É que o crime aconteceu na há vinte anos e os responsáveis pela morte do comerciante não foram identificados e o crime prescreveu!
Familiares que chegaram ao sobradinho da Rua São Pedro no final da tarde daquele longínquo primeiro domingo de 1998 depararam com uma cena chocante: o corpo do comerciante de 68 anos jazia estendido no chão da cozinha. Havia manchas e poças de sangue por todo lado. Uma lesão grande na cabeça, próxima à orelha com afundamento de crânio, evidenciava que houvera luta feroz no local. O criminoso, para estar na cozinha da casa, era conhecido.
Familiares e policia fizeram várias perguntas:
– Teria sido um roubo malsucedido?
– Teria sido um caso passional? – ele era separado da primeira esposa.
– Teria sido algum atrito familiar com resultado acidental?
– Teria sido vingança de algum desafeto pessoal ou comercial?
Todas as perguntas ficaram sem respostas.
Nos dias que se seguiram dezenas de pessoas sentaram ao piano do paladino da lei na delegacia de homicídios e prestaram depoimentos. A policia chegou a deter alguns suspeitos, mas não conseguiu provas que os colocassem na cena do crime. Os irmãos Reanir de Lima, responsáveis por vários latrocínios na cidade por aquela ocasião, eram os principais suspeitos, mas também foram descartados. Nas semanas e meses seguintes, sempre que surgia uma pista, por mais tênue que fosse, a polícia ia atrás, mas sempre dava com os burros n’agua. Até que aos poucos, a medida que o crime se distanciava na curva do tempo, o assassinato do comerciante foi sumindo da memória das pessoas e da policia até cair no esquecimento e tornar-se apenas um maço de papel num arquivo morto. Oswaldo Fraga, pai de quatro filhos, dono de um mercadinho na entrada do bairro Santo Antônio, era uma pessoa simples, trabalhadora, muito conhecida e querida pelos parentes e amigos. Apesar disso seu inesperado e brutal assassinato virou apenas um dado na estatística criminal da cidade que até então não era tão violenta. O assassino aos poucos pode dormir tranquilamente debaixo do manto do mistério.
Quatro anos atrás recebi uma mensagem – como tantas que recebo – aqui no blog. Um leitor queria me passar algumas informações sobre um antigo crime acontecido em Pouso Alegre, caso eu estivesse interessado. Encontramo-nos numa movimentada pracinha da cidade. As informações eram sobre o caso “Oswaldo Fraga”! Segundo o leitor do blog o assassino do comerciante fora um parente dele, parente afetivo, que, portanto, o conhecia. O homicida, de idade próxima dos quarenta anos, viera de outro Estado com esse propósito e cometera o crime por encomenda. Naquele domingo mesmo, após matar o comerciante, o assassino dobrou a serra do cajuru – aliás, dobrou ao menos duas grandes serras para voltar para casa em outro Estado. “O” mandante do crime continua morando em Pouso Alegre… Não muito distante do local do sinistro.
Tais segredos haviam chegado casualmente ao conhecimento do leitor tempos antes e somente depois de sentir-se seguro decidiu confiá-los a mim diante da promessa de pés juntos que eu não revelaria seu nome.
As valiosas informações que poderiam esclarecer o assassinato do comerciante, foram levadas imediatamente ao delegado de homicídios. No entanto, carente de recursos e principalmente de pessoal, a policia civil não levou as investigações adiante… e o homicídio continuou enterrado!
Nesta quinta-feira, 04 de janeiro de 2018 o assassinato do comerciante Oswaldo Fraga completou 20 anos. O crime prescreveu, extinguiu, caducou, escafedeu-se, ‘já Elvis’! O assassino e seu mandante podem agora sair da toca e andar livremente por aí sem medo de serem investigados. Podem até dizer no barzinho da esquina o que fizeram, ou mesmo confessar ao delegado de policia que mataram o comerciante, que jamais serão presos ou condenados!
O cidadão que obteve as informações fez a sua parte… O Estado não fez a sua!