Quem é o indigente do Rio Sapucaí?

Indigente

No ultimo sábado de abril de 1981 eu, o parceiro Adair Pezão e os peritos Jadir e Tiãozinho fomos “fazer um local de encontro de cadáver” nas margens do Rio Sapucaí. O corpo fora encontrado por um pescador e, como o rio estava alto – final da enchente das goiabas – e ele insistia em continuar descendo o rio, o pescador o amarrou pelo pé com uma cordinha de nylon no galho de uma arvore ribeirinha. – Essa nossa aventura está pagina 83 do livro “Meninos que vi crescer” recém lançado por este blogueiro que vos escreve! – O cadáver de um negro forte de cerca de 30 anos levava na algibeira da única peça de roupa que vestia uma bermuda jeans quase estourando pelo inchaço do corpo, uma caixa de fosforo Ipiranga com seis ou sete palitos. Sem nenhum documento, sem nenhuma informação sobre sua identidade ou procedência, ele foi sepultado numa cova rasa – sem caixão! – no cemitério de São Sebastião da Bela Vista com alguns milhares de mosquitos multicores que insistiam em banquetear e festejar seu corpo rotundo e putrefato! Apesar da falta de parentes na solenidade de despedida comandada pelo perito Jadir – que se limitou a dizer ao coveiro: -Pode virar! – seu enterro foi talvez o mais concorrido da historia da pequenina São Sebastião da Bela Vista… À exceção talvez dos enfermos que não podiam sair de casa, toda a população estava no cemitério no final daquela ensolarada manhã, se escondendo do sol forte atrás de túmulos, debaixo de guarda-chuvas, tentando não vomitar nas pessoas da frente por causa da catinga, para curiosar e ver seu corpo putrefato, irreconhecível descer à ultima morada! “O primeiro indigente do Rio Sapucaí” jamais foi identificado, jamais foi procurado e nunca mais saiu daquela cova rasa!
Trinta e três anos depois a historia tende a se repetir…
Foi encontrado boiando nas aguas do Rio Sapucaí, na manha deste sábado, 11, o corpo de um homem aparentando entre 25 e 30 anos. O pescador Messias Pereira Filho estava de canoa dando banho nas minhocas quando de repente avistou o corpo encostado a uma pedra na altura do bairro “Porto dos Vianas”, Rancho do Ronan Vieira. Para evitar que ele continuasse ao sabor da correnteza, o pescador usou um pedaço de arame para prender o morto à margem e fazê-lo esperar pela policia. O cadáver já em inicio de putrefação, trajava calça jeans e sapatão rustico marron. Além de ‘marcas’ no pescoço e sangramento bucal, à primeira vista os policiais não denotaram qualquer tipo de violência externa. O que mais chamou a atenção na macabra cena, é que na margem do rio, próximo ao local onde o corpo foi encontrado, havia uma cruz de madeira, fincada na terra, sugerindo uma ‘despedida’ por suicídio. Nas vestes do provável afogado não havia qualquer documento, papel ou indicio que pudesse identificá-lo.
O corpo do Indigente do Sapucaí em Turvolandia foi provisoriamente enterrado em cova rasa no cemitério de Turvoalndia. Nos próximos dias deverá ser exumado para se investigar sua causa mortis.
Independente dos motivos que tenham posto fim à vida do cidadão encontrado boiando no Rio Sapucaí em Turvolandia, se não for identificado, ele será esquecido e terá o mesmo destino do “Primeiro indigente do Rio Sapucaí” que ajudei a sepultar no cemitério de São Sebastião da Bela Vista em 1981… Ou seja, será apenas personagem de mais uma crônica policial…!

OBS: A idade aparente de 25 a 30 anos informada pelos policiais e testemunhas do encontro do cadáver é muito relativa. Qualquer morto de muitos dias, especialmente os conservados na agua, podem disfarçar idade, ou seja: ele pode ter entre 20 e 40 anos ou mais! Portando, se você tem parente ou conhecimento de algum homem branco nesta faixa etária que esteja desaparecido, entre em contato com a policia!

 

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