Apesar de ser a sétima caminhada repetida esta também teve suas peculiaridades…
Teve peregrino ‘debutante’…
Teve peregrino que viu assombração!
Teve peregrino empurrando Kombi fundida morro acima…
Teve peregrino abandonando uma cueca em cada pousada – seria algum fetiche?
Teve peregrino pulando no mato para não ser atropelado pelo trem…!
Teve peregrino precisando de carona no carro de apoio.
Teve muita reflexão, alegria, diversão, bom humor, cansaço, superação de limites…
E foi coroada com a emoção de sempre, ao concluir a caminhada e entrar triunfante na casa da Mãezinha, com a missão cumprida!
A caminhada começou, como sempre, com uma hora de atraso. As oito da noite já se ouvia o toc-toc compassado dos cajados de bambu batendo no asfalto frio das ruas do Arvore Grande. A primeira parada foi no bairro dos Ferreiras, para o primeiro lanchinho. E o lanchinho caiu do céu! Renovou as energias na hora certa, pois um quilometro depois, tivemos que empurrar uma Kombi com o motor fundido, por mais de cem metros morro acima na subida do Itaim.
O esforço de bons samaritanos ajudando a Kombi velha do agricultor na subida, foi recompensado meia hora depois… Ao chegarmos na parada do Itaim, lá estavam o Tiago e o Luciano Reis com um belo caldeirão de Canjiquinha com costelinha de porco à nossa espera!
Dos treze peregrinos, Tiago Batista, Marcelo Matos, Rick, Machado, Luciano, Airton Chips, Marquinhos, Rodrigo e Luizão eram veteranos. Edão, Elbert, Alex e Gil eram os ‘debutantes’.
E os marinheiros de primeira viagem surpreenderam. Edão não deixou ninguém andar na frente e imprimiu um ritmo forte à caminhada. Até Elbert, do qual duvidávamos, andou na frente… Alex, inseparável do irmão Luciano, não reclamou nem das piadas sem graça do Tiago. Gil comeu pelas beiradas e foi um dos mais emocionados na chegada. Aliás, marcante sua emoção ao falar do propósito da sua caminhada!
Num trecho do caminho antes de Sapucaí Mirim, no meio da madrugada branca de neblina, um dos parceiros se distanciou do grupo e … Viu uma assombração!
– Tinha um colega com colete há poucos metros na minha frente, no meio a neblina… Eu apertei o passo para alcança-lo… de repente ele sumiu no meio da neblina! – contou ele.
Será que era mesmo assombração?
Um dos romeiros, apesar de veterano, errou na medida das cuecas, e pagou caro… Em cada parada deixou uma cueca encharcada de sangue para trás!
As ausências
Um grupo de 12 ou 13 pessoas caminhando junto durante vários dias deixa algumas marcas. Impossível não observar o comportamento individual dos companheiros e alguns ‘lances’ durante a caminhada.
* Segundo os parceiros, o Marcelo estava menos cítrico este ano!
* O Tiago ainda é o contador-mor de piadas… Mesmo não tendo graça!
* Alguém sabe porque o jacaré foi preso?
* Este ano não tivemos o desafio dos 50 metros perto de Roseira. É que o desafiante estava ‘avariado’! Ainda bem que não teve, senão o Edão ganharia fácil…
* Dentre as ausências deste ano, a mais notada foi a do Bruninho. O grupo ficou sem ter a quem zoar! Em três viagens seguidas ele conseguiu caminhar quase três quartos do trecho. Na quarta viagem ele completaria uma caminhada. Portanto, embora tenha saído três vezes para ir à Aparecida à pé, ele nunca foi…!
* Marcelo e Rick receberam o cartão de prata, que homenageia quem completa 10 anos de caminhada. (embora o Rick já tenha ido mais de trinta vezes, pois tem ano que vai uma vez em cada estação). No caso do Bruninho Abrantes, que precisa de quatro romarias para contar uma, para ganhar o cartão de prata ele terá que ir mais 37 anos!
