Chiquinho da Borda manda servente matar o filho de 2 meses

O caso aconteceu na semana passada e já ganhou a mídia nacional. Tem menos glamour do que o os maus tratos e lesões corporais praticados pelo comerciante João Dacir Magalhães há três meses, quando enfiou o dedo na garganta do filho, também de dois meses de vida e quebrou-lhe a clavícula, para ver-se livre do seu choro. A menor notoriedade deve-se, talvez, ao fato da iniciativa corajosa da esposa em denunciar as agressões. No caso do bebe atirado ao chão, apesar da mãe não ser conivente, ela parece não ter noção da gravidade do ato do marido. Embora não o defenda, também não demonstra nenhuma indignação com a brutal violência contra seu filho nascido em 06 de dezembro ultimo.

A agressão bárbara ao pequeno Jhonatan Rayan chegou ao conhecimento da policia civil na segunda feira através da Assistente Social do Hospital Regional Samuel Libanio, alarmada com as múltiplas lesões faciais e cranianas constatadas pelos médicos. O bebezinho que dera entrada no pronto socorro ao pé da noite de sexta apresentava escoriações pelo corpo e hematomas no rosto e cabeça além de sangramento nasal estancado e embora respirasse, não respondia a qualquer estimulo nervoso. Estava já com morte cerebral. Aos médicos, os pais Quiterio de Lima e Valquiria da Silva alegaram que a criança havia caído do sofá da sala, cerca de 40 centímetros de altura – movimento voluntário impraticável por um bebê de dois meses, sei-o, de carteirinha – o que não condiz com as lesões constatadas. Aos detetives Balca e Teobaldo e à Delegada substituta de Crimes Contra a Vida, Lucila Vasconcelos, o paraibano Quiterio, servente de pedreiro de 25 anos e pai de outra infante de três anos, repetiu a versão dada aos médicos. Mas ainda na saída do hospital regional onde foram detidos pela dupla “Starsk & Hutch”, Valquiria fez a clássica e denotativa pergunta;

– Eu vou ser presa também?  Já na delegacia de policia, após um interrogatório mais ‘firme e estreito’ e algumas contradições, o pedreiro abriu o verdadeiro livro. Disse que estava sozinho com a criança em casa e se pôs a pensar na vida, nas dificuldades de se criar uma criança, nas privações a que estava sujeito, até que ‘ouviu’ a solução para sua insípida vida. Disse ele aos policiais;

– Antes eu tinha tempo para sair, passear, pensava em comprar uma moto, ou quem sabe um carro, agora não tenho mais condições por causa do bebê… De repente começei ouvir uma voz; “Mate esta criança…mate esta criança…

Quiterio pegou então o baby que estava ao seu lado no sofá e o jogou de costas ao chão. Tomou-o no colo ainda com o ensurdecedor “uééé, uééé´, uééé´, começou a embalá-lo e a voz tornou: “ Mate esta criança…. mate esta criança”. E ele voltou a atirá-la ao chão. Desta vez de bruços. O pequeno Jhonatam esboçou outro tipo de choro, agonizante e perdeu imediatamente os sentidos com o rostinho banhado em sangue. Quiterio levou-o ao banheiro, deu-lhe um banho para limpa-lo e voltou a sentar-se no sofá na companhia da criança que agonizava, agora silenciosa. Uma hora depois sua esposa chegou em casa e ele contou que a criança havia caído do sofá e resolveram então levá-la ao hospital.

Com os indícios do bárbaro crime e a confissão do pai, o delegado Clauber Moura, do 2º Distrito, circunscrição a qual pertence o bairro Jatobá onde ocorreu o crime, pediu e o sempre atencioso e solícito homem da capa preta, Walter Jose Vieira, expediu o mandado de prisão preventiva para o desalmado pai.

Os crimes de estupro, atentado violento ao pudor, crueldade contra crianças e idosos, costumam receber duas penas; a do código penal e as do código dos presos. Ao chegar ao hotel do Juquinha, o endiabrado Quiterio foi rejeitado e escarnecido por todos os presos. Os do ‘convívio’, que se acham mais dignos do que os outros, não o aceitaram com eles. Os do “seguro” considerado inferiores, menos dignos, justamente por crimes desta natureza, por serem caguetas, inadimplentes de drogas ou amigos dos ‘zomi’, também o rejeitaram, pois seriam obrigados pelos do convívio, a matá-lo. Restou ao pai que cumpre ordens do capeta para matar criancinhas, ir se alojar numa cela da enfermaria, onde ora se cala taciturno, ora distribui sorrisos dementes à agentes e funcionários que o fuzilam com os olhos, sem se dar conta de que sua vida está mais tênue e mais frágil do que a do pequeno Jhonatam que ele atirou ao chão.

Antes de concluir o Inquérito Policial inicialmente instaurado para apurar tentativa de homicídio, mas que deve evoluir para homicídio consumado, caso se confirme a morte cerebral do pequeno baby, o delegado Clauber Moura deverá fazer um levantamento da vida pregressa do pedreiro junto à comunidade em que ele vivia, no bairro Jatobá, para apurar como era seu relacionamento e comportamento com os filhos, esposa e vizinhança. “Direto da Policia” se antecipou. Na terça fui ao local do crime e conversei com vários vizinhos do casal de nordestinos – ele paraibano, ela pernambucana – na Rua das Quaresmeiras, onde moram com simplicidade há poucos meses. Segundo moradores do local, era um casal comum, discreto, sem alardes. Nunca ouviram nenhuma bulha vinda da casinha simples, que pudesse prenunciar o hediondo crime. A policia não encontrará nenhum antecedente sócio-familiar que justifique ou explique a atitude do servente de pedreiro.

