Cachorros & cachorradas

O vira-lata Malhadinho e o saco do dono

       Quando chegou da escola trazendo minha filha, meu caseiro colocou a cara na janela do escritório e sem cerimônia foi informando:

– Abandonaram mais um cachorrinho lá perto da porteira. Cedo quando eu fui para a cidade ele já estava lá… Agora continua no mesmo lugar…

Tirei lentamente os olhos do computador onde tentava escrever “O mistério do Corpo Seco” e antes de virar a cabeça para a janela, o caseiro emendou:

– …E ‘brabo’! Eu tentei chegar perto dele para ver se estava machucado, ele avançou ‘nimim”!

– É. Este pessoal já pegou o jeito, mesmo… Eles sabem que a gente acaba recolhendo os pobres coitados, por isso abandonam justamente no portão da fazenda…

– Mas acho que este não vem pra cá, não. Parece que ele está vigiando alguma coisa la perto da porteira…

– Faz o seguinte, Tadeu… Quantos cachorros tem aqui em casa no momento?

– Ah, contando os pequenos, os quatro que tem lá em casa e os dois filhotinhos da Dominique, são… catorze.

– Então leve comida para ele. Se ele comer e depois te acompanhar, tudo bem, se não acompanhar, amém…

Naquela mesma quarta 6 de abril de 2011, saí para jogar futebol ao pé da noite e lá estava o vira lata malhadinho, deitado de rosquinha num bueiro, um metro fora da estrada, no pasto, sob a galhada rala do frondoso eucalipto. Voltei duas horas depois. O cãozinho continuava fingindo dormir no mesmo lugar. Desci do carro e tentei me aproximar só para ver a reação dele… Levantou-se imediatamente e me desafiou mostrando os dentes. Eu não queria briga. Fui embora. Na manha seguinte desci à pé com um porretinho na mão, preparado para briga, mas duvidando que o vira-lata ainda estivesse lá. De longe o avistei. Estava na beira da estrada olhando atentamente para o morro que levava à cidade. Quando me aproximei ele resmungou e foi se deitar exatamente no lugar que estava na noite anterior. Tentei puxar prosa… ofereci casa, comida e roupa lavada. Ele fitou-me com os olhos compridos, mas nada respondeu. Respeitei seu silencio e mantive distancia. Apoiei um pé na cerca de arame farpado que eu mesmo fizera dois anos antes e fiquei alguns minutos meditando e estudando o comportamento do malhadinho valente de olhar languido. “Nos últimos anos abandonaram dezenas de cachorros neste lugar…” – Pensei. “No mesmo dia eles sobem a alameda e vão parar, com cara de cachorros caídos de mudança, lá em casa, em busca de comida!” “Porque este insiste em ficar aqui?” Me afastei e chamei o cãozinho. Ele se levantou, deu dois passos olhando atentamente para mim… e disse:

 

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