Há anos o comercio ilegal de drogas no Brasil, quiçá em todo o mundo, assunto diuturnamente mostrado pela imprensa, vem sendo discutido pelas áreas de segurança publica, saúde e pela sociedade. No entanto, tem-se feito pouca coisa de concreto para combatê-lo! E – o que é muito mais importante – para prevenir o uso e consequentemente o trafico do veneno social.
É evidente que a nossa participação ao comentar o assunto – que se não for resolvido ou pelo menos freado, será não apenas um grande ferida, mas o câncer social do século – é apenas uma gota d’água num incêndio. Mas, vamos fazer o heroico e quem sabe não tanto utópico assim, trabalho do passarinho que voa de encontro ao incêndio com a gotinha d’água no bico.
Falar da erva daninha que cresce e se alastra dia a dia requer estatística e embora não a tenhamos em números oficiais, conhecemos a realidade pela vivencia com ela. Há pouco mais dez anos, a cadeia publica de Pouso Alegre, batizada por nós de “Velho Hotel da Silvestre Ferraz”, abrigava cerca de 70 presos. Quando, em 2003 o numero de hospedes bateu na casa dos 100, parecia que o ‘barril de pólvora’ iria soltar ‘preso pelo ladrão’ e explodir. Com a construção precária e provisória de outros oito cubículos abafados, insalubres e malcheirosos, mobiliados apenas com colchonetes espalhados pelo chão, o presídio suportou 350 presos, até o mês de novembro de 2009, quando finalmente foi desativado e seus hospedes transferidos para o novo presídio localizado na confluência dos bairros Ribeirão das Mortes, Nossa Senhora do Pilar e Canta Galo, visto da BR 459 trevo de Silvianópolis. E, no ritmo que vai a ‘procura’ por hospedagem no – batizado por nós de – Hotel do Juquinha, na Copa de 2014 sua população poderá, sozinha lotar a Arena Corinthians – aliás muito sugestivo do ponto vista de ‘zoação’ dos torcedores adversários! – para ver a abertura do mundial. Sim, pois aos quase 350 que se mudaram da Silvestre Ferraz para o Hotel do Juquinha, somaram-se cerca de 80 que voltaram das penitenciarias de Contagem, Três Corações, Unaí e Juiz de Fora onde estavam por motivos de segurança. Sem contar que neste período, em 2008 e 2011, a APAC desafogou o ‘caldeirão’ em mais de 200 condenados que se tornaram “recuperandos”, pupilos de Mario Otoboni. Outros tantos hospedes com longas penas a cumprir ou com contas a ‘ajustar com os companheiros de caminhada’ ou por serem uma pedra no sapato da ‘gerencia do hotel’, ganharam ‘bonde’ para outras penitenciarias do Estado. Sem falar nos Mandados de Prisão que a policia só cumpre quando esbarra casualmente no condenado em blitz de transito! Ou seja; se todos os condenados pela justiça de Pouso Alegre tivessem que dormir uma noite num mesmo prédio, seriam necessárias pelo menos 1.200 ‘jegas’…!
Nos afastamos do assunto drogas? Não. Estávamos apenas pintando o quadro… Dos 70 presos em 2000, menos de 30% eram usuários ou traficantes de drogas. Nos últimos dez anos o quadro inverteu! Hoje mais de 70% são traficantes ou furtaram para sustentar o vicio! E não podemos esquecer que neste ínterim, a Lei 11.343/06 descriminalizou o uso de drogas e sepultou a charmosa Lei 6368/76. Desde então usar drogas não leva mais ninguém p’ra cadeia. Chegamos a este ponto, porque, entre outras razões, enquanto o trafico viaja na velocidade de uma pedra de crack no cérebro, a prevenção e combate policial viajam na velocidade de um guaraná tubaína! Há dez anos a Delegacia Regional de Policia Civil de Pouso Alegre, tinha uma equipe de três detetives para investigar apenas trafico de drogas. Hoje tem uma equipe de dois investigadores! Dá para acompanhar o galope?
