Éramos 11…

Caminhando com fé!

 

Criada em 2011, a romaria que homenageia o santo e o romeiro – in memoriam – Antônio Maria Claret, está na sua oitava edição. O trecho de 150 km entre Pouso Alegre e Aparecida, incluindo atalhos por estradas de terra, trilhas e trilhos, sempre com caminhadas noturnas, é feito em três dias, no final de semana de Corpus Criste – geralmente no final de maio ou inicio de junho. Este ano, por conta de problemas físicos do idealizador da romaria, pela primeira vez a caminhada aconteceu neste primeiro final de semana de agosto. Devido a mudança de data, desta vez a romaria teve onze participantes.

Calos, bolhas, assaduras nas virilhas – e até nas axilas -, inchaço de joelhos e tornozelos, às vezes diarreias, tendinites e outras indisposições físicas fazem parte desta jornada. No entanto, com fé e determinação, a maioria dos romeiros supera tais dificuldades e, ainda que nalguns trechos tenham que apelar para ‘carro de apoio’, seguem em frente. Intercalando terços com piadas, ora todos agrupados, ora em dupla fazendo confidencias e contando histórias pessoais, dormindo em pousadas e às vezes estendidos em colchonetes sob marquises ou beira de ranchos, quase todos, de um jeito ou outro chegam ao fim da caminhada. Alguns, no entanto, avariados no primeiro trecho da caminhada, embarcam no carro de apoio e na primeira oportunidade voltam para casa. Foi o caso do romeiro Cesinha Vasquinho. Ele que já fizera esta mesma jornada há dois anos tentou fazer novamente mas a tendinite não deixou. Teve que acabar o primeiro trecho no banco da caminhonete e pegar o ônibus de volta em Paraisópolis. Éramos 11… Sobramos 10!

Este ano, além do frio tradicional, especialmente no segundo trecho quando dobramos a Serra do Mantiqueira, enfrentamos também a chuva! Ela chegou nos quilômetros que antecedem Paraisópolis. Cada um improvisou como pode as capas e guarda-chuvas, mas ninguém ficou sem molhar os pés. Não reclamei. O barulho da chuva batendo no pano esticado da sombrinha vermelha a um palmo da minha cabeça era música para meus ouvidos! Aliás, matei a saudade da chuva. A segunda noite de caminhada foi toda debaixo de chuva mansa. A terceira foi sob o céu estrelado e a luz tênue de um quarto de lua. No final da manha de domingo, chegamos.

Chegamos cansados, suados, fedidos, exauridos, alguns arrastando uma perna, mas, ao chegar diante da imagem de N.S.Aparecida, a Padroeira do Brasil – ou simplesmente… “Nossa Maezinha” -, que nos manteve em pé e nos levou até lá, lavamos todo cansaço e feridas com as lagrimas da emoção!

Não fomos cobrar, não fomos pedir, não fomos pagar… Fomos agradecer! Cada romeiro que tem fé… sabe onde o calo aperta! Cada um que tem filho, que tem esposa, que tem saúde, quer tem emprego, que tem uma vida perene e harmoniosa… sabe o quanto vale o manto protetor da “Mãezinha”!

Em Pindamonhangaba dormimos cerca de quarenta minutos no meio da madrugada, estendidos – que ironia! Romeiros de Nossa Senhora – sob a marquise de uma igreja evangélica! E só não dormimos melhor porque meia dúzia de cachorros naquele quarteirão latiram o tempo todo!

 

Peculiaridades da 8ª Romaria Sano Antonio Maria Claret 2018

 

– A primeira foi a mudança de planos do romeiro Marquinhos. Poucas antes de entrar em campo, quero dizer de dar os primeiros passos. Ao pegar o resultado de um ‘checape’, às quatro da tarde de quinta-feira, ele descobriu que tem apenas 01 rim! O médico recomendou, no mínimo, cautela. Mas Marquinhos não desistiu da viagem… Foi no carro de apoio! Aliás, função que exerceu com alegria, humildade e companheirismo ao lado do veterano e competente parceiro Carlos Henrique “Japão”.

– Na nossa primeira parada na ‘rodoviária’ do Itaim, como nos anos anteriores, lá estava Luciano Reis, com um caldeirão de canjiquinha… impossível comer uma tigela só!

– Acostumados a dormir durante quase uma hora sob a marquise do “Carrefulvio”, desta vez tivemos um revés! Mal havíamos pegado no sono, os funcionários abriram o supermercado… Sábado era dia de assar frango! Eles chegaram mais cedo e nos arrancaram dos braços de Morfeu!

– Em Pindamonhangaba dormimos cerca de quarenta minutos no meio da madrugada, estendidos – que ironia! Romeiros de Nossa Senhora – sob a marquise de uma igreja evangélica! E só não dormimos melhor porque meia dúzia de cachorros naquele quarteirão latiram o tempo todo!

– Por conta da chuva, que mesmo fina fez questão de nos acompanhar durante toda a noite de sábado, o grupo chegou avariado à Estação Lefreve no final da manha. Por isso optou por descer os últimos dez quilômetros do trecho até a pousada em Piracuama no carro de apoio, evitando assim a descida pelos trilhos da linha férrea. Mas nem todos estavam avariados…Eu, ‘atleta’ e mais ‘novo’ do grupo, estava inteiro. (devo dizer que na noite anterior, ainda no hotel em Paraisópolis, tive uma ‘conversa franca’ com a “Maezinha”, sobre minha condição física). O veterano e bom companheiro sargento Edson Machado, sempre esbanjando disposição e vigor físico, também! Por isso descemos lado a lado, contando estórias e estreitando nossa amizade e respeito, pelos trilhos da linha férrea.

-A ‘alvorada’ dos romeiros – por volta de sete da noite – era sempre ao som de “Pavão Misterioso”, de Ney Matogrosso, na voz de Claudio Lins…!

– É voz geral que a cada ano que passa Marcelo Matos está cada vez mais dócil. O progresso com relação a este ano, deve-se à chegada do meu neto Caio, dizem alguns!

– Já o Machado continua o mesmo… ora fala mais que o louro Jose, ora caminha longos trechos mudo. Alguns colegas dizem que ele caminha dormindo!

– Os irmãos – Luciano, Alex e Tiago – Reis, pela primeira se juntaram na mesma caminhada. Excelentes companheiros.

– Segundo o organizador da romaria, no ano que vem o Newton poderá fazer apenas a metade da caminhada… para completar a metade que ele fez este ano!

– Depois de oito anos, as piadas do Thiago “Falcon” “Braga” “Nobre” continuam as mesmas… Mas é difícil não rir da falta de graça delas!

Vinte e quatro horas depois de chegar em casa, de volta da 8ª Romaria Santo Antônio Maria Claret, já estamos prontos para a 9ª!

E viva “Nossa Mãezinha”!

4 thoughts on “Éramos 11…

  1. Top o texto, Chips! Resumiu muito bem nossa jornada, com o seu olhar de cronista talentoso. Você é um cara especial! Parabéns pelo vigor, físico e espiritual. Viva nossa mãezinha!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *