Saímos da delegacia por volta de nove e meia da manhã num Opala Comodoro verde. Janelas abertas. O sonzão do toca fitas TKR espalhava pela rua a marchinha: “Chiquita bacana lá da Martiniiiica… Se veste numa casca de banana nanica…”! e outras marchinhas carnavalescas… Era sábado de carnaval de 1981.
O dono do carro, um jovem de uns vinte anos, filho do fazendeiro, dirigia. Um amigo tão jovem quanto dele, de São Paulo, ocupava o banco da frente. Eu e o detetive Adair no banco de trás do vistoso Opala. Nem na próxima encarnação eu poderia ter um daqueles, pensava eu, ainda estagiário na policia! Entramos pelo Faisqueira, Cristal e fomos parar numa fazenda no bairro do Brejal banhada pelo sereno e piscoso Sapucaí.
A investigação era simples. Ao chegar à fazenda na sexta feira o patrão notara que haviam furtado oito sacos de adubo do seu deposito. O suspeito do furto era seu empregado Zeca, que morava a cerca de duzentos metros da sede da fazenda numa casinha simples sem forro, cercada por um arvoredo na beira do rio Sapucaí. Fomos direto p’ra lá. Tínhamos que arrancar dele a confissão e recuperar a res furtiva.
– Meu pai falou que vai retirar a queixa se ele devolver – disse o roliço jovem de cabelos encaracolados caindo nos olhos!
Interrogamos a mulher do caseiro cercada por meia dúzia de barrigudinhos, desde o colo até os oito ou nove anos. Ela não sabia de nada, é claro! Além da casa simples de morada – sala cozinha, dois quartos, uma varandinha com fogão a lenha – havia um paiol, um mangueiro, um pequeno galinheiro cercado de bambu, coberto de sapé e uma casinha de despejo de dois cômodos debaixo das arvores. Revistamos tudo. Menos a metade da casinha cuja porta estava trancada.
– O que tem aqui dentro…? – Perguntou meu parceiro.
– Tem um cachorro aí dentro. O Zeca trancou porque ele é muito bravo – respondeu prontamente a mulher entregando a chupeta para o bebê gorduchinho no colo.
– Chips, fique aqui vigiando… Nós vamos buscar o caseiro na sede da fazenda… – Disse Adair.
Enquanto esperava meu parceiro voltar com o suspeito caseiro, resolvi…
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