A medica Tatiana Telles e Koeler de Matos e qualquer psiquiatra, forense ou não, encontrou. Graduada em pela Univas, pós-graduada em Impactos da Violência na Saúde, pela Fiocruz, Pós-graduada em Saúde da Família pela UFMG e pesquisadora de tudo que se relaciona a crimes, comportamento criminoso e suas causas, há quatro anos atendendo presos dentro e fora dos presídios – levada por mim para trabalhar voluntariamente no Hotel Recanto das Margaridas em Santa Rita do Sapucaí há quatro anos e há um ano trabalhando concursada no Hotel do Juquinha – Tatiana analisou o caso do servente desalmado.

– Quiterio pode sofrer de esquizofrenia, doença que advém da somatória de dois fatores: orgânico, que pode se manifestar a qualquer momento independentemente de causa e o ambiental, que pode se manifestar num momento de stress, como por exemplo, dificuldade financeira, choro da criança, etc. E não tem cura, mas tem controle, aliás, relativamente fácil, com uso continuo de anti-psicóticos neurolepticos e terapia.” – Não confundir psicóticos com psicopatas, que é o caso do João Dacir Magalhães, aquele que quebrou a clavícula do filho e enfiou brutalmente o dedo na sua garganta e foi denunciado pela esposa e aguarda sua dura sentença num presídio qualquer do Estado. Ele pode ser chamado de psicopata; não tem cura e nem controle, age consciente e calculadamente com frieza, buscando um resultado final. O ‘psicótico’ do Quiterio seria o de neurose, loucura. A esquizofrenia normalmente se manifesta depois dos 10 anos de idade e antes do 50 – Ufa, estou livre dela… já dobrei o Cabo da Boa esperança – se manifesta geralmente num momento de stress e provoca alucinação auditiva e ou visual. O servente do Jatobá teve uma alucinação auditiva – “….mate esta criança” – quando refletia sobre sua vida e as agruras e privações de pai de família, sem profissão qualificada, tendo que sustentar esposa e dois filhos com os parcos salários de servente e um calor de trinta e tantos graus à sombra e atendeu a ordem do capeta – também já estive investigando, não foi o ‘Chiquinho da Borda’ – atirou o bebezinho indefeso ao chão para ver-se livre dele.

A jovem medica ilustra o assunto contando o caso de outro homicida, que atendeu e ‘curou’ no ano passado no Hotel do Juquinha. Dono de uma respeitável ‘capivara’ com infrações a vários artigos do código penal, este matou a tiros um desafeto no aterrado e dobrou a serra do cajuru. Foi esconder e bronzear sua cara de mau e o enorme corpanzil numa praia de Ubatuba. Semanas depois ele apareceu na delegacia de policia dizendo que estava sendo perseguido pelo morto.

– Ele estava tendo alucinações auditivas e visuais –  Conta a medica. Ora se recolhia num mutismo amedrontador, ora se encolhia e choramingava com medo das ameaças do ‘fantasma’ de sua vitima que a todo custo queria abraçá-lo. Numa tentativa de trazê-lo à realidade pela força, um agente penitenciário, coincidentemente um amigo de infância, foi duramente espancado por ele na enfermaria.  Depois deste fato ele se recolheu numa greve de fome e somente aceitava o bandeco das mãos do mesmo agente que ele havia agredido. Era o único cujo rosto não lhe parecia um fantasma.

Sem se comunicar verbalmente, a muito custo ele respondeu à medica com gestos de cabeça de sim e não e admitiu que estava ‘vendo coisas’ que o incomodava. Ela o convenceu a tomar um medicamento que iria mandar as ‘coisas’ embora. O homicida foi tratado com neurolépticos prescritos inicialmente por ela e continuou o tratamento com o psiquiatra. Hoje está tão lúcido quanto eu e você …. e se arrepende amargamente, não do crime que cometeu, mas de ter ido à delegacia se entregar. Se puder, ele galga os muros do Hotel do Juquinha e dobra a serra do cajuru como um mortal comum… mas o bichinho da esquizofrenia continua, lá, incipiente, nos braços de Morfeu. Se parar de tomar o comprimidinho de nome difícil os fantasmas voltam …

O homicida matou o mecânico e depois teve alucinação. Quiterio teve alucinação e jogou o filho ao chão. Fora esta diferença, a situação do servente paraibano do Jatobá é semelhante. Ele cometeu o crime num momento de alucinação auditiva e como todo doente desta natureza, alterna momentos de lucidez e alucinação. Já sob efeito de medicação, nos momentos de lucidez, ele se acanha, se retrai e se diz arrependido do que fez. Começa entrar em depressão.

A confirmar o que você está lendo, Quiterio Lima, o homem que obedeceu ao “Chiquinho do Jatobá” deverá passar entre doze e trinta anos no manicômio judicial Jorge Vaz, em Barbacena. Isso, se sobreviver ao ‘Código’ dos demais hospedes do Hotel do Juquinha e…. aos seus próprios fantasmas.

Semana passada soube que Quiterio foi pronunciado pelo Ministério Publico por homicídio doloso. Enquanto aguarda o momento de sentar-se no Banco dos Réus ele antecipa o cumprimento da  pena – física –  na Penitenciaria de Neves, na região Metropolitana da capital.

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