Vinte e quatro horas depois de matar a amásia ele chegou do trabalho, cortou o corpo em vários pedaços e saiu pela madrugada jogando os membros na beira das estradas.
O caso da perna de São João da Mata correu léguas… E alimentou a imaginação de muita gente na região!
Seria algum ritual macabro?
Seria vingança de algum mafioso?
Seria resposta de algum machista fanático que não liga a mínima para o que pensam as feministas ou os politicamente corretos?
Seria acerto de contas entre facções criminosas…?
Fosse o que fosse, uma perna, uma simples perna – aliás, uma perna e meia – certamente não levaria a polícia a lugar nenhum!
Mas a perna mulata e ligeiramente delicada tinha um detalhe, mais precisamente uma tatuagem, junto ao tornozelo!
Uma perna sozinha não leva a polícia muito longe… Mas na companhia de uma tatuagem, leva!
Para sorte da dona da perna jogada aos vermes na beira da estrada dentro de um saco plástico, dentre os policiais que buscariam sua identidade e o resto do seu corpo sabe-se-lá-onde, estava uma médica legista do PML de Pouso Alegre!
Na verdade, a única a se interessar pelo caso desde o momento em que desceu na ribanceira para ver a perna infestada de larvas. Afinal, uma perna inerte, separada do corpo, pressupõe um crime, e se há um crime, e um crime de ação pública incondicionada, logo, compete à polícia judiciária esclarecê-lo.
No entanto, se não havia ninguém reclamando a perna ou pedindo esclarecimento do inexorável crime, por que a polícia iria se preocupar?
A combalida polícia civil mineira, a quem cabe investigar os crimes e colocar os indícios e provas sobre a mesa do homem da capa preta, não dava conta de atender nem a demanda que pairava sobre a mesa do delegado! Por que iria se imolar com demandas que nem haviam sido levadas formalmente à autoridade?
Além do mais, vai que a dona da perna se arrependeu de ter feito a tatuagem e resolveu removê-la com perna e tudo… Por conta própria!
É pouco provável que fosse esse o caso…
De qualquer forma, a polícia civil, por assim dizer, mal tem material humano para cuidar dos vivos, que dirá dos mortos!
No entanto, se a polícia civil enquanto instituição a quem cabe investigar e esclarecer crimes de ação pública não se interessava em investigar o caso da perna tatuada, um policial – mais precisamente uma policial – se interessou. E ela formou logo uma linha de investigação…
Para a arguta legista, a dona da perna tinha envolvimento com… drogas! Ou com prostituição…
Tatuagens não são privilégios de pessoas que levam a vida à margem da lei. Mas dificilmente se vê uma pessoa envolvida com drogas ou prostituição que não tenha tatuagens!…
- Pessoas com ‘certas’ tatuagens reduzem muito a expectativa de vida – diz a medica em tom jocoso, com frequência. Por isso, confiando no tirocínio, concentrou seus esforços investigativos nesta linha de raciocínio.
Nos dias seguintes dezenas, centenas de ‘garotas de programas’ desfilaram na tela do seu notebook. Belas garotas: brancas, negras, mulatas, ninfetas, maduras, sorridentes, sérias, altas, baixas, esbeltas, ‘cheinhas’, algumas de corpo perfeito, outras nem tanto! Mas nada disso tinha importância…
A ‘investigadora’ estava interessada apenas nas pernas das garotas… Mais precisamente nas pernas tatuadas!
A pesquisa nos sites do ramo trouxe uma revelação surpreendente: muitas de suas conhecidas, na maioria estudantes universitárias mantinham um book de garota de programa…
O apelo da legista na imprensa local, inclusive com exibição da perna tatuada – autorizada pela autoridade policial com esse fim – deu resultado. A perna foi longe. Dois dias depois a ‘investigadora de branco’ recebeu uma mensagem da Bahia.
– Minha neta tem uma tatuagem parecida com essa. Ela mora em Silvianópolis e sempre faz contatos com a gente. Mas já tem mais de uma semana que não dá notícias – dizia a avó da baianinha…
As outras quatorze páginas desta macabra história recente estão no livro “Quem matou o suicida”… Adquira o seu através do site acima!