…E assim surgiu o “Ribeirão das Mortes”

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 Há cerca de duzentos, quando o século 19 era ainda uma menina de cabelos de trança e boneca no colo, a garbosa Santana do Sapucaí já espalhava suas tranças pelos bairros da Cata, Tanque, Matadouro e Lava-pés. A imponente cidade, uma das quatro com mais de sessenta primaveras no Sul de Minas – as outras eram Campanha, São Gonçalo do Sapucaí e Camanducaia – se equilibrando no centro do morro, já contava cerca de três mil habitantes! Pouso Alegre, muito mais favorecida pela topografia, pela hidrografia e outros atributos naturais, ainda engatinhava… A capela de Bom Jesus do Matosinhos já estava onde está hoje, cercada por dois piscosos ribeirões! À direita o ribeirão que descia do bairro Primavera e corria serpenteando pela atual Avenida São Francisco e Ruas Cel. Ribeirão de Abreu, Bom Jesus, São João e João Basilio; e a esquerda o ribeirão que nascia no bairro da saúde, ao pé do bairro Santo Antonio e descia pela hoje Avenida João Beraldo até desaguar nos fundos da fazenda do Chiquinho de Freitas. Se o padre tivesse que sair da pequena capela para fazer um batizado às margens do velho Mandu, teria de ir no lombo de um cavalo baio bem arreado e forrado com vistoso e macio pelego ou numa charrete puxada por uma eguinha pampa, pois da Praça Senador Jose Bento às margens do piscoso rio era ‘uma viagem’…

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Da emergente Pouso Alegre de pés descalços à impoluta Santana do Sapucaí, em lombos de burros ou carros de bois, era viagem para quase uma semana… Dependendo da época do ano! Foi justamente este detalhe “época do ano” que estreitou a historia entre a ‘metropole’ Santana e a vila de Bom Jesus do Matozinhos! Do outono ao inicio da primavera, a viagem de cerca de trinta e cinco quilômetros poderia ser feita em apenas um dia… De setembro, quando começavam as chuvas, até o final da enchente das goiabas, em março, a mesma viagem em lombos de burros ou carros de boi podia demorar até uma semana!

A menina Pouso Alegre, embora já desse ares de que se tornaria em breve uma linda donzela e mais tarde  uma sedutora coroa ricaça – cobiçada por tantos que querem administrar seus dotes! – ainda dependia de Santana em vários aspectos, inclusive dos santos! Mais propriamente da ‘imagem’ do santo, o qual já havia sido escolhido para apadrinhá-la: “Bom Jesus do Mártires”! O ‘santo’ já havia sido adquirido numa transação ligeiramente obnubilada entre o pároco Hermógenes e o vigário Jose e Mello! Quando em 1792 o vigário da Vila de Bom Jesus do Matosinhos pediu autorização ao prelado Dom Manuel da Ressurreição em São Paulo, para construir a capela na vila, a imagem do Senhor Bom Jesus dos Mártires já estava em poder do beato Angelo Gomes Moreira – seu zelador – esperando o altar para recebe-la.

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Acontece que a transação com o pároco Hermógenes estava eivada de duvidas e insatisfação! Nunca se soube ao certo se o padre de Santana do Sapucaí havia vendido, doado ou ‘emprestado’ a imagem do santo ao vigário da vila de Pouso Alegre, que, aliás, ainda não havia sido batizada com o nome do ‘alegre’ pouso! Por isso os santanenses, queriam a imagem de volta. E queriam a todo custo! Passaram a pressionar os vilarinhos do Mandu para que devolvessem a imagem do Senhor Bom Jesus dos Mártires. Inclusive com ameaças!

– Só vamos esperar passar as festividades religiosas… Na semana seguinte, se a imagem do santo não estiver aqui, vamos buscá-la pessoalmente! – Ameaçavam os descendentes de Francisco Martins Lustosa, fundador da cidade meio século antes.

        Aquele ano, São Pedro – que dizem que além de manter as chaves da porta do céu, cuida também da central de abastecimento de agua – a Copasa de além das nuvens – parece que estava fazendo uma pequena torcida para Pouso Alegre ficar com o ‘São Bom Jesus’ e resolveu botar lenha na fogueira… Abriu as torneiras e deixou a chuva cair! Findas as festividades religiosas anuais, embora muito a contra gosto, pois já haviam escolhido Bom Jesus para padrinho do município que se avizinhava, mas querendo evitar a primeira guerra mundial, justamente por causa do santo, os vilarinhos trataram de atender o ultimato! Tentaram a viagem pelo bairro Faisqueira… Sem chances! Tentaram pelo Ribeirão… Não conseguiram sequer subir o morro da Cava – atual curva da Rua Bento Doria Ramos. Voltaram com o santo para a capela a fim de esperar a estiagem. Não tardou o sacristão recebeu novo recado ameaçador;

 

Para saber qual foi o recado e o desfecho dessa historia, acesse “www.meninosquevicrescer.com.br”.

 

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