Media quinze metros de largura por 25 metros de comprimento. Tanto o piso quanto as paredes laterais eram de cimento queimado, rústico, da cor de cimento queimado. A água, portanto, era turva. Quem abrisse os olhos no fundo enxergava apenas escuridão. A água batia no peito dos adultos e no pescoço dos adolescentes e das mulheres sempre mais baixas do que os homens. Do lado de baixo da piscina havia apenas um cimentado, também rústico, onde as garotas estendiam as toalhas para se bronzear. Do lado de cima dois lances de uma mureta. Era de onde os garotos mais afoitos pulavam espatifando água pra todo lado fora. Uma casinha de cangalha medindo quatro por quatro, dividida ao meio por uma parede, servia de vestiário. Uns deixavam suas roupas lá, penduradas num cabide cheio de pregos numa tábua. Outros preferiam levar suas roupas consigo para a beira da piscina – para evitar furtos.
Apesar do tamanho bem diminuto, não havia limite de lotação. As vezes tinha 40 pessoas. As vezes tinha 90.
Apesar de tão pouco espaço para tanta gente, sempre aparecia alguém com uma bola… e jogavam algo parecido com polo aquático!
Não havia salva-vidas. E muitos não sabiam nadar e, embora não houvesse salva-vidas, nunca teve acidente, pois a ‘fundura’ da piscina era toda do mesmo nível, bastava ficar em pé. Mesmo assim os mais medrosos não se afastavam da margem.
Para nadar na Piscina da Lili, todos pagavam o mesmo preço: Cr$ 5. O regulamento para frequentar a piscina era simples. Bastava pagar a entrada e usar maiô ou biquíni (mulheres) e calção (homens).
Funcionava apenas no domingo, pois toda a clientela da Lili trabalhava até sábado à tarde. Só sobrava o domingo para se divertir.
Dona Lili ficava na portaria, ou seja: no portão lateral da casa que ficava na beira da estrada, cobrando o ingresso, em cash naturalmente, a única forma de pagamento naquela época. Não havia ‘cano’, pois ninguém passava pelo portão sem deixar uma nota de cinco cruzeiros!
Além do Status de nadar na Piscina da Lili, para os homens havia uma diversão a mais, uma diversão perigosa e proibida: espiar as mulheres quando elas entravam no vestiário!
Os meninos faziam escadinha entre si e se revezavam para vê-las trocar de roupa – por cima da parede que dividia a casinha! Nunca viam nada, pois elas, acanhadas, ficavam sempre encostadas na parede e na maioria das vezes colocavam as roupas por cima do maiô ou biquíni sem tirá-los.
Mesmo assim aquela sensação de estar tão perto – e furtivamente! – de uma mulher seminua, era excitante para aqueles garotos cheios de espinhas no rosto. Mas tinham que conter a excitação e fazer silencio. Se fosse percebido seria punido. Dona Lili era chamada e mandava o ‘assanhadinho’ se retirar imediatamente. A punição durava duas ou três semanas, o tempo necessário para dona Lili esquecer o rosto do assanhado!
Era o ano de 1974…
No ano seguinte uma nova opção de lazer surgiu na cidade… e levou à falência a Piscina da Lili.