Quando cheguei ao novo terminal de embarque/desembarque de Varginha fui direto ao banheiro. E fui pensando;
– Bem, este é novo! Deve ser limpinho e perfumado. Deve ser bem melhor do que o antigo, que mais parece banheiro de oficina mecânica…
Que decepção!!! Quanto à limpeza e higiene tudo bem, mas não tem espaço! Não tem área apenas para o xixi. Se quiser fazê-lo você tem que entrar numa das três baias com vazo sanitário e se contorcer para fechar a porta, que se move para dentro. Imagine com um bebê de colo!! Tão logo saí do banheiro pensei em comentar com minha filha;
– Construíram um terminal mais moderninho, mas o banheiro continua a mesma m…
O celular tocou! Abri meu protótipo de Ferrari amarelo, olhei o numero, era minha filha. Levei um tremendo susto! Ela entrara no banheiro feminino segundos na minha frente… Que motivos teria para me ligar de dentro do minúsculo terminal? Olhei para a horrorosa estatua de metal do ET na entrada… Ele estava lá, imóvel e frio. Pensei;
– Bom, raptada pelo ET ela não foi!
Atendi apreensivo.
– Chips, eu estou presa no banheiro… a porta não abre!!!!!!!!
O bichinho da gargalhada fez cócegas, mas me segurei… Com aquele banheiro caixa de fósforo, a coisa podia ser seria. Fui até lá.
– A tranca está emperrada… não consigo abrir –
Eu também. Procurei ajuda do lado de fora, no saguão. Uma mocinha de uniforme azul abriu um disfarçado sorriso mas quando falei que o problema era no banheiro, respondeu secamente;
– Ah, então não é comigo, sou da Trip…
Olhei à minha volta e vi um sujeito com uma vassoura. Pedi socorro e fui para o banheiro. Em menos de um minuto chegaram outros dois serviçais do terminal. Vieram só saber o que estava acontecendo, mas não trouxeram a solução. A mocinha da Trip também chegou, não para ajudar, mas para curiosar. Não é normal aquele tanto de homens entrando no banheiro feminino… Mas ela teve enfim utilidade! Segurou meu filho no colo para que eu subisse no vazo sanitário vizinho para avaliar a situação por cima da baia. Minha filha – devidamente vestida – estava sentada na tampa do vazo, digitando freneticamente seu Ipad, mandando mensagens para as amigas, contando o fato.
Que outra oportunidade ela teria para dizer que ficou presa no banheiro do aeroporto?
Pensei em pular para a baia dela, mas imaginei que quando eu desse o ‘galeio’ para subir, a pedra de mármore inteiriça, colada na parede, não agüentaria meu peso. Seria uma tragédia! Que fazer.
Chegaram outros funcionários do terminal. Todos convergiram para uma única solução: usar uma chave de fenda. Mas como? A fenda da fechadura era do lado de dentro!!! Mais mocinhas da Trip entraram no banheiro.
– Ela vai embarcar no próximo vôo? – Perguntou uma já pensando num possível atraso, coisa tão corriqueira nos grandes aeroportos. Não. Não ia. Fora buscar quem desceria no próximo vôo. Menos mal.
– Nossa, ela está nervosa? – Conjecturou outra visivelmente nervosa.
Nervosa!!! Demais! Ela fazia tudo para segurar o riso enquanto digitava as mensagens para as amigas. A única preocupação era não ter tempo de enviar a todas. Quase torcia para que demorasse a ser ‘libertada do cativeiro do E.T.’…
Já com metade da população do aeroporto no banheiro, inclusive alguns passageiros curiosos, tornei a reavaliar a situação e concluí:
– Vou pular!
Apoiei parte do peso na janela, com muito jeito subi na parede de mármore sem forçá-la, distribui o peso nas duas paredes, orientei minha filha a espremer-se no cantinho atrás do vaso e soltei o corpo. Suspense do lado de fora!!! Principalmente do meu filhinho no colo da mocinha de uniforme azul espremida num canto da parede tentando distraí-lo. Não era falta de praticidade de adolescente ou coisa de loira – nada contra loiras! – A fechadura estava emperrada mesmo. Produto de qualidade duvidosa, desses que na loja custa ‘x’ mas a prefeitura paga ‘x vezes tres’, instalação feita por profissional treinado para virar chaves de fenda e apertar parafusos… Não treinado para pensar! Bastaria uma ligeira lixada no orifício onde entraria a lingüeta da fechadura ou uma gota de lubrificante e todo aquele hilário show poderia ser evitado.
Tive que usar força e jeito com apenas dois dedos para a direita, esquerda e… Tec! A lingüeta escorregou! Liberdade afinal !!! E fim do show… Só faltou os aplausos para o herói!
– Ainda bem que seu filhinho é calmo, né? Ele ficou quietinho no meu colo! – Comentou – agora – com simpatia a mocinha da Trip.
Ele só tem dois anos e quatro meses mas contribuiu com desenvoltura para o resgate da adolescente – morena – no banheiro. Mais tarde, depois da festa com a mãe, contou
com interesse a movimentada operação resgate;
– Imã sozinha banheo, papai ‘pof’, sumiu, abiu pota’, imã saiu… – Disse gesticulando com as duas mãozinhas.
Varginha, ‘naviporto’ de E.T., terceira maior cidade do Sul de Minas, poderia ter um aeroporto de terráqueos melhorzinho…!!! Mas antes que digam, digo eu:
– Pior é Pouso Alegre, que nem vôos tem…!!!
Caramba ainda bem que ela pode contar com um Pai Super Heroi e acostumado com imprevistos piores. Parabens Super Pai e da proxima tera que fazer uma revista nos WC’s da vida.
Valeu Alexandre…
Abraços.