Arapuca p’ra pegar Franguinho em Santa Rita

Embora inadimplente de Pensão Alimentícia não seja um criminoso, tem alguns que fogem da policia pior do que o Fernando da Gata!!!

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Certa tarde recebemos a incumbência de prender um devedor de pensão que deveria estar morando no bairro Roseira, ao pé da Serra da Manoela em Santa Rita do Sapucaí. Chamava-se Reinaldo e atendia também pela alcunha de “Franguinho”! – que eu supus pelo apelido no diminutivo, que fosse um pixote! Não o achamos por lá – devedor de pensão muda mais que cigano – mas localizamos sua moradia, na casa do novo sogro no condomínio Chácaras do Vintém. – provável futuro avô de mais uma criança para reclamar pensão alimentícia! Quando paramos a viatura na frente da rua ouvimos um guaiú de cachorros no quintal. Entendemos imediatamente porque e corremos para lá, mas já era tarde. Nos fundos do quintal começava uma plantação de milho que estava até azul de tão tenra e viçosa. Subi na ponta de um mourão de eucalipto roliço e vi somente aquele mar de milho embonecando, com suas espigas de cabelos multicores e os pendões bege-mostarda saciando enxames de abelhas, marimbondos e vaquinhas com seu pólen. A brisa leve e mansa do fim da tarde balançava suavemente o milharal proporcionando um belo espetáculo da natureza ‘domestica’. Franguinho poderia estar ofegante em qualquer lugar daquela roça de meio alqueire de milho hibrido que em três semanas daria deliciosas pamonhas. Achar uma agulha no palheiro do milharal dali a três meses ou mesmo um franguinho carijó, seria mais fácil do que achar o ‘nosso’ Franguinho caloteiro naquele momento. Na volta de mãos vazias para a delegacia tive uma idéia… E fiz uma proposta aos meus parceiros, o  padrinho Benicio e o jovem Kleber.

– Vou arrancar as penas do Franguinho amanha às cinco e meia da tarde ou na quarta às oito e meia da manha. Se meu plano falhar pago meia dúzia de picolés de groselha para cada um. Se der certo quero um picolé de leite…!

Na tarde seguinte sentei diante do computador, digitei um Mandado de Intimação nos seguintes termos;

 

“… Juiz da Vara de Família ( )  intima o cidadão Reinaldo A. de O., … a comparecer ao Fórum da Comarca, à Praça Santa Rita, às 08h30 do dia tal”.

 

Dei um rabisco qualquer na linha acima do nome do juiz, coloquei um capacete fechado, montei minha motoca e fui entregar a intimação na chácara do condomínio. Se ele estivesse curtindo o final de tarde na sombra na frente da casa eu o prenderia e chamaria os parceiros para conduzi-lo. Caso contrario ele nem saberia que estive lá. Fui recebido por uma mocinha de magros 18 anos com um bebê atravessado no colo – futuro credor de pensão de Franguinho! – que mal ouviu minha pergunta e foi logo respondendo;

– Ele não ta aqui, não!

Não tinha importância que ele estivesse ou não atrás do guarda roupa ou debaixo da cama ou que tivesse voado novamente para o mlharal… Na manha seguinte daria bem menos trabalho prende-lo. No dia seguinte saí de Pouso Alegre às 7h50 para chegar em Santa Rita as 8h20 como de praxe mas, meu velho Gol – só consegui comprar carro com menos de 5 anos de uso depois de me aposentar – me deu mais trabalho do que o previsto. Furou a mangueira do radiador e tive que parar a cada cinco quilômetros para recolocar água. Cheguei atrasado ao Fórum! Parei defronte o orelhão e percebi um sujeito espigado, cerca de 1m85 falando agitado ao telefone. Parei ao seu lado como se esperasse para usar o aparelho e ouvi mais ou menos assim;

-… Eu vou voltar para casa. O juiz não vem na parte da manha… Parece que não foi intimação do Fórum…

Não, não fora. Fora intimação minha! E o Franguinho havia ‘mordido o milho’… Quando ele desligou o telefone eu joguei a peia. Peguei um pedaço de papel qualquer do bolso, olhei e perguntei sem que ele visse o que estava escrito:

– Reinaldo A. de O. mais conhecido por Franguinho, é você mesmo?

Ele ameaçou pigarrear e antes que dissesse qualquer coisa eu voltei firme à carga com a firmeza que sempre guardava para estas ocasiões:

– Venha comigo… O delegado está esperando por você na delegacia!

Franguinho tentou levantar a crista e sacudir as asas, mas eu levantei ligeiramente a barra da calça deixando aparecer o cabo lustroso de madeira do 38 especial na canela. Coloquei a mão em seu ombro e indiquei a porta do meu carro há cinco metros dali defronte a charutaria do Caruso. Cheguei à delegacia da Quintino Bocaiúva raspava nove horas e fui direto pra cozinha como de habito;

– Companheiros…! Preparem mais uma chávena! Eu trouxe o Franguinho para tomar café com a gente… – Fui dizendo.

– Meu picolé de leite quero na sobremesa do almoço – acrescentei.

Apesar de Franguinho ter dado mais trabalho do que o habitual para uma prisão tão insignificante, não o levei direto pra cadeia. Deixei que ele passasse o dia no ‘corró’ da DP enquanto seus parentes faziam a ‘correria’ para pagar a pensão. No final do expediente ele subiu para o Hotel Recanto das Margaridas, jurando de pés de juntos que já havia saudado o débito alimentício. O Alvará de Soltura demorou três dias para chegar.

Embora fizesse pintinhos nas franguinhas mais do que galo carijó, sem ter milho para alimentá-los, nunca mais foi preciso buscar Franguinho no milharal da Chácara do Vintém!

 

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