… E foi autuado sem nenhum advogado para defendê-lo!
Era pouco mais de cinco da tarde de sexta feira 17, quando o gatuno entrou sorrateiramente no escritório de advocacia da Silvestre Ferraz. Embora esteja em liberdade condicional desde o dia 06 de março, ele não precisava de um causídico para defendê-lo. Ele queria outra coisa! Dim-dim!
Os sócios do escritório já haviam saído para o “happy hour”. No momento apenas a jovem recepcionista estava no prédio, arrumando as mesas para fechá-lo. Sua bolsa estava placidamente sobre a mesa da recepção quando o gatuno entrou. Alguns minutos depois ela a encontrou jogada num canto da cozinha… Seus 120 reais haviam viajado.
O gatuno que limpou a bolsa da secretaria, ainda teve tempo de observar os acessos ao escritório, possíveis rotas fuga ou esconderijo… Vai que a fome aperta e ele tem voltar novamente ao local do crime!
E voltou cedo! Na verdade voltou tarde da noite, muito tarde… Já de madrugada… Subiu na grade do vizinho, passou por cima do portão do escritório, entrou pelo corredor e foi direto à cozinha, cuja porta estava apenas cerrada. Revirou todos os gabinetes do escritório. Abriu envelopes, rasgou papeis, pegou um celular sobre a mesa, arrancou a televisão 21 da parede, pegou um aparelho de parabólica, uma toalha de rosto, colocou tudo em um saco e quando preparava para ir embora chegou o funcionário da empresa de segurança eletrônica que cuida do local. Que azar!! Havia esquecido do alarme! Bem que ele tentou arrancá-lo da parede mas não conseguiu.
A essa altura dos acontecimentos o advogado socio do escritório Walmir de Paiva Baggio, já havia sido arrancado dos braços de Morfeu pelo funcionário da empresa de segurança. Antes de entrar avistaram um vulto camuflado no chão da varanda da casa vizinha ao escritório. A lanterna do GM Irineu Rubens Pereira Junior, que fora chamado para ajudar a desvendar o mistério do alarme disparado às duas e meia da madrugada, mostrou o gatuno tentando se esconder no quintal vizinho. Não havia mais como fugir. Ele teve que pular o muro de volta e cair direto nos braços dos homens da lei.
Era Luiz Fernando Sales, 36 anos morador do velho aterrado. Na verdade nos últimos 10 anos ele mora mais no Velho Hotel da Silvestre Ferraz e no Hotel do Juquinha do que em casa, tamanha é sua capivara por delitos diversos, especialmente furtos. Luiz Fernando é um dos poucos ladrões solitários de hoje em dia. Daqueles que trabalham enquanto os outros ‘dormem’. Literal ou figuradamente, como no furto do dim-dim da jovem secretaria às cinco da tarde.
O furto qualificado, na calada da noite, no escritório de advocacia, seria apenas mais um furto solitário praticado pelo gatuno Luiz Fernando, exceto por um detalhe… Aconteceu de ‘parede-e-meia’ com a Delegacia Regional de Policia de Pouso Alegre!!! Mesmo assim, se o alarme da BV não tivesse soado, ele teria levado toda a rês furtiva dentro do saco para trocar por ‘pedra’, ‘erva’ ou ‘farinha’ no velho Aterrado.
– Faz dez anos que eu sou viciado. Uso o que tiver… Maconha, crack, cocaína – Declarou sem pudor o ratão de madrugada.
Mais um detalhe ligeiramente curioso na façanha do gatuno que tentou furtar na porta da delegacia, é que ele foi fritado no 155 qualificado e não apareceu nenhum advogado para acompanhá-lo! Que azar! Dentre os quatro sócios do escritório de advocacia, nenhum deles é criminalista…!
… Enquanto isso, o velhinho banguela sentado na cadeira de balanço na varanda, coçando a barbinha branca e rala, desabafa desacorçoado…
– Esse mundo está mesmo perdido… Agora já estão roubando até na porta da delegacia! Nem a policia não tem mais segurança! É o fim…!