Rabo Verde… “nosso louco favorito”!

Ele foi um dos poucos ‘loucos’ que frequentaram o Hospício de Barbacena e voltaram de lá!

O destempero do nosso personagem trouxe, algumas vezes, consequências. Atendendo a reclamações de algumas senhoras mais sensíveis à palavrões, alegando que ele era um perigo e mau exemplo de educação para as crianças e donzelas que iam e voltavam das aulas nos colégios Santa Doroteia, Mons. José Paulino e Colégio Estadual, alguns maridos mais sisudos encaminhavam suas preocupações ao delegado de polícia.

– É preciso tirar o Rabo Verde do convívio com as pessoas! “Ele é louco”, diziam.

E lá ia o Rabo Verde para o hospital psiquiátrico Jorge Vaz em Barbacena. Ia no velho e barulhento trem da Rede Sul Mineira, o mesmo que o trouxera para Pouso Alegre em meados do século. No entanto, o vazio, a falta de assunto que sua presença marcante deixava nas ruas, nos bares, farmácias, durava pouco! Algumas semanas depois ele estava de volta. Não se sabe como ele achava o caminho, mas achava. Vinha no mesmo trem que o levara.

– O que aconteceu que te deixaram sair do manicômio, seu Antônio? – Indagavam alguns folgazões com um copo de cerveja na mão no Empório Goulart ou no Vila Rica, só para ouvi-lo contar do seu jeito simplório e darem risadas…

– Briguei com o doutor…

– Mas por quê?

– O doutor é burro…

– Como assim?

– Ele me entregou um jacá e mandou eu buscar água na bica: eu falei “vai você seu burro! Não tá vendo que o jacá tá furado? Aí ele ficou com raiva e mandou eu embora” …

Rabo Verde era mesmo iluminado. Ou contou com muita sorte! Ele foi uma das poucas pessoas que se tem notícia que foi internada no hospício de Barbacena, aliás várias vezes, e voltou de lá. No livro “Holocausto Brasileiro” a jornalista Daniela Arbex conta histórias de centenas, milhares de pessoas, com muito mais referências, com famílias e raízes, que entraram no malfadado hospício e de lá só saíram uma vez, fizeram uma única viagem… para o cemitério da cidade! Outras centenas e milhares não chegaram a fazer nem uma viagem… Foram enterradas nas cercanias do próprio hospício! Ou foram esquartejadas e dissecadas em faculdades de medicina de Juiz de Fora e do Rio de Janeiro sem que os familiares jamais soubessem ou buscassem informações.

Mas Rabo Verde tinha muitos quintais para carpir, escorpiões para queimar e chuchus para colher em Pouso Alegre. Por isso sempre se recusava a “buscar água no jacá”, e acabava voltando para terras manduanas, para preencher a rotina dos cidadãos de bem, alimentar a caridade das samaritanas e fazer a alegria da garotada com seus xingos e pedradas nas cercanias do centro da cidade.

Dentre todos os ‘desajustados’ que Pouso Alegre abrigou ao longo da sua história, Rabo Verde foi, sem dúvida, “nosso louco favorito”!

 

[email protected] – Quem Matou o Suicida, pags.27e28.

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