A pistola do policial foi parar na cueca do gatuno…
Madrugada fria e silenciosa de finados no bairro Lagoinha. Um soturno lombrosiano se aproxima da grade que circunda o prédio, joga cobertores velhos e trapos sobre a afiada e ameaçadora concertina, neutraliza suas garras e a cerca elétrica, escala a grade e pula para o pátio do pequeno condomínio. Seu alvo é o terceiro andar do predinho de apartamentos cuja cortina balança suavemente ao sabor da brisa que entra pela janela aberta. Pacientemente ele coloca seus talentos aracnídeos em ação… E escala o prédio usando as janelas e as sacadas até chegar ao apartamento da sua escolha. Silencioso como um gato, ele desfila pelo apartamento, escolhe pacientemente a res furtiva e, tão sorrateiro quanto entrou, sai de fininho sem ser percebido.
O morador continua solenemente nos braços de Morfeu. Tem o sono pesado. Sonha, talvez, com uma promoção no trabalho ou, quem sabe, com os meliantes que prendeu no dia anterior.
– Esse foi o crime perfeito! Digno de Oscar’. Meus ‘parças’ de caminhada vão me respeitar. Já o tira vacilão, quando acordar de manhã e descobrir a ‘parada’, vai ter um mistério para investigar! – Pensa o homem aranha descendo sorrateiramente as escadas internas do predinho.
Seria mesmo um crime perfeito!… e misterioso!
Mas…
Eram as primeiras horas do Dia de Finados… Havia muitos espíritos desencarnados fazendo festa por ali, comemorando seu dia. Mas foi um encarnado que casualmente saia para o trabalho que o surpreendeu. Quando o gatuno descia a última escada para chegar à garagem, onde pegaria a principal rês furtiva cuja chave levava na algibeira, o morador apareceu no seu caminho e colocou a boca no trombone! Em segundos o prédio todo foi sacudido pela desafinada sinfonia do morador do primeiro andar:
– “Pega ladrão”!…
Metade dos moradores do prédio saltaram dos braços de Morfeu e desceram a escada para ajudar o vizinho… inclusive o dono do apartamento invadido e furtado!
Em poucos minutos o gatuno foi dominado pelos moradores e entregue aos homens da lei que não tardaram a atender ao chamado…
Ao deter o gatuno, o morador do apartamento invadido minutos antes, sem saber que ele havia sido a vítima da vez, reconheceu o meliante. Duas semanas antes, ele, o morador, havia detido o mesmo gatuno – sem convite – no interior do condomínio e o havia entregado à polícia militar. Por isso mesmo ele fez questão de ir à delegacia acompanhar a lavratura do flagrante. – Quem sabe desta vez o meliante criasse raízes no hotel do contribuinte.
– Que ousadia! Entrar no mesmo prédio uma semana depois de ter sido preso! – pensava o morador revoltado.
Mais surpreso ele ficou quando adentrou seu apartamento para pegar os documentos e as chaves do carro. Não estavam onde ele costumava deixar! Bastou uma rápida procura para chegar à conclusão: ele fora o premiado com a visita sorrateira do gatuno da madrugada! O lombrosiano havia furtado roupas, as chaves do carro e…pasmem!!! sua pistola Glock, carregada até a boca de azeitonas.
Sim, a vítima – escolhida – do furto do terceiro andar é policial! O meliante roubou sua ferramenta de trabalho e pretendia roubar também sua caminhonete que estava na garagem!
As surpresas não param por aí!
Ao chegar à delegacia – em tempo recorde – o policial constatou que sua pistola ainda estava na cueca do gatuno! Felizmente ele usava pulseiras de prata e não pôde exibir a pistola. Além da arma, que não teve oportunidade de usar, o meliante usava calça, camiseta e tênis furtados do policial enquanto ele dormia. As chaves da caminhonete estavam na algibeira da calça de camuflagem …
O ousado gatuno ladrão de policial – e dublê de Peter Parker – é figurinha fácil no álbum da polícia. Seu currículo é recheado de 33, 157 e 155 como esse. Se ele tivesse conseguido levar a caminhonete e a pistola do policial, por um bom tempo seus ‘parças’ de caminhada o tratariam como a ‘última batatinha do pacote’! Ganharia status no submundo do crime…
Metade da façanha ele conseguiu, mas… “Perdeu gatuno”!
Ah, no momento da prisão, o ‘homem aranha de araque’ portava na canela um famoso ‘adereço’, também conhecido como: ‘passaporte para cometer novos crimes’! Aliás, passaporte muito comum entre os meliantes – e políticos – hoje em dia: uma ‘tornozeleira eletrônica!