Jeff… O Homem do Chapéu Furado

     Essa história de Caubói foi escrita na década de 1970, no auge da exibição de filmes do gênero nos cinemas de Pouso Alegre. Escrevi “Jeff, o homem do chapéu furado”, em um caderninho espiral no mês de julho de 77, durante meus turnos de sentinela nas guaritas do 14º GAC, quando servia o exército naquele ano. A intenção era publicar em “bolsilivro”, outra febre nas bancas de jornais e revistas naquela década.

    Agora os apaixonados por histórias de Cawbói, caso queiram, poderão ler gratuitamente a história do forasteiro. “Jeff, o homem do chapéu furado” será publicada em onze capítulos, no blog e na minha página no face.

    Boa viagem à década de 1870!

 

Capitulo I

 

O sol acabara de se esconder no final da planície.O vento soprava forte, fazendo levantar poeira na rua principal de Carson City.  Fazia frio, o que era normal naquele lugar àquela época do ano. Isso não impedia que as pessoas continuassem com seus afazeres. Nesse instante entrou na cidade um forasteiro. O jovem, aparentando cerca de trinta anos, alto, peito largo, pernas compridas, braços fortes escondidos sob a jaqueta marrom que o protegia do frio. Por baixo do chapéu de abas largas podia-se ver parte dos cabelos castanhos encaracolados. Seus olhos azuis claros perscrutavam tudo à sua volta. O semblante alegre e jovial escondia uma máscara de ódio e sede de justiça. A cintura era ornada por um par de Colts por cima da calça preta. O vento frio e os olhares ou comentários discretos sobre sua figura, comum naquelas paragens, não o incomodavam. Seu cavalo baio o levou passo a passo até o estábulo indicado por um transeunte. Depois de deixa-lo aos cuidados do cocheiro, o forasteiro se dirigiu ao hotel ‘Quatro Ases’, perto dali, o único do lugar.

– Um quarto sem percevejos e água para lavar-me – disse tranquilo a um sujeito calvo e obeso que estava atrás de um balcão tosco no saguão do hotel.

– Pois não Sr. … Sr….

– Rogers, Jeff Rogers.

– Sim senhor, assine aqui. Vai só passar a noite ou vai ficar aqui alguns dias?

– Talvez fique alguns dias, ou meses se eu gostar do lugar e conseguir emprego. – Respondeu Jeff sem interesse, e perguntou:

– … E então, o quarto?

– Ah sim, pois não. Quarto 07, suba e vire à esquerda.

Duas horas depois.

– Um whisky tragável – disse Jeff com voz seca ao ‘barman’ que o serviu rapidamente. Em seguida sentou-se a uma mesa perto do balcão e passou a observar o movimento do saloon. Daí a pouco ouviu uma voz irônica:

– Olá Morrison, conseguiu ajudantes?

– Ainda não Sr. Heb. Por enquanto.

– Duvido que consiga ajudantes Morrison. Ninguém teria coragem…

Após esse breve comentário, Charles Heb, o único banqueiro da cidade, se retirou do saloon.

Morrison estava ali a poucos meses ostentando uma estrela no peito, exercendo a profissão de xerife. Conhecia praticamente todos os habitantes da pequena cidade e notou a presença de Jeff.

– Percebo que é novo por aqui?

– Sim, cheguei à pouco…

– Espero que não me cause aborrecimentos… Já os tenho de sobra!

– Da minha parte nada tem a recear.

– Assim espero… – retrucou Morrison sem vontade de esticar o papo e saiu do saloon.

O xerife acabara de sair quando seis homens entraram no saloon. Eram Sancho Perez, capataz do Rancho “Barra Y” e seus companheiros. Sancho era grandalhão, moreno queimado de sol, com grandes bigodes e usava um grande ‘sombrero’ caído nas costas. Tinha um jeito brincalhão e gozador. Seus companheiros, dois mexicanos e três americanos eram carrancudos e grosseiros.

– Olá muchachos, – disse Sancho – não nos convida a entrar. Sancho e seus amigos querem tirar o pó da garganta…

Entre uma piada grosseira e sem graça e outra, o mexicano continuou provocando todos com piadas de mau gosto. Ninguém ali achava graça naquilo mas ninguém reagia, pois quem tentasse fazê-lo corria o risco de mudar-se para a ‘chácara do coveiro’. Hoje, no entanto, Peter Daves, capataz de um dos pequenos ranchos à leste de Carson City estava no saloon… e bêbado! Não suportando os insultos de Sancho, levantou-se da cadeira, sacou o colt e gritou meio fora de si.

