Corria o ano de 1975.
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“Rinha” e seus Rodeios, no centro de Pouso Alegre, nos anos 1970.
Na praça Senador José Bento os homens ainda circulavam no jardim, em duplas ou turmas, sempre da direita para a esquerda, sentido anti-horário… As mulheres, da mesma forma, circulavam ao contrário, da esquerda para a direita, aos pares ou pequenos grupos, fingindo timidez, flertando com os homens com os quais cruzavam no passeio!
Muitos destes flertes terminaram na cama… depois de dois anos de noivado e do “sim” diante do padre!
Na Dr. Lisboa, fechada para o trânsito de veículos desde o início da noite até às dez e meia, ficavam os ‘riquinhos’, em grupos nas calçadas, no meio da rua. Os que tinham dinheiro iam para os bares e barzinhos por ali: Vila Rica, Uirapuru, Tamandaré, Motão, Bug Dinks, Papillon… Quem tinha carro fazia vaquinha com os amigos para a gasolina e iam para a boate Shadows na Fernão Dias.
O ponto alto da Avenida acontecia aos domingos exatamente às nove e quinze da noite. Naquele momento o Muroni abria a porta da sua loja, virava uma TV em cores 20 polegadas (ainda novidade) para a avenida e ligava na Globo, para mostrar os Gols do Fantástico. Eram 15 minutos de bola balançando as redes por todo canto do Brasil.
A diversão maior da juventude, no entanto, acontecia durante o dia de domingo… a sete quilômetros do centro da cidade, no bairro Ipiranga… Era ali que ficava o Lago Caiçara! Desde as dez da manhã filas de ônibus da Cipatur faziam o trajeto, levando gente para nadar no lago. Cobrava-se dez cruzeiros de cada pessoa para nadar o dia inteiro.
Não havia salva-vidas.
Todo moleque de qualquer idade naquela época sabia nadar. As mulheres nem tanto. Mas havia, do lado esquerdo do lago, próximo à lanchonete, uma extensa praia artificial mesclando concreto com areia. Além do mais, os primeiros três ou quatro metros lago adentro ‘davam pé’.
Nós, garotos, é claro, queríamos aventuras perigosas. Queríamos nadar no fundo. Pular do trampolim de madeira na extremidade mais profunda do lago, paralela à BR 459, de frente para a plateia, era o auge. Ninguém sabe a profundidade do lago nesse trecho… Pois ninguém nunca tocou no fundo!
Havia constantes disputas de saltos ornamentais, para ver quem saltava mais alto, mais longe, mais bonito, mais esquisito… quem ficava mais tempo submerso!
Havia uma disputa ainda mais desafiadora… e arriscada! Todo domingo formava-se um pequeno grupo de aventureiros corajosos – ou sem juízo! – para atravessar o lago de uma extremidade à outra, na parte mais longa. A chegada era justamente ao lado do trampolim, onde era muito mais profundo e arriscado, pois o nadador chegava ali no limite das forças! Se tivesse cãibra durante a travessia, no dia seguinte uma guarnição do Corpo de Bombeiros de Varginha viria procurar o corpo no fundo lodacento do lago.
Mas havia algo ainda mais divertido do que nadar no lago caiçara naqueles belos e ensolarados domingos dos anos 70! A melhor parte da diversão … eram as viagens para o local!
Os ônibus, colocados pela empresa especificamente para atender esse filão, saiam da Avenida Getúlio Vargas (hoje Lojas Cem) desde o final da manhã. Iam e voltavam sempre lotados! Era no interior dos ônibus que mais se davam risadas! Invariavelmente em todos os carros tinha alguém que levava um gravador cassete (do tamanho de dois tijolos juntos). Fitas cassete não faltavam.
Apesar do sucesso das músicas românticas que marcaram a década – e fazem sucesso até hoje – a mais tocada daquele meio de década, e cantada pelo povo em todo canto, foi uma música irritante e enfadonha da dupla Amado & Antônio. A dupla caipira, que parodiava Jacó & Jacozinho, ficou famosa com: “A música do pepino”! Essa virou hit! Era tocada à exaustão muitas vezes por dois ou mais gravadores no interior dos ônibus com mais de 60 pessoas se acotovelando, balançando, rindo, imitando a voz infantil e caricaturizada da dupla de caipiras.
O melhor da música era o irritante refrão!
Ficava mais enfadonho ainda cantado em coro por metade dos passageiros dentro do ônibus, imitando a voz de criança desafinada, manhosa, chorosa e desacorçoada da dupla…
“Eu não quero mais pipino, nem do grosso, nem do fino… eu sofro do intestiiiino, Deeeeeus nos livre de pipiiiiiiiiiiiiiiiiii Antoiiiiiiiiiiiiinnnnn!
Para quem não cantou, ou quer relembrar, eis a letra completa da música mais cantada de 1975!
“Arei à terra, um terreno genuíno,
Preparei pra melancia porque o preço está subindo
Gastei a grana, fiquei duro até tinindo,
Mandaram a semente errada, só nasceu pé de pepino.
Eu não quero mais pepino…
Eu não quero mais pepino nem do grosso e nem do fino
Eu sofro do intestino, Deus nos livre de pepiiiino Amado!
Eu namorei a filha do seu Guerino
O casamento marcado para as festa do Divino.
Um certo dia o velho falou sentindo
Só posso vestir a noiva na colheita do pepino.
Eu não quero mais pepino
Eu não quero mais pepino, nem do grosso e nem do fino
Eu sofro do intestino… Deus nos livre de pepiiiino Antônio!
Essa verdura andava me destruindo
Fiz exame, me operaram, deram alta eu vinha vindo.
Cheguei em casa, a mulher falou sorrindo
Me abraçou e disse benzinho: tem sopinha de pepino.
Eu não quero mais pepino…
Eu não quero mais pepino, nem do grosso e nem do fino
Eu sofro do intestiiiino, Deus nos livre de pepiiiino Amado!”