BORA VIAJAR…

VOSSA EXCELÊNCIA… O “INTRUJÃO”!

Corremos o risco de sair presos do gabinete do Homem da Capa Preta!
Depois de desbaratar a quadrilha do “Ladrão do Bagdá e seus quase quarenta ladrões” e recuperar quase um caminhão de ‘res furtiva’ com os mais variados intrujões da cidade, faltava agora apreender um cordão de ouro. Para nós, jovens detetives empolgados com a façanha, apreender a valiosa joia dourada com qualquer receptador, seria como pegar doce de criança. O problema é que o receptador não era um intrujão ‘qualquer’! Ele não era um mortal comum. O malfadado cordão, furtado em um dos inúmeros sítios da região, havia sido dado de presente pelo ladrão a um… ‘homem da capa preta’! por sinal, nosso professor na faculdade. A situação era tão delicada que o manjura não teve coragem de expedir um mandado formal de busca e apreensão. Por isso mandou que nós fôssemos falar pessoalmente com o magistrado, no seu gabinete… no Fórum Orvietto Butti!
Era final de expediente quando entramos no gabinete do homem da capa preta. Nosso professor de processo penal nos recebeu com o cordial sorriso que dispensava a todo mundo, tanto nos corredores do fórum quanto nos corredores da faculdade. Depois das amenidades fúteis e inúteis sobre o calor, a falta de chuva, excesso de trabalho, veio a clássica pergunta carregada de falsidade:
– … Mas afinal, a que devo a honra da visita dos denodados detetives? – Perguntou o magistrado.
Nos ajeitamos nas cadeiras, limpamos a garganta, fizemos cara de sérios… e de medo – o medo era de verdade! O ‘chefe’ da equipe, detetive Adair, arregalou bem os olhos – uma de suas peculiaridades quando tratava de assunto peculiarmente sério – e falou pausadamente entre a ousadia, o medo e um certo sarcasmo:
– Este colar que está no pescoço de Vossa Excelência… Faz parte do Inquérito Policial contra o Monteiro, do Bagdá. Precisamos dele na delegacia…
Ao contrário do que esperávamos, o magistrado nem se ajeitou na imponente poltrona marrom almofadada, não mudou o tom de voz, não tirou o sorriso falso do rosto e nem ficou vermelho! Como se estivesse entregando a joia para o ourives consertar, tirou o grosso cordão dourado do pescoço e o colocou balançando lentamente na mão do detetive. Por alguns instantes que pareceram uma eternidade, seguramos a respiração, tensos, sem saber o que dizer. Só relaxamos quando o magistrado, parecendo meio sem jeito, deixou escapar um breve comentário vazio, do tipo:
– Acontece cada uma, né?…

*** Essa viagem continua na página321 do livro “Meninos que vi crescer”.

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