Ele morreu porque seguiu a lei ao pé da letra!
Domingo amanheceu chovendo em toda região. Sidraque voltava da feira tentando proteger a ele as sacolinhas de verduras e legumes debaixo do guarda-chuva quando o cidadão o interpelou:
– ‘Seu’ policial, o ladrãozinho que roubou minha casa está ali no bar bebendo cerveja!
Domingo era dia de descanso semanal de qualquer trabalhador. “De qualquer trabalhador”, menos policial! E ele era policial! Policial é policial 24 horas por dia. Sete dias por semana. Foi assim que ele aprendeu na Academia. Sete anos atras, ao assumir o cargo de Detetive de Policia ele havia feito o juramento de servir a sociedade a qualquer momento em que fosse solicitado. Por isso prontamente adentrou ao boteco para abordar o delinquente. Ao vê-lo, sabendo que tinha culpa no cartório, o meliante passou sebo nas canelas e tentou dobrar a serra do cajuru.
Surpreendido com a reação do meliante, o policial pensou com as pernas e saiu nos seus calcanhares. A desenfreada perseguição pega-não-pega atravessou a rua e desceu por um loteamento deserto em direção ao ribeirão. Os curiosos que estavam no boteco, mesmo debaixo de chuva, correram para a rua a tempo de ver bandido & mocinho sumirem numa depressão do terreno na beira do ribeirão. De repente ouviram vários disparos …
– Meu Deus! O Sidraque matou fulano! – falou um dos curiosos.
Estavam a mais de cem metros do local de onde vieram os tiros. Continuaram olhando naquela direção até que viram o ladrãozinho aparecer do outro lado, subir o pasto e desaparecer atrás do morro. Tensos, ficaram na expectativa de verem o policial também surgir do outro lado. Mas o policial não apareceu… nunca mais apareceria. Ele ficou do lado de cá do ribeirão, estendido no chão molhado, morto com três tiros de pistola no peito!
Nunca soubemos com exatidão o que aconteceu entre o policial e o meliante naquela beira de ribeirão. Só o que se sabe é que o policial tinha uma pistola carregada na cinta, e seguiu a lei AO PÉ DA LETRA, enquanto o meliante, na primeira chance que teve, o matou com sua própria arma!
Policial de origem libanesa, nascido em Teófilo Otoni, Sidraque Correia da Rocha, além de policial exemplar e dedicado era músico, poliglota – falava razoavelmente sete idiomas – professor de grego, aramaico e latim. Nas horas de folga, se é que sobrava alguma, trabalhava de cabeleireiro, de dedetizador e de pintor de paredes – Quando chegou a Pouso Alegre em l996, pintou todo prédio da delegacia regional… e não recebeu um centavo por isso!
Ao morrer exercendo seu mister de servir a sociedade, estritamente dentro da lei, morreu o policial, morreu o pai de família, morreu o artista… Morreu um cidadão admirável.
Deixou como herança… boas lembranças por onde passou.