminho. Alguns ‘pedem agua’! Romaria à pé de algumas dezenas de quilômetros não é coisa para aventureiros… É preciso ter um proposito!

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Para comemorar o exito da caminhada, uma lauta feijoada na casa - nova e aconchegante - do Marquinhos/Sabrina.

Para comemorar o exito da caminhada, uma lauta feijoada na casa – nova e aconchegante – do Marquinhos/Sabrina com as “patroas”…!

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