“Ler, é viajar… pelas paginas do enlevo, do conhecimento”
Um processo para os ‘anais da história forense’!
“Ao sair do gabinete do juiz a testemunha veio sentar-se ao meu lado no corredor. Suava frio. Seu nervosismo podia-se pegar com a mão. Ficamos ali conversando até que a testemunha, que não tirava os olhos da janelinha de vidro do gabinete, levou as duas mãos à cabeça e deixou escapar uma exclamação de alivio:
– Graças à Deus, acabou! Fizeram as pazes… Estão se abraçando!”
A euforia no gabinete do magistrado não foi menor, e durou ainda muito tempo. Enquanto se providenciava o registro do inusitado fato nos ‘anais da história forense’ – como disse o próprio -, se imprimia as peças dos autos, colhia assinaturas, o Homem da Capa Preta se pôs a contar histórias do cotidiano. Agora por puro prazer. Estava feliz. Podia arquivar um processo sem condenar ninguém! Coisa rara! Como era a última audiência da tarde, a comemoração só não se estendeu até a noite porque o chá da garrafa pessoal do magistrado acabou!
Quando as partes do extinto processo deixaram o gabinete, o corredor do Fórum se inundou de sorrisos e cumprimentos. Até o agente-requerente distribuía sorrisos. Meio amarelo, mas sorria. Não ganhara um centavo dos cem mil pedidos na inicial, mas estava feliz. Afinal, para se defender, tanto a médica quanto o policial civil, que o conhecem bem, poderiam contar muita coisa que ‘não consta nos autos’… E o feitiço poderia virar contra o feiticeiro! O único calado e desenxabido era o advogado do requerente! Fizera várias viagens à comarca por… nada! Não viu e nem veria um centavo de honorários.
Este fato verídico, com desfecho justo e mais bem-humorado do que eu consegui aqui expressar, passado numa rica cidadezinha nas cercanias de Pouso Alegre em 2012, poderia nos deixar uma valiosa lição:
“Que tal parar de entulhar as prateleiras dos Fóruns com pseudo direitos, vaidades, ‘raivinhas’ e picuinhas inúteis? Que tal imolar a cega justiça por motivos que realmente valham a pena? Assim, os doutos juízes terão mais tempo mais julgar casos realmente factíveis e nobres… E não precisaremos reclamar tanto que a justiça é lenta e morosa”!
Essa viagem continua nas paginas do livro “Meninos que vi crescer”.