Meu vizinho Japão

Ele costumava ‘passear’ na viatura da polícia!

Quando fui morar no alto da Rua da Biquinha, ele já morava lá! Morava com um irmão mais velho e sua mãe, já velhinha. Nunca o vi trabalhar. Passava os dias sentado no passeio na beira da rua, na esquina. As vezes nalgum boteco… ou numa ‘quebrada’! A mãe o sustentava. Era amigo da polícia. Quase toda semana a polícia o levava pra passear. Dois ou três dias depois ele voltava… a pé! Eu não entendia uma coisa: na viatura da polícia cabiam dois no banco da frente e três no banco de trás, mas o Japão ia sempre no porta-malas!!! Certo dia os policiais o chamaram no portão. Quando ele apareceu um deles fez cara feia e falou: – Japão, o delegado quer falar com você. Nós vamos levá-lo pra delegacia. Japão olhou meio desconfiado para os policiais e, com cara de pelamordedeus, perguntou: – Vocês não vão judiar de mim não, vão? – Não. Nem vamos colocar as pulseiras de prata – Respondeu o policial, abrindo a porta do ‘forninho’. E foram embora. Do portão da casa dele até a esquina tinha pouco mais de 50 metros. Só neste trechinho o soldado Vianei deu uns quatro trancos na viatura. Arrancava e freava bruscamente. Do portão da minha casa dava para escutar o barulho na traseira do forninho. Parecia uma abóbora solta na carroceria de um caminhão! Tempos depois Japão sumiu da rua. Ninguém sabia por onde ele andava. Vários meses depois voltou pra casa. Gordo, porém com a pele muito branca… parecia que não andava tomando sol! – O que aconteceu Japão. Onde você esteve? – perguntou um vizinho. – Eu estava de férias… – De férias?! Onde? – No velho hotel da Silvestre Ferraz! – respondeu, pouca prosa. – Quem te prendeu? Ninguém viu viatura da polícia aqui na sua casa! – Foi o Chips. Eu estava subindo a Bueno Brandão, quase chegando em casa, quando encontrei com ele na rua. O Chips falou que eu estava na lista negra da polícia e me levou em cana. Pior de tudo é que ele me levou a pé, do quarteirão de baixo até a delegacia, sem algemas, numa chave de braço… Cheguei lá cansado e com cãibra – choramingou ele. Japão não trabalhava, mas tinha dois vícios: Fumava uns baseados e quando não tinha maconha, se amarrava num pé de cana. Para sustentar esses dois vícios, adquiriu um terceiro… Passou a cometer pequenos furtos para comprar maconha e suco de gerereba! Rádio, bujão de gás, galinha, cachorro… qualquer coisa que pudesse render uns trocados. Por isso sempre recebia a visita dos homens da lei. Certa manhã a polícia bateu na sua porta. – Japão, dona Miquelina disse que você roubou a televisão dela ontem à noite. Onde está a TV? – Tá aqui na sala. Mas eu não roubei não. Ontem ela me convidou para assistir um filme na casa dela. Antes de acabar o filme ela dormiu… Daí eu trouxe a TV pra minha casa para acabar de assistir o filme. Agora de manhã eu ia devolver… Já que vocês vieram, podem levar! – Falou o gatuno… sem ficar vermelho! Depois que o irmão e a mãe – que vivia de Pensão – morreram, a fonte de renda do Japão secou. Entrou numa tremenda pindaíba! Começou a vender tudo que havia em casa para comer… e beber. Não demorou ficou sem gás, sem água e sem luz! Sem a mãe para sustentá-lo, e puxar-lhe as orelhas, passou a levar os amigos pra casa. Os amigos traziam cachaça, baseados e… mantimentos. Tudo ‘cabritado’ nas redondezas. O banho, tanto ele quanto os amigos, tomavam num tambor no quintal, com água acumulada da chuva. Entravam pelados no tambor, se esfregavam e saiam. Certa vez quase deu tragédia. Um dos parceiros de infortúnio, mais chapado, tentou lavar apenas da cintura para cima… Caiu de ponta cabeça no tambor e ficou e começou a se debater! Quase morreu afogado. Certa noite Japão saiu pela vizinhança pedindo uma vela, emprestado. Bateu em várias portas até que o vizinho do lado, o qual ele não ‘abeirava’ muito, lhe deu uma vela. Embalado pelo suco de gerereba, Japão esqueceu a vela acesa ao lado da cama. Quando os vizinhos perceberam a fumaça e chamaram os Bombeiros, já era tarde. Japão dormiu nos braços de Severina do Popote e acordou nos braços de São Pedro! Nunca mais os homens da lei levaram Japão para passear de viatura!

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