– Sancho … você é um canalha!

Mal acabou de falar… tombou sem vida, com um balanço na testa. Sequer teve tempo de acionar o gatilho. Sancho soprou a fumaça do cano do seu colt e perguntou com sarcasmo:

– E então ‘muchachito’… ainda afirma que Sancho Perez é um canalha?

Sem resposta virou-se para o balcão para pedir mais um trago. Nesse momento notou a presença de Jeff, que permanecera ali imóvel, aparentemente alheio a tudo que se passava no local.

– Hei muchachos, temos um forasteiro na cidade. Como é seu nome gringo? – perguntou o mexicano.

Jeff fingiu indiferença.

– Responda a Sancho gringo cretino! Quem é você?

– Alguém que você não conhece – respondeu Jeff, provocando a ira de Sancho, o qual não estava acostumado a ser tratado daquela maneira.

– Foi você quem pediu gringo sujo – vociferou o mexicano enquanto sacando o colt.

A bala passou assoviando aos ouvidos de Jeff enquanto ele rolava no assoalho poeirento do saloon e numa fração de segundo disparava seu colt, fazendo voar a arma da mão de Sancho, antes que ele apertasse o gatilho pela segunda vez. Sancho e seus capangas e os demais presentes ficaram boquiabertos com tamanha agilidade e rapidez no gatilho. Jeff deixou cair a arma no coldre, levantou a cadeira que derrubara, jogou uma moeda sobre o balcão e encaminhou-se para a saída do saloon. Quando já estava no meio da rua ouviu às suas costas:

– Tome gringo maldito…

O forasteiro jogou-se ao chão ao mesmo tempo em que sacava e fazia fogo contra dois dos capangas de Sancho. Os dois pistoleiros tombaram de joelhos no meio da rua cada qual com uma bala no peito. Jeff levantou-se tirando o pó da roupa e apanhou seu chapéu a três passos, com um buraco na copa. Uma das balas havia atravessado o chapéu. Olhou com desprezo, ajeitou-o na cabeça, tirou-o novamente e com ele na mão se dirigiu ao hotel sem dar importância aos olhares incrédulos das pessoas.

Madrugada. Completo silencio em Carson City. Só se ouvia de vez em quando o ladrar de algum cão vadio tentando espantar o frio. Duas sombras silenciosas se esgueiraram pelo corredor do hotel e pararam em frente o quarto 07. Ainda em silencio e cautelosamente arrombaram a porta e… Nesse momento o silencio foi cortado pelo som de doze disparos de colts sobre um vulto na cama onde Jeff dormia. Em seguida os dois pistoleiros desceram rapidamente a escada do hotel recarregando as armas. Quando chegaram à rua em frente ao hotel, pararam em cima de uma sombra no meio da rua.

– Olá senhores, procuravam por mim? – falou Jeff irônico. Antes de qualquer resposta o forasteiro sacou o colt e fulminou os dois facínoras, cada um com um balaço na testa, sem lhes dar tempo de pressionar os gatilhos das armas já empunhadas.

Jeff ainda estava recarregando o revólver quando ouviu a voz do xerife atravessando a rua, empunhando uma Winchester, dizendo:

– Mãos ao alto forasteiro. Vejo que você não deu crédito às minhas palavras. Alguns dias vendo o sol nascer quadrado vai lhe clarear as ideias e fazê-lo dar ouvidos a uma autoridade!

Morrison disse isso em tom severo e respeitador, mas a reação de Jeff foi de indiferença.

– Sinto muito xerife… Não tenho vocação para passarinho. Passe pelo quarto 07 do hotel e encontrará algo interessante. Vou dormir nalgum lugar mais seguro. Amanhã passarei pela delegacia e talvez até aceite ser seu ajudante… se me convidar! Até amanhã xerife.

Estas palavras desarmaram Morrison. Sem reação, o xerife coçou a cabeça e foi dormir.

 

* O segundo capitulo será publicado na próxima semana…

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