Conheci Bérgson numa barraca da festa de Santa Rita do Sapucaí em 2006. Eu estava com amigos numa das mesas quando ele chegou todo garboso, cheiroso, estendeu o braço e cumprimentou  cada um de nós com um sorriso alvo de canto a canto da boca, como se fossemos velhos amigos, me chamando de ‘doutor’. Foi ao balcão, voltou em seguida com uma garrafa de Skol gelada, colocou na nossa mesa e disse:

– Essa é ‘por conta da casa’ doutor…

Quando ele se afastou perguntei ao Litle Jhony;

– Quem é a ‘figura’?

– Ah, é um 171 que mexe com polimento de carro… De vez em quando ele apronta uma…!

Assim era, assim é Bérgson da Silva, nascido em 1980 em Osasco, na grande São Paulo. Gosta de ‘puxar oreia’ com qualquer um, onde vislumbre alguma vantagem. Está no álbum da policia desde 2004. Esbarrei nele outras vezes em Santa Rita, sempre com sorriso alvo escancarado. Mas comigo nunca tropeçou na lei.

No final de 2007, com a chuteiras penduradas, voltei a vê-lo. Estava humildemente vestido, o sorrisão apagado… atrás das grades!

– Armaram para mim ‘seu’ Chips… – Respondeu quando perguntei o que estava fazendo ali.

Mas quem armou foi ele. Armou o bote e se deu mal. Foi pego dentro de uma republica de estudantes do Inatel, tentando furtar um notebook. E não foi o primeiro! De 2007 para cá passou mais tempo no Hotel Recanto das Margaridas do que na rua, praticando pequenos furtos sorrateiros em republicas, se favorecendo da ‘amizade forçada’ com estudantes.

Mês passado Bérgson quase assinou um 157. Num domingo a jovem S. procurou a policia dizendo que no sábado anterior Bérgson havia furtado seu veiculo enquanto ela passava pela rua. O delegado de plantão apurou que o buraco era mais embaixo. Na verdade eles eram namorados desde a época em que S. trabalhava como enfermeira no Hotel Recanto das Margaridas, onde ele estava hospedado. Depois de uma tentativa frustrada de reconciliação, Bérgson havia pego o carro para dar uma volta. O imbróglio foi desclassificado de 157 – Roubo –  para 168 – apropriação indébita!

Bérgson no entanto, continua com o 171 bem afiado!!!

No dia 22 ultimo, o cidadão Jairton Francisco Faria, 41 anos, teve sua caminhonete Chevrolet S10 furtada, na Rua Três Corações. No domingo ele estava na Feira do Automóvel de Pouso Alegre, chorando as magoas, quando Bérgson encostou. Como quem não quer nada lançou a isca;

– Eu sei onde está sua caminhonete!

– ?!?!?!

– Se você me der 500 reais eu te levo até o ‘cabrito’…

Uma hora depois Jairton estava, cheio de esperança, procurando sua caminhonete em Ipuiuna. Foram de  moto, engarupados. Chegando à capital da babata, Berguinho desceu da garupa da moto, deu um rolê e voltou com informações ‘quentes’;

– Sua caminhonete está com o “Cú de Pinga”! Ele quer 3 mil reais para devolver…! Pague a minha parte que eu vou negociar com ele.

A esposa de Jairton, que fora atrás do marido, de ônibus, adiantou a metade, 250 reais a Bérgson. Ele se afastou e voltou meia hora depois dizendo;

– O “Cú de pinga” vai devolver o cabrito por três mil, mas ele ta com medo de entregar aqui… Vai entregar em Pouso Alegre, na ponte do Aterrado…

Voltaram para Pouso Alegre, Jairton na moto, Bérgson e a esposa de Jairton no ônibus da Gardênia. – Contou a esposa que durante o trajeto de Ipuiuna para Pouso Alegre Bérgson aproveitou muito bem a viagem… Cheirou uma bela baranga de farinha.

Quando chegaram à rodoviária a PM esperava para dar as boas vindas a Berguinho…! Dali foram para o ponte do Mandu e quando lá chegaram… só o pó. Aliás, só as águas barrentas e poluídas do velho ‘manduzinho’ passavam lentamente sob a ponte. Como era de se esperar, nem a caminhonete e nem “Cú de Pinga” – se é que ele existe além da imaginação fértil de Berguinho – estavam lá!

Jairton e a esposa perderam a ilusão, perderam boa parte do  domingo e centos e poucos reais – o restante dos 250 ainda estavam com Berguinho – mas ganharam um prazer; ver o 171  sentar-se ao piano, receber as pulseiras de prata e voltar para o xilindró de onde saiu em agosto do ano passado… Desta vez para o Hotel do Juquinha.