Há dez anos a população de Pouso Alegre somava 108 mil habitantes… Hoje soma mais 140 mil! Ano passado alguns setores da policia civil, acuados com o crescimento da criminalidade no Estado reclamaram da falta de pessoal… O Governo do Estado acenou com um concurso para aumentar o efetivo em 1.800 investigadores. A policia se acalmou, o ano passou, e o aceno do governo ficou só no aceno! Mês passado o governo finalmente abriu Edital de concurso… para 1.000 vagas! Se tudo correr bem os novos investigadores que serão contratados ao final do concurso começarão trabalhar lá para outubro de 2015! – O concurso para médico legista iniciado com a publicação do edital em fevereiro de 2013, formou 122 novos médicos legistas no ultimo dia 23. Como ainda não foram nomeados, eles começarão trabalhar em agosto… De Deus!!!
Na contra mão, tamanha a demanda pelo uso de drogas, os traficantes estão “terceirizando”. Como todos sabemos o garotão que ainda não completou 18 aninhos, é inimputável e não pode ser preso. Mas pode levar de um lado para outro os ‘patuazinhos’ da pedra bege fedorenta, os ‘fininhos’ da erva maldita! – Aliás, maconha está virando um habito restrito aos velhos ‘canabistas’… A droga mais popular dos anos 70,80 já não satisfaz a galerinha de hoje. Eles querem um ‘torque’ mais potente, querem ir de zero a 180kh em poucos segundos! O batismo sinistro agora é feito com crack ou cocaína! – O máximo que a policia pode fazer com ele é levá-lo para a delegacia, enriquecer seu dossiê – que será deletado quando ele completar 18 anos – e entregá-lo ao conselho tutelar se a mãe desacorçoada não puder comparecer à delegacia.
Dezenas dos hospedes do Hotel do Juquinha, são “meninos que vi crescer”… fazendo aviãozinho de drogas! Especialmente no bairro São Geraldo, o velho Aterrado, São João e outros cantos de Pouso Alegre. Em Passos, a bela Passos, margeada pelo Lago de Furnas, beirando os 110 mil habitantes, distribuição de drogas, furtos e roubos de carros e motos campeiam soltos. De 2010 para 2011 o numero de assassinatos saltou de 14 para 46! Em 2012 mais 32 passenses tiveram os passos interrompidos à bala ou a golpes de faca! O numero quase se repetiu em 2013, 29! Mais de 90% destes assassinatos foram motivados por drogas. Mais de 80% envolvendo “dimenor”, como vitima ou como autor! Para manter a estatística, no segundo domingo de janeiro e 2012, um garoto de 14 anos matou o padrasto com quatro tiros na cabeça e fugiu com outros dois delinquentes juvenis num carro roubado!
A ‘micro empresa’ dos aviõezinhos se expandiu tanto que virou pelo menos, ‘mini empresa’. Agora não estão mais distribuindo na rua. Montaram barracos para distribuir a droga!
Atendendo a denuncias de ‘amigos ocultos da lei’, todos os dias a policia militar sacode um barraco no velho Aterrado ou no São João e apreende pequenas quantidades de crack, maconha e cocaína mocosadas em quintais, no congelador, na espuma do colchão, no cesto de lixo do banheiro, num terreno baldio, ao pé de um poste ou não tão escondida assim! Afinal, os comerciantes da droga encontrados nos muquifos são quase sempre garotos – e garotas – de 14 a 17 anos! Não são alcançados pela lei antidrogas! Portanto recebem apenas um puxão de orelha. No dia seguinte – alguns na mesma madrugada! – voltam para o ‘trabalho’.
É… o trafico de drogas está baixando… De faixa etária! E o Estado, se pouco faz no combate, faz menos ainda na prevenção com educação.