A chuva caia fina, pouco mais que um sereno no inicio da madrugada de final de abril. O outono ainda era um adolescente, mas o frio do inverno naquela época não esperava a estação oficial para bater na porta… E na pele! Era uma quarta feira quase morta. A única rua da cidade que ainda mostrava sinais de vida era a Davi Campista. Pedro Pedreiro desembarcou de um caminhão de entregas perto do Hotel Cometa e seguiu na direção do infante bairro Jardim América, que não tinha ainda quarenta casas. Ao passar pelo muquifo, quero dizer, boteco do Joao Natal, no inicio da Silviano Brandão percebeu pela tênue luz que escapava pela metade da porta de aço arriada, que o boteco estava aberto. Espiou por baixo da porta e pode ver um sujeito dormindo debruçado sobre uma mesa, certamente embalado por Severina do Popote, e um casal se esfregando no balcão, cada um com um copo e um cigarro na mão enquanto o baixinho e narigudo João Natal cochilava na outra ponta do balcão com um radinho chiando ao pé do ouvido! Entrou e pediu uma cangibrina para espantar o frio! Tomou três! E rumou para casa! Agora mais animado! Qualquer cidadão no seu lugar seguiria pela Silviano Brandão até a Campos do Amaral e aí sim teria que cortar a “Zona”. Pelo menos era um trecho curto. Passar pela Davi Campista em horas mortas não era uma atitude muito sensata. Era um antro de perdição. A confusão morava ali. No mínimo chegaria em casa cheirando a perfume de pomba gíria e seria confusão na certa! No entanto, depois de três doses da ‘marvada’ no eterno decadente boteco do João Natal, todos os empecilhos saíram do caminho. Além do mais, Pedro Pedreiro tinha inclinação para aventuras e o habito de tomar umas biritas por ali, apreciando as belas coxas das morenas de vida fácil, embora fosse casado e bem casado com a baianinha Colombina, rechonchuda e de seios fartos. Resolveu cortar caminho pelo ‘paraíso do baixo meretrício’. Virou a Rosário e sete ou oito passos depois já estava na famosa Davi Campista. Se estivesse sóbrio certamente seguiria em frente, cruzaria a Tiradentes e viraria sem problemas na Campos do Amaral, mas… Resolveu tomar mais uma na boate da Margarida Leite! Mesmo sabendo que ali uma dose de ‘rabo-de-galo’ custaria quase meio dia de trabalho de servente!
A vitrola tocava uma musica muito sugestiva para o local: “Ebrio de Amor”, seguida de “Dama de Vermelho”! A ‘dama’ Margarida Leite, – que seria assassinada pelo gigolô Faissal dez anos depois – já no crepúsculo de mulher da vida, era agora mulher de comercio… Era a mais rica cafetina da Davi Campista de então. Como ela fora uma das prostitutas mais cobiçadas do lugar, sua casa era agora a mais movimentada. Antes o corpo curvilinio e cheio era a atração… Agora era a casa! Quem entrasse na sua casa tinha que ficar um pouco mais… E Pedro Pedreiro ficou! Pedro Pedreiro – que na verdade era servente – ficou por ali em meio às luzes vermelhas, aspirando a mistura de Agua de Colônia com Dama da Noite, Martini, Cuba Libre e aguardente de cana, ouvindo Pedro Bento & Ze da Estrada, Celinho e Ramon no acordeon! Quando percebeu que o movimento já raleava olhou para o relógio Seiko de pulso – mas que trazia no bolso por causa da pulseira quebrada – e viu que faltava pouco para quatro da manhã, saiu apressado e rumou para casa pensando com seus botões…
– Hoje a Colombina me tira o couro…!
Sim. Pedro Pedreiro ficou sem o couro…
Mas não foi a esposa, a mulatinha bem feita de corpo, talvez muito mais bem feita de que dezenas da mariposas das boates soturnas da Davi Campista – de 29 anos, dez a menos que ele, quem tirou!
Quando Pedro virou a esquina da Francisco Sales o couro comeu! Do nada surgiu um cavaleiro montando um cavalo preto e
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