Alheio aos ritos cerimoniais, ele estava misturando Jesus com Genésio!
Você já pensou em ser artista de teatro no cotidiano? Se passar por outra pessoa?
Já pensou em se apresentar numa delegacia de polícia dizendo que é delegado e assumir suas funções?
Ou então se apresentar no fórum da Comarca dizendo que é o novo promotor de justiça e ter acessos aos processos, participar das audiências e até mesmo convocar e participar de diligências policiais?
E Padre?
Já pensou em ser padre de mentirinha? Celebrar missas, ouvir confissões, ganhar presentes das beatas, dar a benção para fiéis, ser reverenciado na rua e morar de graça na casa Paroquial? E, quem sabe, até dar assistência… digamos, ‘calientes’ à algumas beatas ‘pouco católicas’ e fogosas?
Este parece ser o melhor personagem, não é?
Pois foi o personagem que Fabrício G.M., 35 anos escolheu. Ele se apresentou na igreja de São Pio, no bairro Quitandinha, na cidade de Araraquara como Padre Fabrício e passou a celebrar missas e outras cerimonias. Tratado pelos fiéis com o devido respeito e crédito que merece um emissário de Deus, ‘padre’ Fabrício foi até uma livraria católica e comprou cerca de R$ 2 mil reais em livros e artigos religiosos…. e mandou ‘pendurar’ na conta da paróquia, naturalmente.
O falso padre estava ‘vivendo no céu’! Só tinha um problema: como ele nunca foi um assíduo frequentador de igreja, e não fez nenhum curso preparatório, ele não estava sabendo celebrar direito as missas. Na verdade, ele ‘não sabia da missa o terço’! e passou a misturar os ritos e santos, além de confundir Jesus com Genésio.
Alguns fiéis, percebendo que o novo padre não era muito católico, resolveram pedir ao padre da matriz de Araraquara para ajudá-lo…. E foi aí que o santo mostrou as ‘solas dos pés sujos’! Era um tremendo picareta, infiel, tentando levar a vida de bem-bom da batina.
Constatando que o padre era bem menos padre do que o sacristão, o vigário da paroquia, sem estardalhaço, levou o fato ao conhecimento dos homens da lei. Consultando sua capivara, descobriu-se que Fabricio era figurinha fácil no álbum da polícia paulista pelos crimes de falsidade ideológica e furto.
Ao interpretar mal o papel de padre, o palco do Fabricio caiu, e ele finalmente se enroscou nas malhas da lei. Na sua última missa celebrada na capela da Vila Quitandinha, havia dois beatos a mais na plateia de fieis. No final da missa os dois se aproximaram com cara feia, sacaram da algibeira um “mandamus” do Homem da Capa e disseram aquela velha frase que faz gelar a espinha:
– “Teje preso”! – E lhe mostraram as pulseiras de prata.
Embora cultue a arte da representação teatral, Fabricio, de 35 anos, não leva jeito para a vida artística. Na capital paulista e arredores ele já foi “advogado” e “Delegado Federal”, mas nunca recebeu aplausos e sempre teve que sair pela porta dos fundos!
Se Deus perdoou Fabricio pela farsa da batina, não sabemos. A justiça, não! Depois da missa ele recebeu as pulseiras de prata da lei, como qualquer mortal pecador, e foi se hospedar no hotel do Juquinha de Jaboticabal.
*** O falso padre conseguiu enganar os fiéis do bairro Quitandinha por apenas duas semanas. Em Pouso Alegre, no final dos anos 80, um cidadão serio e bem trajado se apresentou no Fórum da Comarca dizendo que era Promotor de Justiça. Assumiu o cargo e durante quase três meses acompanhou audiências e falou em processos. Como ele gostava mesmo era do trabalho policial, acompanhou dezenas de blitz e rondas policiais pela cidade. Era tão Promotor de Justiça quanto o padre Fabricio. Mas ele foi mais bem sucedido do que o padre. Quando percebeu que a casa iria cair, o falso promotor desistiu da promissora “carreira’ e dobrou a serra do cajuru!