Catando plásticos e latinhas na serra…
Beiras de estradas e de trilhas Brasil afora, infelizmente, servem de descartes de lixo de toda espécie. Latinhas, garrafinhas pets, embalagens de salgadinhos, materiais estes que demoram décadas para serem consumidos pela natureza, são dispensados ao longo das trilhas dia e noite. Ano passado resolvemos recolher o lixo deixado ao longo da trilha que antecede Piracuama, do lado de lá da Serra da Mantiqueira. Em três quilômetros de trilha, de improviso, sem sacolinhas, recolhemos mais de sessenta itens. Este ano levamos sacolinhas. Enchemos quatro sacolinhas e um fardo de lixo reciclável ao pé da serra.
Carros de apoio ou de anjos?
Depois de fazer sua primeira viagem a pé em 2014, Japão decidiu continuar na romaria como apoiador. Guilherme está no grupo desde sua criação em 2011. São eles que levam agua, comida e nossas malas – e as vezes alguns malas! A cada ponto de parada lá estão Guilherme e Japão com agua fresca, lanche e café quentinho. Sabem onde está cada mala, cada blusa, cada colchonete. Dormem tão pouco quanto os peregrinos. Estão sempre prontos para resgatar um peregrino que sofreu uma baixa. São muito mais do que simples apoiadores… São cozinheiros, garçons, camareiros, enfermeiros, confidentes e amigos. Um exemplo vivo de servidão. E sentem a mesma emoção dos caminhantes na chegada.
Amigos de caminhada
A maioria das romarias à Aparecida tem sua data programada para certa data do ano. Uns vão por ocasião do Dia de Nossa Senhora, o 12 de outubro; outros vão por ocasião da Semana Santa; outros por ocasião da Lua Cheia num determinado mês. A nossa acontece todo ano por ocasião de Corpus Christi. Em nossa jornada todo ano ‘esbarramos‘ em varias romarias. Já se tornou rotina alternarmos alguns trechos da caminhada com as romarias do Leandro do Sertãozinho e Celso do Foch. Ora um passa pelo outro, ora outro passa pelo um e no final nos encontramos no mesmo destino… na casa da nossa Mãezinha! E a amizade se estreitando!
A força da fé
Como nas caminhadas anteriores, aprendemos muito. Aprendemos sobre fé, sobre limites, sobre superação. Aprendemos conhecer as pessoas ao nosso lado. Aprendemos que as fraquezas ou vícios de uma pessoa não são importantes. Elas resultam talvez da falta de luz ou de escolhas sem orientação. Mas o que importa são suas virtudes. E aí passamos a respeitá-las e amá-las. Aprendemos que a força que conduz os romeiros não vem de sanduíches, barrinhas, bananas, maçãs, isotônicos e outros alimentos… Ela vem da alma, vem da fé, do motivo, do propósito que nos leva a fazer a caminhada! Por isso muitos curiosos começam e não terminam a caminhada… Porque falta o propósito! Assaduras, bolhas nos pés, dores nas articulações, cansaço não impedem o peregrino de caminhar… Se ele tiver um motivo para isso! Há, no entanto, lesões mais sérias como o rompimento de um músculo ou de um tendão do tornozelo ou do joelho que impede que o órgão obedeça a ordem do cérebro. Tiago, que aguarda agenda para fazer cirurgia no tendão, foi assim mesmo. E por alguns quilômetros teve que apelar para o carro de apoio.
Rodrigo, na terceira caminhada, sentiu o joelho. Na descida da trilha da serra, o joelho abandonou. Ele ainda tentou outras duas vezes mas o joelho não obedeceu. Nos dois últimos quilômetros de caminhada, com ajuda de dois cajados e com a visão da casa da Mae à sua frente e … com lagrimas, ele chegou andando! Aliás, se conhecermos a história de vida familiar recente do Rodrigo, fica fácil entender porque algumas pessoas deixam o conforto do seu lar num final de semana de inverno para caminhar por três dias e noites por estradas e trilhas até o Santuário daquela que consideram sua mãe! É que “ a fé em Deus nos faz crer no incrível, ver o invisível e realizar o impossível”!
Assim foram nossos 154 quilômetros de Pouso Alegre à Aparecida, à casa de nossa Mae… Caminhando com fé!
Ola Chips…que linda mensagem! !! De fato espiritualidade é o grande segredo para ser feliz….que Maria os retribua com saúde e paz…fica a dica: “não somos seres humanos com experiências espirituais, somos seres espirituais com experiências humanas”..Abraços