Ele me fez transgredir a lei…

       Criado sem pai, e nos últimos 4 anos também sem mãe, Giuliano Tadeu Rezende, nascido em setembro de 84, desde pequeno optou pelo caminho espinhoso do crime. Furtos e roubos pés-de-couve, uso de drogas, brigas freqüentes em casa e na rua… Essa era a rotina no garotão alegre, de porte avantajado. Parece que ele se espelhava no irmão Fabiano, três anos mais velho, já cliente cativo do velho Hotel da Silvestre Ferraz.

      Aos dezesseis, com uma capivara de algumas léguas, teve o primeiro Mandado de Custodia expedido em seu desfavor. Eu e o parceiro Fernando Jardim, da Delegacia de Menores fomos buscá-lo em sua casa, na Rua Uyrapuru, no Vista Alegre. Sua desacorçoada mãe, que trabalhava até a madrugada todo dia, para sustentar os três filhos, disse desalentada…

– E uma pena ter que prendê-lo agora… faz uma semana que ele começou trabalhar na loja do Picapau, pela primeira vez! Mas lei é lei, vocês tem que cumprir…

      Quando chegamos à referida loja de materiais de construção, na Praça dos Cardeais, a poucos quarteirões dali, Giuliano estava sentado sobre o saco de cimento, esperando o caminhão para carregar… Sorrindo como sempre ele foi logo dizendo;

– Não vêm não Chips… Desta vez “tô de boinha”, to trabalhando faz uma semana!

       Confabulei com meu parceiro, fui até Giuliano, mostrei-lhe o Mandado e expliquei:

– O homem da capa preta cansou das suas estripulias… Mandou te fechar por 90 dias!

       Virei para o patrão dele e acrescentei:

– Vamos fazer de conta que não vimos o Giuliano hoje. Enquanto ele estiver trabalhando para você, nós não vamos ‘acháa-lo’. Mas o dia que ele parar de trabalhar pra você, me ligue! Três semanas depois ele ligou. Pegamos Giuliano dormindo às nove da manha no porão de sua casa.

       Nem o trabalho, nem os 90 dias no velho Hotel da Silvestre Ferraz e nem minha prevaricação foram suficientes para colocar Giuliano Tadeu Rezende nos trilhos! Pau que nasce torto…