O resgate do cãozinho Will…

Cachorros & cachorradas …

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          Se os astronautas Neil Armstrong, Edwin Aldrin e Michael Collins que pousaram na lua em 69, tivessem ficado por lá e somente agora voltassem à terra, levariam um choque de modernidade, de tecnologia e principalmente de moral que talvez os fizesse desejar a solidão deserta e gelada da lua. Se ouvissem dizer que as pessoas agora estão furtando até cachorro, é bem capaz que eles babassem de desgosto…

Quando escrevi a primeira matéria sobre furto de cachorro, “Madame “Jack” e suas cachorradas”, em 01 de dezembro de 2000, a empreitada de ganhar dinheiro com cachorro de raça ainda era coisa rara. Era preciso certa estrutura, muita lábia e um pouco de coragem.

Atualmente furto de cãezinhos de estimação já se tornou um furto vira-latas!!!  A pessoa vai passando pela rua, vê o bichinho, fala com ele, faz um cafuné, toma no colo e continua a caminhada. Se der B.O. basta dizer:

– Eu achei que o pobrezinho estava perdido…!

Na manhã do primeiro dia do ano, dona Deise Carolina da Silva, 26 anos, moradora da Av. Tiradentes, no Santa Luzia, esqueceu o portão de sua residência aberto. Quando se deu conta, seu fofucho Shih Tzu batizado de Will havia dobrado a serra do cajuru. Que desespero!!! Onde teria ido parar o pobre Will?

Depois de muito procurar em vão, Deise pegou uma fotografia do pequeno e alegre Will, reproduziu e espalhou os cartazes por toda cidade oferecendo uma gorda recompensa; R$ 150 reais.

No dia seguinte alguém ligou… Havia achado seu cãozinho de estimação!

Jeferson de Oliveira Tamassiro recolhera o cãozinho há poucos metros da casa da dona. Mas quem ligou para tratar da devolução e extorsão, quero dizer, da recompensa, foi a cunhada Gisele de Oliveira, de 27 anos, moradora de Congonhal. Ela entabulou diálogo quase choroso, dizendo que gosta muito de cachorro, que já havia se apegado ao bichinho, que seria muito penoso ter que ficar sem o cãozinho e pediu R$ 700 reais para devolvê-lo.

Deise, morrendo de saudade do ‘filhinho’, cujo preço de mercado oscila entre R$ 1,8 e R$ 2,5 mil reais, mas que para ela não tem preço, concordou em pagar para reaver seu xodozinho. No entanto, quando foi buscá-lo, não foi só …

Quando Gisele abriu a porta de sua casa para a ‘mamãe’ do Will, teve uma surpresa… Ela estava acompanhada do detetive Fábio Balca e um par de pulseiras de prata. Foram parar na Delegacia de Policia de Pouso Alegre.

Jeferson Tamassiro, o moço que ‘achou’ Will, disse o obvio ululante;

– Eu estava passando pela Avenida Tiradentes quando o cachorrinho entrou na frente do meu Fiat Uno! Eu peguei para evitar um acidente e ainda perguntei a umas pessoas por ali se sabiam de quem era… Ninguém soube dizer. Por isso eu levei para minha casa!

Gisele também tinha uma boa explicação na ponta da língua;

– O cartaz falava que tinha uma recompensa… Deise falou que me daria um filhote dele… Eu falei que um filhote custa 700 reais. Ela então ofereceu 7oo reais…!

Bem, o pequeno e alegre Will voltou para casa… De graça. O delegado Bruno Lopes Pereira estuda agora onde enquadrar o salvador de Will e a negociadora de recompensa. Se no 155, no 158 ou no simplório 169 do CP.

Enquanto isso, “amarre seu cachorro na coleira, amor”… Ou então ensine o bichinho a não falar com estranhos!      

 

“Madame Jack e suas cachorradas”

*Publicada por Airton Chips no Jornal do Estado em 01 de dezembro de 2000

 

       Atenção madames desavisadas e defensores de latildos indefesos. Apertem as coleiras, tranquem os portões e fiquem ligadas em Direto da Policia. Um novo golpe está na praça. Uma fina madame, um motorista trajado “a la Jarbas”, uma infante impúbere e muito papo de aranha podem levar seu cãozinho de estimação para um pulguento canil da rua São Jose ou para Ouro Fino..

