Crimes sem castigo

Vitória Marcela

     No final da tarde de domingo, uma senhora de meia idade encostou no balcão de atendimento da delegacia de polícia de Pouso Alegre. Queria saber se, por acaso, a polícia não havia prendido uma menina com nome de VITÓRIA MARCELA.
– Ela saiu de casa ontem à tarde e não voltou até agora. Ela tem 11 anos e costuma dormir na casa das amigas, mas sempre volta para casa de manhã. Hoje ela não voltou. Eu já fui na casa das amigas e elas disseram que ela não dormiu lá – contou a viúva namoradeira e baladeira, moradora do Chapadão, demonstrando pouco interesse em encontrar a filha.
     Apesar de ter casa, ter mãe e três meio-irmãos adolescentes e adultos, a garotinha vivia praticamente na rua, na casa de amigos, em botecos… Era uma “menina sem dono”!… presa fácil para qualquer mente criminosa.
Não. A polícia não havia prendido e nem apreendido nenhuma garotinha de onze anos com esse nome. Mas no IML havia uma garotinha com essa descrição… Era Vitoria Marcela!
     O débil corpinho desnudo, gelado, violado, cheio de ferimentos nas unhas, na cabeça, na região genital, estava na geladeira do IML desde as dez e meia da manhã. Havia sido encontrado casualmente por um lavrador em um matagal ermo na beira da estrada no bairro Limeira.
     Identificado o corpo, a polícia civil entrou imediatamente em cena. Nos meses seguintes dezenas de pessoas sentaram ao piano do paladino da lei. Vários fios da meada foram puxados. Sete suspeitos – inclusive a mãe desnaturada – passaram algumas semanas vendo o sol nascer quadrado, mas… nenhum deles criou raízes no Hotel do Juquinha.
     O crime de tortura, estupro e assassinato da menina Vitória Marcela ficou… sem castigo!

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