Procuraram a Delegacia de Crimes Contra o patrimônio da 13ª  DRSP, duas madames paulistanas e uma manduana, para dar queixam de furto de seus cãezinhos. E não se trata de pulguentos e mal nutridos viralatas, não. Trata-se de mimados peludinhos ou não, acostumados a colos, mimos e berços de cetim, todos do mais fino pedigree. São cachorrinhos das raças Yorkshire Terrier, Poodle, Bichon Maltez, Schnauzer, Shih Tzu e Bichon Frizê. ‘Latildos’ cujos filhotes  custam entre R$ 800 e R$ 2 mil reais.

Há duas semanas a senhora Luzia Teixeira Costa da Rocha recebeu em sua residência no bairro Santa Terezinha em São Paulo, a visita de uma simpática, bonita e bem vestida mulher dos seus trinta e alguns anos, 1,68 de altura, falando alto e rápido de cima de um salto alto. Sem mais delongas a 171 foi logo abraçando, beijando e jogando confetes em seus cãezinhos, dizendo que eram os mais lindos do mundo e que ficariam ricas com eles. Na verdade estava apenas preparando uma tremenda cachorrada. Depois de meia hora de monólogo – só ela fala – a caridosa amante canina, ex-esposa de um bem sucedido empresário de Pouso Alegre, levou do canil de Luzia 08 filhotes e quatro matrizes de Yorkshire, Poodles e Bichon Frizê.

Dona Maria Consuelo Vecchi da Silva, moradora da Penha, São Paulo, também recebeu a visita da “perua”. Depois de alguns minutos de 171 envolvendo o motorista Vanil e a filha de 09 anos, lá se foram três filhotes de Schnauzer no palio da Finória.

O drama da viúva Leila Aparecida de Paula Roman, moradora de Pouso Alegre é ainda mais comovente. Ela entregou sua cadelinha maltês, 08 anos de carinho e mimos, de nome “Finha” à madame cadela, para acasalamento e nunca mais a viu. Sua filhinha Natalia, de 13 anos, criada com Finha, recentemente órfã de pai, ao perder a peludinha branca, ficou traumatizada. Depois de desfilar por vários canis na capital paulista, a cadelinha foi passada nos cobres e recheou a guaiaca da  finória.

E falando na madame, a 171 que impressiona pelo seu comportamento religioso – onde chega fala de Deus, ajoelha diante de imagens sacras, se benze e pede a benção para os donos da casa – chama-se J. L. e atende pela alcunha de “Jack”. Mora num apartamento alugado na Rua São Jose, onde mantêm um canil com cerca de 20 cãezinhos em situação precária de higiene. Seu principal argumento para levar na lábia incautas criadoras de cães de raça é a exaltação de seu canil de primeiro mundo. Mas foi num canil úmido, escaldante e fétido de fundo de quintal que os detetives Geraldo, Balca e Ozanam encontraram e apreenderam 43 Poodles, Schnauzer, Bichon Maltez e Shih Tzu em Ouro Fino, quase todos apropriados indevidamente em São Paulo, reconhecidos pelas vitimas Luzia Teixeira, Maria Consuelo e Leila Roman.

Jack foi convidada a visitar a Delegacia de Policia, onde sentou-se ao piano do delegado Gilson Baldassari e assinou um 168 do CP. Se condenada for, Madame Jack poderá se hospedar por até 4 anos no velho hotel da Silvestre Ferraz, tão soturno, abafado e fétido quanto o que mantinha os caros fofuchos em Ouro Fino”.

0 thoughts on “O resgate do cãozinho Will…

  1. na minha opiniao, se fosse o meu cachorro, e ele realmente tivesse saído de casa por uma falha minha, eu teria pago os 700 reais, obvio que a pessoa agiu de má fé, mas antes pagar do que ficar sem o cachorro, o cachorro é da mesma raça que o meu, e realmente vale até 3 mil. Se a pessoa pede ajuda e insinua a recompensa, não pode reclamar…
    Minha mae geralmente ve varios cachorros de raça, andando pelo bairro, e sempre liga para projetos sociais, avisando que existe cachorro X perdido por tal rua.
    A boa ação vem do coração das pessoas, algumas fazem por amor ao proximo e outras por dinheiro. Infelizmente é assim.
    Se uma pessoa pega meu cachorro das ruas, e cuida dele , eu realmente nao veria mal em pagar o preço exigido, antes isso do que correr o risco do cachorro nunca aparecer ou encontra-lo morto na rua. Já a pessoa que agiu de má fé é outro caso… esse Deus cuida..

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